Analistas dizem que Biden está pendendo para a esquerda

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Chip Somodevilla/Getty Images

Joe Biden é um político experiente e moderado, o que ficou claro na sua primeira coletiva desde a posse.

As feras que antes escalpelavam Donald Trump hoje viraram gatinhos de salão, mas entre as perguntas feitas para levantar a bola do entrevistado, ele conseguiu passar duas ideias excelentes e acima de qualquer partidarismo: pretende investir pesado em ciência, o mínimo que a maior potência científica da história pode fazer para não ficar atrás nos desafios do presente e do futuro próximo, e também em infraestrutura, pelos mesmos motivos.

Quem pode ser contra isso?

Mas Biden não está jogando apenas num campo onde existe uma convergência praticamente indiscutível.

Em matéria de mudança climática, economia verde, neutralização de atividades como a extração de gás e de carvão e garantias adicionais para minorias sexuais, entre outros campos de batalha da guerra cultural, ele está indo mais para a esquerda do que seu perfil – e seu principal argumento de campanha – fariam antecipar.

Resultado: comentaristas deslumbrados e suscetíveis a sugestões do pessoal de imprensa da Casa Branca já o comparam, com apenas dois meses no poder, a Franklin Delano Roosevelt e Lyndon Johnson, os dois presidentes que fizeram os maiores programas sociais dos Estados Unidos.

Maureen Dowd, a brilhante colunista do New York Times, escreveu elogiosamente sobre o presidente de quase 80 anos, lembrando como ele era menosprezado pelo círculo íntimo de Barack Obama, a ponto de ter sido proibido de dar entrevistas a determinados programas de televisão.

Em oito anos, lembrou ela, Biden e a mulher, Jill, não foram convidados nem uma única vez para uma recepção íntima pelo casal Obama.

A síndrome de vice rejeitado se transformou numa vingança deliciosa: “O presidente Biden está sendo saudado como um campeão progressista do tipo que só acontece uma vez a cada geração” – entra aí a comparação com Roosevelt e Johnson.

“Enquanto Obama se tornou um exemplo do que acontece quando os democratas ganham a chave do carro, mas não pisam no acelerador”, espetou a colunista.

O site Axios também se desdobrou em elogios a Biden e seu projeto de fazer a “reengenharia da América” de uma vez só e rapidamente.

O projeto emergiu numa reunião de Biden com alguns dos principais historiadores do país – e, de novo, circularam as comparações com o Roosevelt do New Deal e o Johnson da Grande Sociedade.

Para isso, anotou o Axios, ele conta com condições privilegiadas: maioria na Câmara e no Senado (com o voto de Minerva da vice-presidente Kamala Harris); apoio das alas à esquerda do Partido Democrata que eram vistas como problemáticas, mas hoje o aplaudem; rápida retomada de rumo do transatlântico da maior economia do mundo e a popularidade refletida nas pesquisas.

Segundo uma pesquisa do Gallup, Biden tem no total 56% de aprovação e 39% de avaliações negativas, um índice bastante bom, embora não estelar.

Quando desconstruído, ele cai para 45% de aprovação entre homens brancos – daí a insistência na criação de “empregos bem pagos”, um dos pontos fracos do presidente que corta sem dó atividades como o fracking, a extração de gás e petróleo pelo método de fragmentação.

Entre os eleitores republicanos, a aprovação é de meros 8%.

Quando fala em investir em infraestrutura, Biden coloca um cacife enorme na mesa: nada menos do que três trilhões de dólares, segundo o projeto que tem para mandar ao Congresso. Entre outros fins, a dinheirama financiaria universidades gratuitas e creches para todas as crianças, atividades que estão entre as mais custosas para as famílias americanas e sempre foram praticamente apenas um sonho das alas progressistas.

Isso sem contar o pacote já aprovado de 1,9 trilhão de reforço emergencial para a economia. Por causa dele, os americanos estão recebendo um cheque de 1.400 dólares do governo, o que só pode causar alívio, se não alegria.

Como tornar sustentáveis gastos desses montantes de tirar o fôlego? Numa economia de 21 trilhões de dólares e crença infinita na própria capacidade de empinar papagaios, é menos difícil.

Daí para ser um Roosevelt vai uma enorme diferença – mas só a facilidade da eficiente assessoria de comunicação do Biden em plantar a comparação já adiciona uma vantagem à lista de fatores positivos em favor do presidente: a grande imprensa torce apaixonadamente a favor.

Veja