Trump oferece até dinheiro ao Brasil para tirar 5G da China
Foto: Michele Tantussi / Reuters
Em meio às tratativas da delegação dos Estados Unidos no Brasil para fechar um acordo de facilitação do comércio entre os dois países, o governo americano sinalizou também que está disposto a investir para que operadoras de telecomunicações brasileiras não comprem equipamentos de empresas chinesas.
O presidente Jair Bolsonaro estuda se irá banir a chinesa Huawei de fornecer equipamentos para a rede 5G, cujo leilão entre as operadoras deve ocorrer no segundo semestre de 2021. Nos Estados Unidos, a Huawei é proibida de operar. No Brasil, por outro lado, a maioria das teles usa equipamentos da empresa em suas respectivas redes.
A Corporação Financeira dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional se ofereceu para subsidiar, no Brasil, a compra de equipamentos de concorrentes da Huawei, como as europeias Ericsson e Nokia. A justificativa é a preocupação com a segurança dos dados.
A estratégia faz parte de um esforço para demonstrar que os Estados Unidos estão abertos a investir no Brasil. A Corporação Financeira dos EUA assinou, nesta viagem pelo Brasil, uma carta de intenções de ampliar seus investimentos em R$ 3,1 bilhões no país, incluindo um aporte no banco BTG Pactual e um investimento em iluminação pública.
— Nós acreditamos muito na soberania do Brasil. Essa é uma opção de vocês. Há muitos fornecedores de 5G fora dos Estados Unidos — disse Kimberly Reed, presidente do conselho de administração do Banco de Exportação-Importação dos EUA. — Temos parceiros na tecnologia 5G e vamos apoiar se essa for a escolha que o Brasil tomar.
Joshua Hodges, diretor para o Hemisfério Ocidental no Conselho de Segurança Nacional, participou também de conversa com jornalistas na manhã desta terça-feira. Segundo ele, há um “mal-entendido”de que não há opções aos fornecedores chineses, o que não é verdade.
Ele diz que, ao contrário do que faz a China, a oferta dos americanos de financiar projetos no Brasil não é “diplomacia predatória”.
— Há concorrentes lá fora, há opções. É importante ter transparência dessas informaçõés, e a China e a Huawei não apoiam (a transparência). A preocupação dos Estados Unidos é que eles usam dados e tecnologia para o benefício do Estado e não dos invidivíduos.
Os representantes do governo americano não definiram um valor limite para esses investimentos, limitando-se a dizer que o portfólio da Corporação Financeira — de US$ 60 bilhões — e do Banco de Importação e Exportação — de US$ 135 bilhões — estão abertos para financiar a aquisição de equipamentos de telecomunicações de empresas confiáveis.
Os investimentos não são necessariamente para a rede 5G. O governo americano também sinalizou que estaria aberto a subsidiar a troca dos equipamentos chineses usados hoje pelas teles brasileiras por peças de outros fornecedores.
A Huawei nega que exista qualquer risco de espionagem do governo chinês através de seus equipamentos ou que ceda dados de usuários, como alega o presidente dos EUA Donald Trump.
A pressão dos Estados Unidos contra a Huawei em países aliados já fez com que o Reino Unido anunciasse, em julho, que irá banir a empresa dos fornecedores do 5G.
Em julho, o embaixador dos Estados Unidos, Todd Chapman, disse que “haverá consequências” para o Brasil caso o país permita que a gigante chinesa forneça para a rede 5G. Ele sugeriu que empresas americanas poderiam deixar de investir no Brasil, por temer que seus segredos de propriedade intelectual não estejam protegidos.