Governadores planejam reação em bloco contra Bolsonaro

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Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo

O agravamento da pandemia está levando governadores a darem um passo além no jogo de pressão sobre o presidente Jair Bolsonaro. Discute-se esquemas para um “lockdown” interestadual e até um apelo à Organização Mundial da Saúde (OMS) para que fornecedores internacionais da vacina atendam o Brasil. O anúncio de que o governo federal irá adquirir vacinas da Pfizer e da Janssen não tranquilizou o grupo.

É patente ainda entre os governadores a pouca disposição do grupo em se perfilar com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) em uma espécie de frente a favor da vacina e anti-Bolsonaro. Pesa o cálculo eleitoral: Doria pretende concorrer à Presidência de 2022, mas o governador do Rio Grande do Sul, o também tucano Eduardo Leite tem aspirações próprias para a eleição presidencial e conta com apoio de parte da executiva nacional de seu partido.

Na esquerda, os governadores do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) e da Bahia, Rui Costa (PT) também procuram protagonismo nacional. Doria tentou reunir governadores em São Paulo essa semana, sem sucesso.

Durante uma conversa em grupo de WhatsApp de governadores, Leite defendeu, ontem de manhã, que os líderes dos estados se empenhassem em “um esforço diplomático para o Brasil conseguir vacinas emergenciais com outros países”. Segundo o gaúcho, a comunidade internacional poderia se comover com um apelo diante do fato de que a variante brasileira do coronavírus pode se converter em uma ameaça global no combate à pandemia.

“Podemos tentar um movimento para cobrar do Planalto-Itamaraty uma articulação para doses emergenciais, talvez com apoio da OMS?”, indagou o governador do Rio Grande do Sul no grupo de mensagens. Concordaram de imediato com a iniciativa os governadores do Ceará, Camilo Santana (PT), Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), e Pernambuco, Paulo Câmara (PSB). Outros demonstraram ceticismo.

“Acreditaria mais numa intervenção do Congresso ou do Supremo em uma situação se deteriorando mais ainda. É mais fácil Bolsonaro ter que cumprir uma decisão do Supremo do que da OMS. Da OMS ele vai dizer que é coisa do comunismo interplanetário. No Supremo ele é obrigado a cumprir”, disse Flávio Dino ao Valor.

Dino disse que governadores reconhecem a necessidade de um “lockdown” nacional devido à piora da pandemia, mas não têm meios de fazer cumprir a medida, pela falta de um auxílio emergencial federal.

Ele defende que, se o quadro sanitário continuar a se deteriorar, os governadores se reúnam na próxima semana para firmar um pacto nacional e discutir a convocação de um “lockdown” no país todo com coordenação dos governadores.

“É uma espécie de diálogo horizontal dos governadores. Pode evoluir para isso. Não descarto. Podemos chegar a isso numa coordenação nacional bancada pelos governadores”, disse, para em seguida ponderar: “Alguns colegas têm assinalado a importância de um regime mais rigoroso, de chegar a um ‘lockdown’ nacional, mas não é uma posição que tenha ainda adesão da maioria”, afirmou.

“Há um empecilho objetivo, que é a ausência do auxílio emergencial. A gente tem um choque entre convicções científicas e o desafio do gestor, que é fazer algo factível. Não adianta você assinar um papel que seja inexequível”, afirmou o maranhense.

Governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB) comentou que os elementos para a união do grupo de governadores são maiores que os da divisão. “A união é mais forte agora. Os governadores estão unidos porque é importante e por necessidade. A estratégia de Bolsonaro, em toda a pandemia, é o conflito permanente”, disse ao Valor.

O novo estremecimento, afirma Casagrande, requereu uma resposta mais forte, mesmo de governadores alinhados ao bolsonarismo ou daqueles que não pretendem decretar “lockdown”, como é o seu caso no Espírito Santo, onde a ocupação de leitos de UTI é de 73%.

No domingo, em suas redes sociais, Bolsonaro divulgou números inflados sobre o total de repasses do governo federal aos Estados para o combate à pandemia, ao incluir recursos constitucionais obrigatórios e até pagamento do auxílio emergencial a pessoas físicas.

