2020 teve recorde histórico de ataques à imprensa
Foto: Ueslei Marcelino/Reuters
O ano de 2020 registrou 428 casos de ataques à liberdade de imprensa, de acordo com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Foi o ano mais violento desde o início do levantamento na década de 1990, de acordo com o relatório Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, publicado nesta terça (26).
De 2019 para 2020, o número dobrou. Eram 208 ocorrências, o que representa um aumento de 105%.
“A explosão de casos está associada à sistemática ação do presidente da República, Jair Bolsonaro, para descredibilizar a imprensa e à ação de seus apoiadores contra veículos de comunicação social e contra os jornalistas. Ela começou em 2019 e agravou-se em 2020, quando a cobertura jornalística da pandemia provocada pelo novo coronavírus foi pretexto para dezenas de ataques do presidente e dos que o seguiram na negação da crise sanitária”.
O levantamento mostra que Bolsonaro foi responsável por 175 casos, o que corresponde a cerca de 41% dos ataques. Ele cometeu, segundo a Fenaj, 145 casos de descredibilização da imprensa, 26 agressões verbais, duas ameaças diretas e dois ataques à Fenaj.
Tanto em 2019, quanto em 2020 houve dois assassinatos e dois casos de racismo. O relatório afirma que “o registro de duas mortes de jornalistas, por dois anos seguidos, é evidência concreta de que há insegurança” para o exercício profissional.
Os jornalistas assassinados foram Léo Veras, que denunciava o crime organizado na fronteira com o Paraguai, e Edney Neves, que trabalhava na campanha à reeleição da Prefeitura de Peixoto de Azevedo, no Mato Grosso, e relatou que recebia ameaças.
Distribuição por casos:
Assassinatos – 2
Agressões físicas – 32
Agressões verbais/virtuais – 76
Ameaças/intimidações – 34
Ataques cibernéticos – 34
Atentado – 1
Censuras – 85
Cerceamentos à liberdade de expressão por meio de ações judiciais – 16
Descredibilização da imprensa – 152
Impedimentos ao exercício profissional – 14
Injúrias raciais/racismo – 2
Sequestro/cárcere privado – 2
Violência contra a organização dos trabalhadores/sindical – 6
O relatório destaca ainda o aumento de censura (750%) e de agressões verbais/ataques virtuais (280%) de um ano para o outro. Estas, segundo o levantamento, cresceram com o incentivo do presidente.
“Jornalistas passaram a ser agredidos por populares nas ruas e os ataques virtuais, por meio de redes sociais e aplicativos de mensagens, tornaram-se comuns. Apesar do aumento significativo, é muito provável que ainda haja subnotificação dos casos, porque muitos profissionais não chegam a denunciar o ataque sofrido”, diz o relatório.
O Sudeste é a região com mais casos de violência direta ontra jornalistas, mas o Centro-Oeste registra o maior número de atentados à liberdade de imprensa.
A unidade federativa com números mais altos é o Distrito Federal, que contabilizou as censuras na Empresa Brasil de Comunicação (EBC), já que é o local da empresa.
Segundo o relatório, manteve-se a prevalência de agressões a jornalistas do sexo masculino. Entre as mulheres que foram vítimas de cerceamento à liberdade de impressão, 64 sofreram algum tipo de agressão.
Em alguns casos, a identificação de gênero não é realizada por se tratar de ataques como a descredibilização da imprensa.
Os jornalistas televisivos são os mais atingidos pelas agressões diretas. A EBC (que inclui veículos como TV, rádio, site e agência de notícias) foi contabilizada separadamente e ficou em segundo, seguida dos jornalistas que trabalham em portais (mídia digital).
O relatório mostra que o principal autor de ataques foi o presidente Jair Bolsonaro. Depois dele, servidores públicos foram os que mais atacaram. Em terceiro estão os políticos — Bolsonaro foi excluído desta categoria por ser o líder em ataques.
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