O candidato negro que derrotou uma “senhora branca”
Foto: REUTERS
Era natural. A invasão do Capitólio terminou ofuscando um pouco um feito notável, que foi a eleição do , Raphael Warnock. Para o antropólogo Roberto DaMatta, não é pouca coisa “um negro derrotar uma senhora branca lá”. A Geórgia, como se sabe, estava entre os 11 estados agrários e sulistas que, em 1861, fundaram a Confederação, que terminou numa guerra civil em oposição ao governo abolicionista de Abraham Lincoln.
Aliás, no filme “Ray”, de 2004, que tem Jamie Foxx no papel do gênio Ray Charles (1930-2004), tem uma cena em que o artista se recusa a fazer um show em sua terra para um público segregado. Ray Charles ficou um tempo proibido de realizar apresentações no estado, mas no final foi consagrado pelos conterrâneos, e “Georgia on my mind”, sucesso na voz do cantor, virou hino estadual.
DaMatta, que classificou o episódio de quarta nos EUA como um tsunami político, lembra também que não havia negros no grupo — insuflado por Trump — que invadiu o Capitólio. “Em 1963, quando eu dava aulas nos EUA, esse problema da supremacia branca já existia. Não foi à toa que Kennedy e Martin Luther King morreram. O apartheid americano vem depois da Guerra Civil, num acordo político embaixo da mesa, como acontece aqui no Brasil. Esse episódio lamentável mostra o preço de uma antiliderança”.
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