Metade das mulheres que receberam auxílio não têm Bolsa Família

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Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo

Pouco antes de começar a pandemia, em fevereiro do ano passado, Giselle de Souza, de 27 anos, foi dispensada do emprego sem carteira em que trabalhava como vendedora três vezes na semana. Mãe de dois filhos, ela usava parte do salário para pagar uma babá, que ficava com as crianças enquanto ela trabalhava, de dia, e estudava à noite.

Mas, desde que a renda cessou e a pandemia se instalou, a escola dos filhos fechou e o emprego sumiu.

— Sempre que tentava o Bolsa Família, faltava algum documento ou algo dava errado. O auxílio foi de grande ajuda. Por mais que as crianças tenham pai, elas só têm a mim para pôr comida dentro de casa. Não consigo emprego e preciso de alguém para ficar com eles para sair em busca de serviço. Fico pensando: quando as coisas vão melhorar? E não sei — lamenta a moradora de Duque de Caxias, que tem uma filha de 9 anos e um filho de 7.

Giselle está entre as mais de onze milhões de brasileiras com filhos que receberam o auxílio emergencial dobrado — que começou em R$ 1.200 e foi reduzido de setembro a dezembro para R$ 600, quando o benefício foi encerrado.

As mães solo representam uma parcela expressiva dos 68 milhões que receberam o benefício: elas são as responsáveis pelo sustento da família, mas não têm emprego com carteira e vivem em situação de vulnerabilidade social.

Além de sofrerem resistência maior para serem contratadas pelas empresas, elas lidam com o cenário de creches e escolas fechadas. Além disso, as vagas escassearam com o impacto da pandemia no setor de serviços.

— Essas mulheres já chegaram na pandemia em uma situação mais vulnerável, pois vivem em um tipo de domicílio mais suscetível à pobreza. Normalmente, as famílias com crianças têm mais dificuldade de gerar renda e costumam ter taxas de emprego e de informalidade maiores. Sem o apoio das escolas, a preocupação é maior — afirma o economista Pedro Fernando Nery.

Números do Ministério do Desenvolvimento Social reunidos por Nery, economista e consultor legislativo do Senado Federal, mostram que 6 milhões de mães solo estão incluídas no Bolsa Família, mas há outras 4,8 milhões de mulheres na mesma condição de chefe de família que só receberam o auxílio e podem acabar não sendo inscritas no programa ainda neste ano.

Dados da Síntese de Indicadores Sociais do IBGE mostram que os arranjos domiciliares formados por mães sozinhas com filhos de até 14 anos concentram a maior incidência de pobreza: 54,9% vivem com renda per capita mensal inferior a US$ 5,50.

Nos domicílios em que as mulheres negras são as chefes de família, o percentual sobe para 62,4%.

— A pobreza e a extrema pobreza para o grupo das mães solo devem crescer muito nos primeiros meses. Acredito que a gente deve terminar 2021 em um patamar ainda mais alto do que o anterior à pandemia — avalia Nery.

Nas projeções de Daniel Duque, pesquisador do Ibre/FGV, o percentual de brasileiros em pobreza extrema — com renda familiar per capita menor que R$ 155 por mês — deve chegar de 10% a 15% da população neste mês, sendo que, neste grupo, 25% vivem em domicílios chefiados por mães solo.

— É um início de ano extremamente desafiador, não apenas devido ao fim do auxílio emergencial, mas também devido à alta da inflação dos alimentos que impacta o poder de compra daqueles domicílios com filhos, principalmente pequenos — ressalta Duque.

A professora Celina Ramalho, da Escola de Administração do Estado de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EAESP), avalia que as mães solo foram triplamente sobrecarregadas. Além de serem responsáveis pela geração da renda familiar, fazem todo o trabalho doméstico e passam tempo integral com os filhos com as creches fechadas:

— As mães tiveram que dar conta dos filhos em casa e ficaram sem ter como deixar um menor de idade para sair à procura de trabalho ou manter o emprego — analisa Celina. — É essencial o papel do governo para corrigir esse agravante, mas para uma melhor condição temporária uma alternativa é o empreendedorismo.

O trabalho como boleira é o que tem mantido Suzany Justino, de 27 anos, e os dois filhos: Davi, de 7 anos, e Arthur, de 6 anos. Antes da pandemia, ela conciliava a confeitaria com os bicos como faxineira, mas sem a ida das crianças para a escola só foi possível continuar o serviço em casa.

Mesmo assim, foi o benefício dobrado do auxílio que a permitiu passar pelo período mais crítico da pandemia sem perder a moradia:

— Veio como uma benção porque estava com alguns meses de aluguel atrasado e passando por dificuldades até de falta de alimento, porque não tinha nenhuma encomenda — diz ela, que teme novas dificuldades com o fim do auxílio. — Todas essas conquistas das contas em dia já foram perdidas. Eu ainda não consegui pagar o meu aluguel desse mês.

Enquanto a escola pública dos filhos segue sem previsão de aulas presenciais, ela precisa de malabarismo para equilibrar as contas e manter a alimentação da família:

— Fico em casa com eles torcendo pra que alguém me fale que quer um bolo pra eu ter R$ 100 ou R$ 80 para pagar a luz, o gás e juntar para pagar o aluguel. Fui procurar trabalho formal e deixei mais de 40 currículos, mas fui chamada só para uma entrevista e não fiquei com a vaga. Às vezes me vejo de mãos atadas.

A economista da UFF Hildete Pereira de Melo, estudiosa das questões de gênero e do trabalho doméstico, diz que 80% das mulheres que trabalham fora estão no setor de serviços, e boa parte de modo informal. A recuperação da economia só deve ocorrer com o controle da crise sanitária:

— As mulheres estão no comércio, no setor de saúde, na área da educação e nos serviços domésticos. Não sabemos como se dará a recuperação da economia, e o funcionamento das escolas têm relação direta com a possibilidade de trabalho das mães solo. É um cenário ameaçador.

O Globo

 

 

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