Biografia de Bethoven sofre reviravolta

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Foto: Reprodução

Quando Beethoven completou sua Nona Sinfonia, já não apresentava uma obra nova importante havia dez anos. Naquela altura, estava quase completamente surdo e muitos pensavam que tinha ficado louco. Os vienenses haviam se encantado pela ópera italiana, e o compositor de 53 anos temia ter saído de moda definitivamente. Ainda assim, queria mostrar ao mundo que Beethoven ainda era Beethoven.

Ele planejou um concerto no prestigiado Theatre am Kärntnertor, mas primeiro precisava obter a aprovação de seu temperamental gerente, Louis Antoine Duport. O violinista Ignaz Schuppanzigh alertou Beethoven que Duport precisava ser tratado “com muita gentileza e cortesia” ou poderia “tornar tudo um inferno”. Mas foi Duport quem finalmente fez o evento acontecer. Sem sua ajuda nos bastidores, a sinfonia final de Beethoven poderia nunca ter entrado para a história, em 7 de maio de 1824.

Duport é normalmente identificado apenas como um ex-bailarino, mas era o Nureyev de sua época — famoso pelos saltos, trabalho de pés deslumbrante e habilidade de fazer pirueta 50 vezes em uma perna. Ele se especializou no papel de Zephyr, o vento oeste, no qual voava pelo palco suspenso por fios.

Nascido em Paris, em 1781, era filho de Joseph Robert Duport, um escultor, e Maria Desseule. Ele tinha uma irmã, também uma dançarina famosa, e pelo menos outros dois irmãos. Pouco mais se sabe sobre sua juventude, até sua repentina aparição como solista na Ópera de Paris, em 14 de março de 1797.

Mas, pesquisando as origens do balé na América, a historiadora Lillian Moore descobriu um garoto prodígio chamado Louis Duport, que chegou à Filadélfia em 1790. O menino de 9 anos veio com Pierre Landrin, mestre de dança na Ópera de Paris, que teria sido professor de música e dança dos filhos de Maria Antonieta.

Morando em Charleston, Carolina do Sul, Louis ganhou destaque como um dos melhores jovens dançarinos da América. Mas, após uma apresentação em Savannah, Geórgia, em 19 de agosto de 1796, desapareceu. Este seria o mesmo Louis Antoine Duport que fez sua estreia na Ópera de Paris sete meses depois? Não está claro, embora eles compartilhem o mesmo nome, ano de nascimento e estilo de performance.

Personagem de ‘Guerra e Paz’
O certo é que, em 1804, Duport desafiou Auguste Vestris, então o bailarino mais famoso da Europa, para um concurso de piruetas e jetés-battus. (Vestris era 20 anos mais velho, e os críticos generosamente consideraram o resultado um empate.) Duport então começou a coreografar balés com a intenção de depor o estimado mestre Pierre Gardel da Ópera.

Napoleão admirava Duport, mas estava cada vez mais indignado com seu comportamento imperioso e exigências salariais — com apenas 26 anos, ele havia convencido a administração da Ópera a pagar-lhe a mesma quantia que o eminente Vestris. Em 1808, sob o risco de ser preso, Duport fugiu de Paris acompanhado de uma estrela da Comédie Française que era também ex-amante de Napoleão. Acabou em São Petersburgo, onde era tão popular que Tolstói mais tarde o mencionaria em “Guerra e Paz”.

Em 1812, Duport se tornou mestre de balé no Kärntnertor, em Viena, coreografando a primeira adaptação de “Cinderela”, de Charles Perrault. Após se casar com sua bailarina favorita, passou a se apresentar em Munique, Londres e Itália, atuando em vários balés que lhe permitiram dançar Zephyr, seu papel principal.

No Teatro di San Carlo, em Nápoles, conheceu o extravagante empresário Domenico Barbaja, que estava ansioso para levar o compositor Gioachino Rossini para Viena. Assumindo o aluguel do Kärntnertor, Barbaja pediu a Duport que ajudasse a administrá-lo. Quando Rossini e sua nova noiva, a diva Isabella Colbran, chegaram à cidade em 1822, foram recebidos com um entusiasmo que beirava a idolatria.

