Bolsonaro bloqueia especialista que criticou armamentismo
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Depois de ter feito críticas aos decretos que facilitam a compra de armas de fogo e flexibilizam o uso dos objetos, a especialista em segurança pública e política de drogas Ilona Szabó informou ter sido bloqueada pelo perfil oficial do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Twitter.
Segundo a especialista, ela foi bloqueada menos de um minuto após publicar nota técnica do Instituto Igarapé, um “think and do tank” dedicado à integração das agendas de segurança, clima, justiça e desenvolvimento.
“Liberdade de expressão e abertura de diálogo como na Venezuela”, escreveu Szabó. “Impressionante ver como a máquina do ódio é eficiente e está aparelhada para bloquear qualquer contestação à narrativa oficial. Isso só acontece em ditaduras. Já vivemos tempos de exceção.”
Impressionante ver como a máquina do ódio é eficiente e está aparelhada para bloquear qualquer contestação à narrativa oficial. Isso só acontece em ditaduras. Já vivemos tempos de exceção.
— Ilona Szabó 🇧🇷 (@IlonaSzaboC) February 14, 2021
Na nota técnica, o instituto dirigido por Szabó considerou que os novos decretos de armas publicados pelo governo federal “colocam a população em grave risco, podem favorecer o crime e ameaçar a democracia brasileira”. Com outras organizações parceiras, o Igarapé vai recorrer das medidas.
Recuo na nomeação
Não é a primeira vez que o presidente demonstra incômodo com a especialista. Em fevereiro de 2019, Szabó foi nomeada como membro suplente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária pelo então ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro.
Por apresentar posições divergentes do governo com relação a temas como armamento e políticas de drogas, sua nomeação foi alvo de críticas por apoiadores de Bolsonaro. O próprio presidente pressionou Moro, em um dos primeiros desgastes entre os dois, e o ex-juiz acabou recuando em relação à nomeação da especialista.
Cientista política, Ilona Szabó tem mestrado em estudos de conflito e paz pela Universidade de Uppsala (Suécia) e é especializada em redução da violência e política de drogas.
Fundadora do Instituto Igarapé, que se dedica a estudar e a elaborar propostas de políticas públicas para a redução da violência, Ilona Szabó atuou na ONG Viva Rio e foi uma das coordenadoras da campanha nacional de desarmamento.
Com as novas mudanças promovidas pelo governo federal, fica permitida a compra de seis armas de fogo para pessoas que se enquadrem nos parâmetros estabelecidos pelo Estatuto do Desarmamento. O número máximo permitido anteriormente era de até quatro objetos.
Também é retirada a obrigatoriedade do registro junto ao Exército para a venda de armas de pressão (como armas de chumbinho).
Outra mudança realizada é a flexibilização das regras para registro de colecionadores, atiradores e caçadores (CACs). Antes, era necessário ter um laudo psicológico emitido pela Polícia Federal (PF). Agora, qualquer psicólogo com registro profissional pode assinar o documento.
Fica permitida a compra de até 60 armas para atiradores, 30 para caçadores, e 10 para colecionadores, sem autorização do Comando do Exército. As Forças Armadas só deverão emitir documento de permissão caso a quantidade de armas compradas seja maior que o limite previsto no decreto.
Em nota, a Presidência da República afirmou que o pacote de alterações visa “materializar o direito que as pessoas autorizadas pela lei têm à aquisição e ao porte de armas de fogo e ao exercício da atividade de colecionador, atirador e caçador, nos espaços e limites permitidos pela lei”.
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