Ciro, Mandetta e Huck cogitam união

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Foto: Bruno Rocha/Fotoarena

Os últimos dias foram intensos para Luciano Huck. O celular do apresentador vibrou com dezenas de ligações de alguns dos maiores empresários do país. Atônitos com o péssimo sinal que o presidente Jair Bolsonaro deu ao intervir no comando da Petrobras, pesos-pesados do mercado intensificaram nos bastidores os clamores para que Huck lidere a construção de uma nova via. Seus conselheiros já admitem que ele nunca demonstrou tanto desejo e disposição para concorrer ao Planalto como agora. A exemplo de Huck, outros postulantes a brilhar no mesmo espectro político aproveitaram o momento para tentar avançar seus projetos. O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta acertou-se com caciques do DEM para tentar viabilizar seu nome, e Ciro Gomes (PDT), em entrevista recente, declarou que sua missão é tirar o PT do segundo turno em 2022, num aceno óbvio para quem não quer a repetição do embate entre o partido de Lula e o de Bolsonaro na próxima eleição.

Embora o pleito ainda esteja um pouco distante, a fotografia do momento é ainda muito favorável à ambição de reeleição do presidente. Um levantamento exclusivo do instituto Paraná Pesquisas encomendado por VEJA mostra que ele lidera com folga nos cinco cenários pesquisados e, apesar dos diversos passos em falso que dá, caminha para ir ao segundo turno. O trabalho mostra também que ainda não há um oponente claro ao capitão. O ex-ministro Sergio Moro surge em segundo lugar em três das simulações, mas parece fora do jogo desde que assumiu um cargo de diretor na mesma consultoria que cuida da administração da recuperação judicial da Odebrecht, a empreiteira que foi alvo do maior processo da magistratura de Moro durante a Lava-Jato. Sem o ex-juiz na disputa, o desafio dos homens de centro será o já ventilado por Ciro Gomes: roubar do PT (no caso, de Fernando Haddad) a vaga para a final contra o presidente. A corrida está em aberto, pois há até empate quádruplo pelo segundo lugar em dois dos cinco cenários (veja o quadro).

A ansiedade para tentar firmar uma boa posição em meio a essa disputa acirrada aumentou em razão de os dois extremos da disputa, o bolsonarismo e o petismo, já estarem com os seus blocos na rua. Bolsonaro age pensando em se reeleger desde que tomou posse e está em campanha aberta. O PT, que diminui a cada eleição, mas que ainda assim foi ao segundo turno em 2018, sentiu a necessidade de fazer um contraponto e colocou Haddad para viajar o país a partir deste mês, com o objetivo de construir pontes, ganhar musculatura e mobilizar a militância. Esperava-se que o centro fosse ocupado principalmente por Doria, mas a popularidade dele ainda não avançou no ritmo esperado após o acerto do governador em viabilizar a CoronaVac.

O voo ainda modesto do tucano na campanha em direção ao Palácio do Planalto também embolou a disputa pelo eleitorado de centro e é um dos pontos a motivar Huck a ir para a disputa, apesar da difícil decisão de abrir mão de uma confortável trajetória de sucesso na TV para se arriscar no campo minado que se tornou a política no Brasil. A reportagem de VEJA apurou que o contrato do apresentador com a Rede Globo vencerá na metade deste ano. Não há um prazo para que ele tome uma decisão, mas a emissora precisa colocar em andamento os planos que têm para Huck — e não são modestos. O apresentador teria autorização para assumir a programação no horário nobre de domingo, entre o final da tarde e o início da noite, hoje ocupado pelo Domingão do Faustão. A ideia é que Huck seja um híbrido de Faustão com Pedro Bial, com liberdade para falar de política fora do ar, de acordo com um aliado do apresentador.

Para ajudar a definir se o seu futuro será dentro ou fora da TV, Huck tem estudado com cientistas políticos todas as pesquisas de intenção de voto. Ele já demonstrou preocupação por ser visto por boa parte da população como um “candidato da Globo”. Para auxiliá-lo neste e em outros dilemas, iniciou conversas com o estrategista argentino Marcos Peña, que liderou a campanha vitoriosa de Mauricio Macri em 2015. O apresentador também tem colaboradores atuando para desenvolver uma linha de comunicação nas redes e um plano de governo. O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga é um dos mais atuantes na elaboração de propostas — entre as mais ambiciosas está uma reformulação completa do SUS.

