Brasil sofre fuga de dólares
Foto: Fabio Motta / Agência O Globo
A saída líquida de dólares do país chegou a US$ 28 bilhões em 2020, segundo maior registro da série histórica do Banco Central (BC), que começou em 1982.
O resultado, que é a diferença entre o montante de moeda americana que entra no país e o que é retirado, ajuda a explicar a valorização do dólar ao longo de 2020.
O registro de 2020 é apenas menor do que o de 2019, quando US$ 44,8 bilhões deixaram o Brasil. Com isso, em apenas dois anos, US$ 72,7 bilhões saíram do país, conforme divulgado nesta quarta pelo BC.
A entrada de dólares acontece quando investidores colocam dinheiro no país para fazer investimentos financeiros ou em empresas, ou quando compradores de produtos exportados pelo Brasil pagam por eles no exterior e os recursos são trazidos para o país exportadores.
Já a saída de dólares acontece por conta do pagamento de importações ou de investimentos de empresas brasileiras no exterior. Também entra na conta o que brasileiros gastam em turismo no estrangeiro.
O recorde explica, em parte, a alta de 29,37% do dólar registrada em 2020. Com menor quantidade de moeda americana no país, ela passa a ficar mais cara por conta do equilíbrio entre oferta e demanda.
O assunto já foi tratado pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. No fim de 2020, ele explicava que a desvalorização do real ao longo do ano aconteceu em três fases.
A primeira fase começou quando as empresas decidiram trocar dívida em moeda estrangeira por dívida interna por causa dos juros mais baixos no país.
Isso fez com que esse devedor comprasse dólares para pagar a dívida no exterior e, com isso, pressionasse o valor do real por meio do aumento da procura pela divisa americana.
Em um segundo momento, o real desvalorizou junto com uma série de outras moedas de países emergentes devido à crise causada pela pandemia.
Em uma situação de incerteza, os investidores preferem alocar seus recursos em países vistos como mais estáveis e seguros, como os EUA, e isso causa uma “fuga de dólares” de economias emergentes como a do Brasil.
Em terceiro, a situação fiscal do país. Durante a pandemia, o governo precisou aumentar seus gastos e consequentemente sua dívida para fazer frente aos efeitos da crise.
Isso causou uma incerteza para a trajetória das contas públicas, principalmente para o pós-crise, o que costuma afugentar os investidores.
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