Um dos objetivos do Planalto é jogar a culpa pela piora da pandemia sobre os governadores, que estudam tomar medidas mais duras de isolamento social, como o “lockdown”, o que prejudicaria os planos de retomada da economia e da reeleição de Bolsonaro. Segundo aliados, o presidente estaria disposto a esticar a corda e haveria um movimento de ministros para contê-lo.

Casagrande foi um dos 19 signatários da carta em que os chefes estaduais contestaram Bolsonaro e disseram que os recursos são “obrigação constitucional”. Entre eles estão governadores que apoiam o presidente, como Ronaldo Caiado (DEM), de Goiás, Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, e Cláudio Castro (PSC), do Rio de Janeiro. Para Casagrande, eles se alinharam agora, de maneira pontual, aos demais governadores por causa do tema e da necessidade. “Uma informação equivocada no Estado cria uma necessidade de o governador ficar se explicando”, diz. No Espírito Santo, o governo estadual recebeu R$ 1,5 bilhão e Bolsonaro divulgou que teriam sido R$ 16,1 bilhões, ou seja, dez vezes mais do que foi efetivamente entregue.

Flávio Dino e o governador da Bahia, Rui Costa (PT), Ingressamos no STF, contra a divulgação dos repasses feita pelo governo federal. “Queremos debater judicialmente se é compatível com a Constituição e o Estado de Direito o uso doloso e reiterado de mentiras como ferramenta política”, afirmou Dino no Twitter.

O governador capixaba afirma que a informação falsa gera tensionamento e cobranças por parte de apoiadores de Bolsonaro nos Estados, que reproduzem o argumento do presidente pelas redes sociais. Casagrande diz que a adoção de um “lockdown” nacional, não tem consenso entre seus pares. “É lógico que ele pode até falar isso para poder alimentar seus fiéis escudeiros, porque isso é próprio da estratégia do presidente: fazer um confronto de quem é a favor ou contra a economia. Mas não tem nenhuma decisão tomada em direção a isso”, afirma.

“Você não pode defender o ‘lockdown’ num Estado que está estabilizado comparado com outro que já entrou em colapso. O que está perto do colapso tem todas as justificativas para tomar medidas mais duras. Quando se tem leito para ofertar você não tem argumento político para isso”, diz. O governador propõe que o limiar para se decretar um toque de recolher ou “lockdown” seja acima de 90% de leitos de UTI ocupados.

A disposição do governo federal em agilizar a vacinação foi expressa ontem em uma reunião de integrantes do Fórum de Governadores com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. O ministro afirmou que vai comprar “a vacina que tiver”, disse um participante do encontro. Segundo relatos, os governadores saíram com a impressão de que dificilmente seus planos de formar consórcios para adquirir as vacinas sairá do papel antes do segundo semestre. Na conversa com os governadores, Pazuello queixou-se da falta de disponibilidade de vacinas. Citou o caso da Sputnik V, que tem o compromisso de entregar 10 milhões de doses ao ministério até 31 de maio. As conversas com representantes da empresa, no entanto, têm deixado dúvidas quanto à capacidade de entrega do produto.

Anteontem, governadores reuniram-se com executivos da União Química, que comercializa no Brasil a vacina russa Sputnik V. A impressão deixada não foi das mais animadoras mesmo entre administradores estaduais bolsonaristas, como é o caso de Antonio Denarium (sem partido), de Roraima.

“O fato é que hoje não existe vacina à venda. O que existe é muita especulação. E, se cada governador sai comprando vacina, o preço vai subir”, disse.

De acordo com Denarium, há movimentações dos governadores do Consórcio da Amazônia Legal (Amazonas, Amapá, Acre, Pará, Maranhão, Mato Grosso, Roraima e Rondônia) para fazer as aquisições. Nesse caso, os custos seriam rateados entre os governos estaduais e as vacinas seriam distribuídas também de acordo com a população de cada unidade.

A percepção do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que também é alinhado ao bolsonarismo e estava na visita ao fabricante da Sputnik, foi mais otimista que a de Denarium. Zema considerou que o país já “atravessou um oceano” e agora está a 500 metros da praia, com ondas fortes. “Vamos ter que enfrentar essas ondas até chegar à praia. A praia é a vacina. Até termos a vacina fazendo o efeito desejado vamos ter que dar conta desse recado”, disse.

Valor Econômico

 

 

 

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