O impasse sobre quem vai levar a bandeira do centro em 2022 animou até gente que estava meio esquecida. Quando Huck atendeu a um dos vários telefonemas recentes, do outro lado da linha estava o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM). E o assunto era o Planalto. Após um jantar com caciques do DEM na casa do ex-deputado Pauderney Avelino (AM), em Brasília, no fim de semana passado, Mandetta recebeu permissão para testar a força de seu nome em nível nacional. Ao falar com Huck, o ex-ministro reiterou que não estava assumindo uma pré-candidatura e pediu para que ele não ficasse melindrado com o movimento do partido, que era (ou é) uma das alternativas do apresentador, ainda sem filiação. Antagonista do bolsonarismo, o ex-ministro terá o objetivo de impedir que o DEM seja tragado para a candidatura do presidente em 2022. Com a pandemia fora de controle, a sigla aproveitará a boa imagem que Mandetta construiu no Ministério da Saúde para dar a ele “o máximo de visibilidade e exposição possível”, nas palavras de um cacique. O ex-ministro, de quebra, consolidará a distância que os líderes da legenda querem manter de Bolsonaro, sobretudo depois de o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia ter acusado o presidente da legenda, ACM Neto, de se aliar ao Planalto na disputa pela sucessão no Legislativo. A largada para Mandetta foi dada na terça-feira 2, quando ele e ACM Neto protagonizaram uma live no Instagram com ataques à atuação do governo no combate à Covid-19. Mandetta deverá fazer novas transmissões pela internet com a participação de pessoas de fora da política, como empresários e especialistas em educação. Além disso, terá o suporte do partido para viajar pelo Brasil e conversar com partidos de centro e outros presidenciáveis. Caso o voo-solo do DEM não decole — e com as divisões internas na sigla entre bolsonaristas, independentes e aliados de Doria —, não se descarta até uma neutralidade nacional em 2022, com permissão para candidatos a governador montarem palanques como quiserem.

Com o DEM aberto a quase todas as possibilidades e diante da inviabilidade de uma frente de esquerda, Ciro Gomes viu espaço para avançar com a estratégia que, ele sabe, representa boa parte de suas chances eleitorais: um movimento em direção ao centro. O ex-ministro deu declarações no sentido de que buscará diálogo com siglas mais à direita, como o DEM e o PSD — como revelou o site de VEJA —, para montar um arco de alianças capaz de tirar o PT do segundo turno. A costura, no entanto, não é simples. Embora o DEM governe Salvador com uma vice-prefeita do PDT, e Ciro seja visto por ACM Neto como uma das melhores opções para subir ao seu palanque de candidato ao governo da Bahia, hoje seria difícil o partido embarcar nacionalmente na empreitada pedetista. Com o PSD, o mesmo: o ex-ministro é aliado do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, potencial candidato ao governo, mas a relação entre os dois — até na avaliação de aliados do prefeito — não tem tração para atrair a sigla. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, diz que não conversa com Ciro há um ano e meio e continua falando em ter candidato próprio, o que não é unanimidade na sigla: “Temos bom diálogo com o PDT e os demais partidos de centro, mas isso não significa alinhamento ou aliança. Temos só uma prioridade, que é a candidatura própria”.

A nova movimentação também é consequência de acordos que pareciam mais ou menos certos e que, de repente, desandaram. Ciro apostava em uma aliança de esquerda alternativa ao PT, com PSB, PV e Rede. Porém, Carlos Siqueira, o presidente do PSB — que seria a maior sigla dessa frente —, disse a VEJA que está à procura de um outsider para a disputa (ele gostaria da empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza, que, até aqui, rejeita o projeto). Outro acordo que parecia encaminhado e virou pó foi o que uniria PSDB, DEM e MDB em uma articulação de Doria, Maia e do presidente emedebista, Baleia Rossi. A derrota de Baleia na disputa pela Câmara implodiu o planejamento. Maia saiu enfraquecido e pode deixar o DEM.

O baile eleitoral do centro segue, portanto, com nomes sem partido (como Huck e Moro), partidos sem candidatos (DEM, PSD e MDB), legendas com mais de um candidato (o PSDB de Doria e seu recém-desafiante Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, que subiu o tom nos últimos dias contra Bolsonaro) e com gente que nem é exatamente do centro, como Ciro, mas acha que pode chamar o centrismo para a dança em nome dos velhos tempos (já foi do extinto PDS e do PSDB). O desafio será um desses nomes ganhar força suficiente para evitar o replay da polarização entre os extremos ocorrida em 2018. Se vários nomes forem lançados, o eleitorado ficará dividido e a derrota será certa.

Veja

 

 

 

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