Série da Globo sobre pandemia é muito óbvia

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Foto: Plantão Covid’ Globo/Divulgação

O ano de 2020 tem sido, no mínimo, traumático. A pandemia da Covid-19 transformou cotidianos ao redor do planeta, trouxe dor, luto, discórdia e perplexidade. Na tradicional retrospectiva de fim de ano, exibida pelos canais de TV, algumas cenas são facilmente esperadas. Como os rostos de médicos marcados pelo cansaço, tristeza e o uso de aparatos de segurança. Pacientes intubados, famílias que se despedem, e curados aplaudidos na saída do hospital com a plaquinha “eu venci a Covid-19”.

Tais cenas, que infelizmente já se tornaram clichês de tão abundantes, conduzem o especial da Globo Sob Pressão – Plantão Covid, que exibiu seu primeiro episódio na noite de terça-feira, 6 — um segundo capítulo será transmitido na terça da próxima semana, no dia 13.

Em um hospital de campanha cenográfico, os médicos Evandro (Julio Andrade), Carolina (Marjorie Estiano) e companhia se desdobram para lidar com a crise. Estão representados ali o estresse e a aflição da rotina de correria e perdas; a falta de respiradores; os erros (ou a corrupção) de governos que “somem” com a aparelhagem necessária; o impasse entre escolher ou não passar na frente os pacientes com mais chance de sobreviver. A arte imita a vida. Mas a vida tem se transformado com tanta rapidez que a arte, neste caso, se resignou ao papel de reprise — e toda reprise, mesmo bem feita, encara dificuldades para provocar as mesmas emoções do original.

Quem assistiu ao noticiário ou acompanhou vídeos pelas redes sociais nos últimos meses viu à exaustão os dilemas apresentados na série. Assim, Sob Pressão ficou com cara de documentário de ritmo acelerado, sem dar ao espectador a chance de se conectar melhor com os novos personagens — uma característica que a série, em seu ritmo normal, costuma fazer bem. Já próximo do final, uma virada salvou o episódio. Marjorie Estiano, um estouro em cena, surge exausta, suada, com o rosto machucado pelos óculos de proteção e pela máscara, e lágrimas nos olhos após um médico ser intubado. Ela precisa tirar foto para o novo crachá de tamanho especial (usado nos hospitais para que o paciente veja o rosto do profissional). Em alguns segundos, a atriz resumiu sem palavras, mas com muita carga dramática o que o episódio inteiro se esforçou para passar: a pandemia não acabou e, para muitos, especialmente para os profissionais da saúde, suas marcas talvez sejam permanentes.

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