Queimadas neste ano são as maiores em uma década
Foto: GUSTAVO BASSO/NURPHOTO VIA GETTY IMAGES
As chamas no Pantanal e na Amazônia, que deixam o mundo com olhos voltados para o Brasil, são parte de um triste cenário que coloca 2020 como um dos piores anos quando se avalia a capacidade do país de reagir às queimadas e à devastação das florestas.
Para se ter dimensão de como a destruição de matas e florestas está acelerada em 2020, os focos de incêndio registrados nos nove primeiros meses são os maiores em 10 anos.
Até o início de outubro, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 175.671 focos de calor em todos os biomas brasileiros. O índice é o maior desde 2010, quando foram notificados 257.100 focos no mesmo período.
Os dados fazem parte de um cruzamento do Metrópoles, baseado em estatísticas produzidas e divulgadas pelo Inpe, órgão do governo federal que monitora as queimadas e a devastação das florestas brasileiras.
Até o momento, os biomas mais castigados pelo fogo são a Amazônia (80.221 focos), o Cerrado (53.134), o Pantanal (19.215) e a Mata Atlântica (15.295). Somente a Amazônia e o Cerrado representam 75,9% de todas as queimadas monitoradas pelo Inpe.
A forma como o governo brasileiro trata a preservação do meio ambiente e as soluções da atenuar os impactos das queimas são alvo de críticas de ambientalistas, ativistas e até mesmo da comunidade internacional. A preocupação atinge a economia brasileira, que pode ser afetada se as queimadas reduzirem os investimentos no país.
Os municípios mais afetados estão em Mato Grosso do Sul, Pará e Mato Grosso. A líder do ranking é Corumbá (MS), cidade de pouco mais de 112 mil habitantes. Lá, ocorreram 7.141 incêndios.
Em segundo lugar, aparece São Félix do Xingu (PA). O município de 132 mil moradores registrou 4.897 queimadas. Próximo do índice, a também paraense Altamira notificou 4.604 focos.
Veja a lista dos 10 municípios com mais registros de incêndios:
Corumbá (MS) – 7.141
São Félix Do Xingu (PA) – 4,897
Altamira (PA) – 4.604
Poconé (MT) – 4.601
Barão de Melgaço (MT) – 3.647
Porto Velho (RO) – 2.897
Apuí (AM) – 2.715
Cáceres (MT) – 2.307
Novo Progresso (PA) – 2.307
Lábrea (AM) – 2.119
Fonte: Inpe
O especialista Donald Sawyer, do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), explica que as queimadas trazem um problema generalizado de cunho ambiental, social e econômico.
“É um problema que afeta todo mundo e precisa de respostas mais adequadas. A questão é deixar para tentar combater o fogo, o que é extremamente difícil. O melhor caminho é a prevenção, por exemplo, com manejo integrado do fogo”, defende.
Ele alerta para problemas posteriores às queimadas. “Isso piora os ciclos hidrológicos. A cobertura vegetal é fundamental para manter esses ciclos, sem ela a seca aumenta. O Cerrado é um elo fundamental para manter isso. O desmatamento pode ter consequências gravíssimas para a água para consumo, agropecuária e geração de energia elétrica”, conclui.
A reportagem questionou o Ministério do Meio Ambiente sobre o que a pasta tem feito para atenuar as queimadas, quanto foi investido no combate ao fogo, o que explica esse volume de focos de queimadas e qual a avaliação do governo sobre esse cenário.
A pasta não comentou. O Metrópoles também pediu uma entrevista com o ministro Ricardo Salles para repercutir o assunto, mas não obteve resposta. O espaço continua aberto manifestações.