Em campanha, Bolsonaro vai a regiões onde tem menos apoio

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Foto: Alan Santos / Presidência

De olho na reeleição, o presidente Jair Bolsonaro tem privilegiado nas viagens ao redor do país regiões em que sua rejeição aumentou, de acordo com as últimas pesquisas de intenção de voto. Levantamento feito pelo GLOBO com base em agendas oficiais desde agosto do ano passado indica que Bolsonaro elegeu como destino locais onde tem maior reprovação de sua gestão.

Desde o início da pandemia, Bolsonaro tem mantido uma média de seis viagens por mês. Em março, com os números de casos e óbitos por Covid-19 em alta, Bolsonaro só deixou Brasília uma vez. Em abril, mês mais letal desde o início da pandemia, o presidente voltou a viajar com frequência: foram seis viagens no mês. Em maio, o ritmo se intensificou ainda mais: até o final do mês, serão dez viagens, inclusive uma para o exterior.

A região que mais entrou no itinerário do presidente foi o Nordeste. Nos últimos cinco meses de 2020, 23% das viagens de Bolsonaro tiveram como destino a região. Nos primeiros cinco meses de 2021, a proporção aumentou para 36%.

Em paralelo ao aumento de viagens, o Nordeste também foi a região em que a rejeição mais cresceu desde agosto do ano passado: 51% dos eleitores ouvidos pelo Datafolha em maio dizem que o governo é ruim ou péssimo. Em agosto, 35% dos eleitores reprovavam a gestão.

Em suas visitas, Bolsonaro tem tratado cada vez mais de assuntos eleitorais. Um dos alvos preferenciais é o ex-presidente Lula. Em viagem ao Alagoas, por exemplo, acompanhado do presidente da Câmara, Arthur Lira, e do ex-presidente Fernando Collor, Bolsonaro chamou o petista de “ladrão de nove dedos”.

Como o GLOBO mostrou na última semana, Bolsonaro não apenas aumentou suas viagens, mas também as agendas com tom de campanha, como os passeios como motociclistas que realizou tanto em Brasília como no Rio de Janeiro. No último dia 15, o presidente também convocou uma manifestação com produtores rurais na Esplanada dos Ministérios. Internamente, o presidente já começou a montar sua equipe de campanha e encarregar alguns de seus auxiliares mais próximos de coordenar sua campanha em cada região. No Nordeste, por exemplo, o ministro do Turismo Gilson Machado deverá liderar a campanha do presidente.

A crise do coronavírus levou a rejeição do presidente a aumentar em todo o país desde agosto, mas em ritmos diferentes. Em agosto, por exemplo, o Sudeste era a região em que mais eleitores consideravam o governo ruim ou péssimo, com 39%. Mas, se no Nordeste a rejeição cresceu 16 pontos percentuais, o índice subiu 8 pontos percentuais no Sudeste, indo a 47%.

A diferença se refletiu na quantidade de viagens feitas ao Sudeste. De agosto a dezembro, quase metade das 39 viagens de Bolsonaro foram para a região. Nos cinco meses seguintes, a cada 4 viagens do presidente, apenas uma foi para o Sudeste.

O presidente também aumentou sua frequência de viagens para o Norte e o Centro-Oeste. Em suas pesquisas, o Datafolha trata as duas regiões como apenas uma. A proporção de viagens de Bolsonaro ao Norte ou ao Centro-Oeste foi de 17% nos últimos cinco meses de 2020 para 28% entre janeiro e maio deste ano.

O governo federal enfrentou uma rejeição crescente na região: de agosto do ano passado a maio desse ano, a reprovação ao governo aumentou 12 pontos percentuais no Norte/Centro-Oeste, abaixo apenas do Nordeste. Bolsonaro enfrentou um grande foco de crise em Manaus, onde a crise do coronavírus saiu do controle e houve até mesmo escassez de oxigênio nos hospitais do estado. O ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, é investigado pelo Ministério Público Federal no estado por sua possível omissão na crise.

Nesta quinta-feira, Bolsonaro passou mais uma vez pela região, ao visitar São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. A viagem trouxe polêmicas em razão do protesto de índios yanomami à possível visita do presidente. Em sua live semanal transmitida nas redes sociais, Bolsonaro revelou que gostaria de sobrevoar ou visitar alguma área de garimpo. Um dos projetos mais caros ao presidente é a autorização para a atividade em terras indígenas.

O Globo