Explode número de ambulantes em SP

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Foto: Reprodução/ CDL

Margarida Ramos vende fantasias infantis no Centro de São Paulo. Aos 52 anos, apesar da pandemia e dos riscos de contágio, continua montando sua barraca em uma das regiões mais tradicionais do comércio ambulante da capital paulista. Nas últimas semanas de 2020, às vésperas do Natal, imagens da Rua 25 de Março ou do Brás, áreas de comércio popular da cidade, eram o retrato de tudo o que não deveria haver em meio à crise sanitária: muita gente aglomerada e sem máscara.

Mas, segundo Margarida, apesar do surpreendente burburinho documentado em plena pandemia, o resultado no seu caixa ao fim de cada dia tem sido decepcionante. Os consumidores estão com o dinheiro contado, e a concorrência é cada vez maior.

Margarida faz parte de um grupo de milhares de pessoas que estão entre os mais afetados pelos efeitos econômicos da pandemia: trabalhadores informais que atuam nas ruas como camelôs e ambulantes. Sem direitos trabalhistas e, desde anteontem, sem contar com o auxílio emergencial, dependem do vaivém de pessoas para pagar as contas.

Enquanto o governo não conseguir efetivar a vacinação e não forem retomados eventos, o potencial das ruas para os ambulantes continuará limitado.

Em 2020, shows foram cancelados, e os estádios de futebol ficaram vazios. São oportunidades perdidas para ambulantes. Em São Paulo, a Parada Gay, a Virada Cultural e a Marcha para Jesus, eventos que costumam reunir centenas de milhares de pessoas nas ruas, também não aconteceram.

Com isso, quem dependia deles para sobreviver se viu forçado a buscar alternativas. Quem não conseguiu o auxílio emergencial ou não podia viver só dele tende a se aglomerar em ruas onde a movimentação ainda é grande, como as do centro de São Paulo. Com isso, a disputa por espaço e clientes aumentou.

O cenário para 2021 é mais desafiador. Segundo o IBGE, o desemprego atingiu mais de 14 milhões de pessoas no país no fim do ano passado. De acordo com o instituto, cerca de 1,3 milhão de pessoas passou a buscar trabalho só entre julho e setembro.

O número foi maior que o de novos postos de trabalho gerados na lenta recuperação da economia. Por isso a taxa de desemprego continua elevada, tendo registrado no trimestre encerrado em outubro o primeiro recuo, de 14,6% para 14,3%.

Enquanto não consegue emprego, muita gente opta pelo comércio informal. Na capital paulista, a grande maioria dos ambulantes faz parte do “corre”: atua nas ruas mesmo sem uma permissão do município. Segundo a Prefeitura de São Paulo, foram regularizados 17 mil trabalhadores das ruas desde 2019 com a introdução do Programa Tô Legal.

Mas lideranças da categoria ouvidas pelo GLOBO estimam que o número de ambulantes nas ruas da cidade seja muito maior, próximo de 80 mil. A legalização exige o pagamento de taxas pelo Termo de Permissão de Uso (TPU), que permite a instalação de uma barraca sem temer o “rapa”, como os ambulantes identificam os policiais e guardas que coíbem o comércio ilegal.

Apenas na capital, há cerca de 1,1 milhão de pessoas sem emprego, segundo dados divulgados pela Seade, órgão de estatísticas do governo do estado de São Paulo, no último dia 14. Aposentada, Valdina Silva não entra nessa estatística por receber mensalmente um benefício previdenciário no valor de um salário mínimo.

Mas isso não é suficiente para seu sustento, e ela também é vendedora ambulante. Está sempre de olho em grandes eventos, como a Virada Cultural e a Parada Gay, para vender bebidas. Em 2020, teve de buscar alternativas para complementar sua renda vendendo açaí, suco, água e refrigerante nas ruas da cidade.

— Para nós foi muito difícil, e ainda está sendo. Contávamos com a Marcha, a Parada, a Virada, e, pelo jeito, vai continuar ruim — diz Valdina, presidente da Associação Jaciara, que reúne ambulantes do Centro de São Paulo.

Sem grandes eventos, muitos trabalhadores informais passaram a disputar espaço com os ambulantes que têm ponto fixo, como os do Centro. Segundo Margarida, que trabalha na região central paulistana, nessa situação colocar em prática o distanciamento social ficou difícil:

— Por mais que use máscara e álcool em gel, o distanciamento é impossível. Acho que só dá para quem tem condições melhores de vida. Para nós que trabalhamos como camelô, não tem como se manter fazendo distanciamento.

De acordo com Margarida, boa parte das aglomerações mostradas pelas câmeras de televisão nas últimas semanas de 2020 não foi causada tanto pelo volume de clientes, e sim pelo maior número de vendedores nas ruas. Muita gente que antes vendia milho ou refrigerante na porta de estádios ou de shows agora oferece produtos como brinquedos e roupas em áreas de comércio popular.

Além do risco de pegar a Covid-19, contrariando as recomendações dos especialistas em saúde pública, essas pessoas tiveram que enfrentar a postura mais rígida de policiais e guardas metropolitanos, segundo seus próprios relatos.

— Ainda há a violência física e psicológica do “rapa”. Tive mães e pais me ligando toda hora dizendo que não tinham nada para comer, que o “rapa” levou a mercadoria e que não tinham dinheiro para comprar outra — conta Valdina.

Assim como em outras áreas, a Covid-19 evidenciou as desigualdades de gênero entre os ambulantes. Valdina acredita que a maioria é de mulheres que são chefes de família.

Com a chegada do novo coronavírus, a maioria ficou numa situação de difícil solução: filhos em casa, sem aulas, e a dificuldade de trabalhar nas ruas. Com a queda na renda, diz, muita gente não conseguiu pagar aluguel:

— Há muitos trabalhadores sendo despejados, indo morar na rua com as famílias. A cesta básica aumentou demais. No Natal, muitos companheiros não tinham nem o que comer, viveram de solidariedade.

Além do aumento do desemprego, outro fator que aflige a categoria é o fim do auxílio emergencial. Segundo Valdina, na pandemia a Prefeitura de São Paulo fez apenas uma distribuição de cestas básicas para os ambulantes, em agosto. Foram cerca de 3 mil cestas, divididas entre 12 organizações.

Ela se queixa de que o número foi insuficiente, além de a entrega ter ocorrido muito depois do início da quarentena, em março.

Para ela, foi a necessidade que levou muitos de volta às ruas antes do que seria recomendado pelas autoridades sanitárias — o plano de flexibilização da prefeitura permitiu a volta dos ambulantes em junho. Agora, prevê Valdina, ainda mais gente irá para as ruas tentar ganhar a vida.

O Globo

 

 

 

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