Confira reportagem histórica do Jornal Nacional elogiada por Lula

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Foto: MIGUEL SCHINCARIOL / AFP

O ex-presidente Lula falou nesta quarta-feira (10), publicamente, pela primeira vez sobre a decisão do ministro do Supremo Edson Fachin, que anteontem anulou as condenações dele no âmbito da Lava Jato de Curitiba. No discurso, Lula reafirmou que é inocente; atacou o ex-juiz Sergio Moro e a força tarefa da Lava Jato; e disse que foi vítima da maior mentira jurídica já contada no Brasil.

O ex-presidente Lula chegou ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista, em São Bernardo do Campo, usando máscara. Em seguida, explicou que iria tirar a proteção para que a imprensa pudesse ouvir melhor o pronunciamento – e que iria manter distância de todos.

Líderes partidários e sindicalistas estavam presentes. No pronunciamento de pouco mais de 1h20, Lula manifestou solidariedade às vítimas do coronavírus. Começou seu discurso lembrando do dia em que foi preso.

“Faz quase três anos que eu saí da sede desse sindicato para ir me entregar à Polícia Federal. Eu fui, obviamente, contra a minha vontade porque sabia que estavam prendendo um inocente. Muitos dos que estavam aqui não queriam que eu fosse me entregar, e eu tomei a decisão de me entregar porque não seria correto um homem na minha idade, um homem com a minha história construída junto com vocês, pudesse aparecer na capa dos jornais e na televisão como fugitivo. Como eu tinha clareza das inverdades contadas sobre mim, eu, então, tomei decisão de provar a minha inocência dentro da sede da Polícia Federal, perto do juiz Moro. Antes de eu ir, nós tínhamos escrito um livro que eu fui a pessoa que dei a palavra final no título do livro. Em que a verdade vencerá. Eu tinha tanta confiança e tanta consciência do que estava acontecendo no Brasil, que eu tinha certeza que esse dia chegaria. E ele chegou”.

No pronunciamento, o ex-presidente Lula se disse vítima da maior mentira jurídica já contada no Brasil e, depois de citar a história de um escravo que levou chibatadas, disse que não tem mágoas.

“Então, se tem um cidadão que tem razão de estar magoado com as chibatadas sou eu. Não estou. As pessoas pensam que depois de dar chibatada, joga um pouco de sal e pimenta, e a pessoa vai se curar ao longo do tempo. Não importa as cicatrizes que ficam na pessoa. Eu sei de que foi vítima da maior mentira jurídica contada em 500 anos de história. Eu sei que a minha mulher a Marisa morreu por conta da pressão e o AVC se apressou. Eu fui proibido até de visitar o meu irmão dentro de um caixão porque tomaram uma decisão que queria que eu viesse para São Paulo, que eu fosse para o quartel do Segundo Exército do Ibirapuera e meu irmão dentro do caixão fosse me visitar. E ainda disseram que não podia ter nenhuma fotografia. Então se tem um brasileiro que tem razão, que tem muitas e profundas mágoas, sou eu. Mas não tenho. Sinceramente não tenho porque o sofrimento que o povo brasileiro está passando, o sofrimento que as pessoas pobres estão passando nesse país é infinitamente maior que qualquer crime que cometeram contra mim. É maior do que cada dor que eu sentia quando estava preso na Polícia Federal”.

Lula agradeceu ao ministro do Supremo Edson Fachin, que nesta segunda (8) anulou as condenações do ex-presidente no âmbito da Lava Jato de Curitiba. Com a decisão de Fachin, o ex-presidente recuperou direitos políticos e se tornou elegível. O ministro Fachin não julgou o mérito dos processos, ou seja, não inocentou nem condenou Lula. Fachin enviou as ações para a Justiça Federal em Brasília, porque elas não têm relação direta apenas com a Petrobras.

Ao longo do discurso, Lula falou extensamente sobre os processos que pesam sobre ele. Reafirmou sua inocência diversas vezes, mas não falou sobre as razões que permitiram o surgimento de esquemas de corrupção durante seu governo e o de Dilma Rousseff. Fez ataques e críticas ao ex-juiz Sergio Moro, aos investigadores e aos procuradores que o acusaram.