Em fevereiro de 1824, Beethoven tinha finalizado tanto a Nona Sinfonia quanto sua “Missa Solemnis”. Há algum tempo ele queria musicar a “Ode à alegria”, de Schiller, e incorporou seu apelo à paz e à união no final da sinfonia. Dada a popularidade da ópera italiana em Viena, no entanto, ele brincou com a ideia de apresentar a obra em outro lugar. Mas diante de um abaixo-assinado de 30 amigos e amantes da música, começou a procurar um teatro na cidade.

O Theatre am Kärntnertor foi sua primeira escolha. Um dos dois teatros imperiais em Viena, hoje é ocupado pelo Hotel Sacher. O irmão de Beethoven, Johann, se encontrou com Duport em março. O diretor do teatro foi receptivo, mas avisou que a apresentação precisaria da permissão de Hofmusikgraf, o oficial responsável pela música nos teatros da corte.

O secretário de Beethoven, Anton Schindler, também começou a negociar secretamente com o suburbano Theater an der Wien. Falava-se do Burgtheater, que era a outra casa imperial, e do pequeno Landständischer Saal como alternativas.

No final de março, Schindler visitou Duport para solicitar o Grande Salão de Hofburg, ou Palácio Imperial, para um segundo concerto de Beethoven — esta sala também estava sob a administração de Barbaja. Como os planos ainda não haviam sido finalizados para o primeiro concerto, Duport pode ter ficado confuso, mas concordou.

O momento era difícil para Duport. Barbaja estava em Nápoles sob prisão domiciliar, acusado de tentar incendiar o Teatro di San Carlo para ocultar irregularidades contábeis. Ele acabou sendo exonerado, mas Duport, que havia passado o ano anterior em Karlsbad cuidando de uma doença desconhecida, estava sem dúvida distraído.

A Nona exigia uma orquestra de 82 músicos e 80 cantores, números impressionantes para a época e mais do que o dobro do que Duport poderia oferecer. Como resultado, Beethoven teve de complementar a orquestra com amadores da Gesellschaft der Musikfreunde.

E como o compositor queria todos em cima do palco, Duport precisou aprovar a construção de andaimes e degraus. Os cantores solo reclamaram que as notas altas estavam fora de seu alcance. Os censores do governo interferiram nos trechos planejados da “Missa Solemnis”. Beethoven queria abrir a apresentação com sua “Consagração da Casa”, mas não conseguiu encontrar a partitura.

A uma semana do concerto, Duport ainda não tinha assinado um contrato formal com Beethoven e um dos amigos do compositor sugeriu denunciar o gerente ao comissário de polícia. Mas, na noite de 7 de maio, uma grande multidão começou a lotar no teatro de mil lugares. Embora Beethoven tivesse entregue convites em mãos aos membros da corte, o camarote imperial estava vazio; a nobreza já havia saído da cidade para o verão. Com apenas dois ensaios completos e pouco tempo para estudar a partitura, o maestro Michael Umlauf (com Beethoven ao seu lado) fez o sinal da cruz antes de começar.

O concerto ficou longe de ser perfeito e recebeu críticas mistas, mas o público percebeu que tinha ouvido algo único. A resposta às vezes era arrebatadora; as pessoas aplaudiram e gritaram tão alto que um policial pediu silêncio.

Os números das bilheterias, porém, foram menores do que o esperado. De acordo com Schindler, quando Beethoven os viu, ele caiu no chão e acusou Duport de tê-lo enganado.

Ainda assim, Duport manteve sua palavra e prosseguiu com o segundo concerto em 23 de maio, insistindo apenas que uma ária de Rossini fosse substituída por uma das seções “Missa Solemnis”. Era uma tarde ensolarada de domingo e o salão ficou pela metade. Duport perdeu dinheiro, mas garantiu que Beethoven recebesse todos os honorários.

Duport acabou assumindo o arrendamento do Kärntnertor, administrando-o até 1836, quando se aposentou em Paris. Ele morreu em 1853 e foi enterrado no Père Lachaise, onde sua lápide é decorada com duas mulheres nuas, uma aparentando ter asas. Poucos que passam pelo monumento provavelmente percebem que ele estava entre os maiores bailarinos de sua geração. Ou que ele desempenhou um papel importante em apresentar a Nona Sinfonia de Beethoven para o mundo.

Mas sempre que vozes se levantam para cantar “Ode à Alegria”, devemos agradecer a “Zephyr”.

O Globo 

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