Que os juízes não decidam tomar o lugar dos eleitores de Lula

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Foto: Pedro Ladeira/ Reprodução

A entrada de Luiz Inácio Lula da Silva na disputa eleitoral tem provocado, até agora, apenas desdobramentos virtuosos. Espero que se cumpram as regras do devido processo legal e que juízes não decidam tomar o lugar dos eleitores. Dois desses efeitos foram antecipados por este colunista neste espaço: a necessidade de o tal “centro” se organizar e a emergência de Ciro Gomes (PDT) como uma alternativa de um arco ideológico que vai da direita democrática à centro-esquerda. Vamos ver.

Seis pré-candidatos à Presidência divulgaram na quarta (31) à noite um manifesto essencialmente correto em defesa da democracia. Em ordem alfabética: Ciro Gomes (PDT), Eduardo Leite (PSDB), João Amoêdo (Novo), João Doria (PSDB), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Luciano Huck (sem partido). O ex-presidente Lula não foi convidado. Faz sentido. Sergio Moro foi. Não faz sentido.

Felizmente para os demais signatários, os interesses empresariais do ex-juiz —a gente é obrigado a escrever coisas estranhas no Brasil…— o impedem de assinar manifestos, mesmo aqueles em defesa da democracia, o que não deixa de ser estranho. Mas o liberam para fazer proselitismo sobre extravagâncias judiciais, o que é mais estranho ainda. No dia em que um defensor de excludente de ilicitude e processos de exceção merecer a alcunha de democrata, haverá algo de errado com os democratas. Mas não será ele a envenenar meu texto.

A iniciativa original é de Mandetta, e a ideia é tornar o 31 de Março uma espécie de Dia da Consciência Democrática, em oposição à renitente e asquerosa celebração golpista. Tomara que essa ideia prospere. Merece o assentimento de todas as pessoas decentes. Afirma o manifesto: “A conquista do Brasil sonhado por cada um de nós não pode prescindir da Democracia. Ela é nosso legado, nosso chão, nosso farol. Cabe a cada um de nós defendê-la e lutar por seus princípios e valores.” Inexiste democracia fora do devido processo legal, Moro e demais!

Ciro declarou voto em Fernando Haddad em 2018. Huck não foi explícito, mas deu a entender que Bolsonaro merecia uma chance. Todos os outros se alinharam com o atual mandatário. Não sei que parte dos discursos feitos pelo truculento fanfarrão ainda não haviam entendido. Em entrevistas, Leite e Doria manifestaram arrependimento, o que não significa, deixaram claro, que poderiam votar no PT caso as circunstâncias se repitam em 2022.

Não estou aqui a patrulhar escolhas, mas é preciso, em benefício da história, deixar registrado que não se pode acusar Bolsonaro de ter descumprido as promessas que fez não só na campanha eleitoral de 2018, mas ao longo dos 28 anos que a antecederam, em que construiu a carreira de um deputado federal medíocre e truculento. Feito o registro, saúdo o documento e entendo que, sob nenhum pretexto, alguns de seus signatários repetiriam o erro.

Começo a voltar ao ponto de partida. Se não faz sentido Moro assinar uma carta de pré-presidenciáveis que exaltam a democracia, faz sentido que Lula não esteja entre seus signatários, não porque lhe faltem as credenciais nesse caso. Os seis que endossam o documento partem da admissão tácita de que o petista tem tudo para ser um dos polos da disputa em 2022. Nesse sentido, articula-se um documento que, sendo inequivocamente antibolsonarista, também é antilulista.

Quando o ex-presidente se tornou elegível, auxiliares de Bolsonaro saíram a espalhar para colunistas distraídos que o presidente estaria feliz com a “polarização”, e muitos previram que o campo do centro e da centro-direita seria fulminado. Entendi, e o documento parece me dar razão, que, ao contrário, isso impunha a esses postulantes que entrassem num concerto de vontades em busca da personagem “nem-nem”. Fácil não é.

Não se tem ainda a definição de um nome, mas vejo ali Ciro e Doria, por exemplo, assinando um mesmo documento, o que era improvável até outro dia. Já pensaram, minhas caras, meus caros, essa terceira via como o caminho de uma eventual nova polarização que até mesmo venha a excluir Bolsonaro do segundo turno? Qualquer que fosse o vitorioso, seria a fuga da Terra dos Mortos.

Folha de S. Paulo

 

 

 

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