“Eu digo para vocês, anteontem foi um dia gratificante. Eu sou agradecido ao ministro Fachin porque ele cumpriu uma coisa que a gente reivindicava desde 2016. A decisão que ele tomou, tardiamente, cinco anos depois, foi colocada por nós desde 2016. A gente cansou de dizer que a inclusão do Lula e a inclusão da Petrobras na vida do Lula como criminoso, era a razão pela qual a quadrilha de procuradores da Lava Jato, não o Ministério Público, a quadrilha de procuradores da força-tarefa, e o Moro entendiam que a única forma de me pegar era me levar para a Lava Jato. Porque eu já tinha sido liberado de vários outros processos fora da Lava Jato, mas eles tinham como obsessão porque eles queriam criar um partido político, pra tentar me criminalizar”.

Durante o discurso, Lula também citou o julgamento desta terça (9), na Segunda Turma do STF, sobre a imparcialidade do então juiz Sergio Moro no processo do triplex do Guarujá. Esse julgamento foi interrompido depois de um pedido de vista do ministro Nunes Marques. Neste momento, o placar está em dois a dois.

Nesta terça (9), os ministros Gilmar Mendes e Lewandowski consideraram que Moro agiu com parcialidade ao condenar o ex-presidente. Cármen Lúcia e Edson Fachin já votaram, em dezembro, contra o pedido de suspeição do então juiz.

Nesta quarta (10), no pronunciamento, Lula reconheceu que, pela decisão que Fachin tomou nesta segunda (8), de suspender os julgamentos da Lava Jato em Curitiba, continuará respondendo aos processos numa vara federal em Brasília. O ex-presidente disse, ainda, que lutará até o fim pela suspeição de Moro.

“O processo vai continuar vai… Tudo bem. Eu já fui absolvido de todos os processos fora de Curitiba. Mas nós vamos continuar brigando para que o Moro seja considerado suspeito. Porque ele não tem o direito de se transformar no maior mentiroso da história do Brasil e ser considerado herói por aqueles que queriam me culpar. Deus de barro não dura muito tempo. Eu tenho certeza que hoje eles devem estar sofrendo muito mais do que eu sofri. Eu tenho certeza que o Dallagnol deve estar sofrendo muito mais do que eu sofri, porque eles sabem que eles cometeram erro”.

Durante a coletiva, o ex-presidente Lula falou diversas vezes sobre a pandemia do novo coronavírus. Ele prestou solidariedade aos profissionais da saúde e também destacou a importância do uso de máscaras e da vacinação em massa.

E a condução do combate à pandemia não foi o único tópico de condenação ao presidente Bolsonaro. Lula dedicou boa parte do discurso a criticar a política que facilita o acesso de armas a população, a política econômica e o desemprego alto. Eum tom de campanha disse que pretende conversar com todos os políticos, mesmo aqueles com quem não compartilha as mesmas ideias.

“Desistir jamais! A palavra desistir não existe no meu dicionário. Eu aprendi com a minha mãe: ‘lute sempre, acredite sempre. Porque se a gente não acreditar na gente, ninguém vai acreditar’. Se você não se respeitar, ninguém vai te respeitar’. As pessoas que me mal trataram durante todos esses anos, quero dizer para vocês: eu quero ver esse país conversar com a classe política. Porque muitas vezes, a gente se recusa a conversar com determinados políticos. É da nossa natureza. Mas veja, eu gostaria que o Congresso Nacional só tivesse gente boa, gente de esquerda, gente progressista. Mas não é assim, o povo não pensou assim, o povo elegeu quem ele quis eleger. Então nós temos que conversar com quem está lá para ver se a gente conserta esse país”.

Mas Lula disse que não está pensando na campanha eleitoral: “Quero dizer para você que a minha cabeça não tem tempo para pensar em candidatura em 2022. Quando chegar o momento de discutir 2022, nós vamos ter imenso prazer de anunciar ao Brasil o que nós estamos pensando em 2022 e vamos discutir se vai ter um candidato numa frente ampla, se vai ser um candidato do PT, mas aí é mais para frente”.

O ex-juiz Sergio Moro, o procurador Deltan Dallagnol e o Ministério Público Federal em Curitiba não se manifestaram sobre o discurso do ex-presidente Lula.

Em uma entrevista à CNN Brasil no início da noite desta quarta (10), na entrada do Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro declarou que o governo federal repassou recursos para estados e municípios combaterem a pandemia. Disse ainda que não houve escândalos de corrupção em seu governo e que as críticas do ex-presidente Lula não têm base.

G1