Governador do Rio gastou R$ 545 mil com ato pró Bolsonaro

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Foto: ANDRE BORGES / AFP

O aparato montado pela Polícia Militar do Rio de Janeiro para garantir a segurança dos participantes do passeio de moto com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) custou aos cofres públicos do estado ao menos R$ 545 mil.

O valor foi calculado pelo economista Daniel Cerqueira, conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, e tem como base apenas o custo em recursos humanos —para o cálculo, foram consideradas as horas trabalhadas pelos mil policiais mobilizados no esquema de patrulhamento em torno da manifestação.

Documentos obtidos pelo UOL no SEI (Sistema Eletrônico de Informações) do governo fluminense mostram que policiais de cerca de 20 batalhões —entre convencionais de área e unidades especializadas— foram mobilizados para a operação a partir das 6h deste domingo (23).

O ponto de partida foi a região do Parque Olímpico, na zona oeste carioca. Foram percorridos cerca de 40 km até o Aterro do Flamengo, na zona sul, onde Bolsonaro discursou. Ao longo de todo o trajeto, havia dezenas de pontos com viaturas voltadas ao policiamento do evento.

A comitiva presidencial deixou o aterro pouco antes das 13h. A reportagem estimou que o esquema de policiamento ainda permaneceu mais duas horas ativo para a dispersão do público.

O valor real é superior aos R$ 545 mil, já que no cálculo não estão insumos como o combustível utilizado pelas viaturas —a reportagem encontrou nos documentos, que mostram apenas parcialmente o aparato mobilizado, referências diretas ao emprego de pelo menos 30 veículos. Também não estão na conta a alimentação dos PMs de serviço e qualquer material bélico eventualmente utilizado, por exemplo.

Ao fim do ato, Bolsonaro e outras autoridades —entre elas, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que é general da ativa do Exército— discursaram em um trio elétrico no Monumento dos Pracinhas, no Aterro do Flamengo.

No local, o presidente atacou prefeitos e governadores por conta das medidas de restrição e afirmou diversas vezes que o “seu Exército” não seria usado para obrigar a população a ficar em casa —única forma de prevenção efetiva à propagação do novo coronavírus, segundo especialistas.

No ato, apoiadores levaram cartazes defendendo um golpe militar —chamados por eles de “intervenção. Bolsonaro voltou a prometer tomar “todas as medidas necessárias” contra as normas de isolamento social. Em seguida, militantes presentes cantaram o bordão “Eu autorizo”, usado como hashtag nas redes sociais por quem defende um golpe para ampliar os poderes do presidente.

Decreto permite manifestações políticas, mas obriga máscaras
O decreto estadual atualmente em vigor para determinar as normas sanitárias durante a pandemia de covid-19, assinado pelo governador Claudio Castro em 18 de maio, não traz nenhuma restrição à realização de manifestações de rua.

No entanto, obriga que todas as pessoas utilizem máscaras em espaços públicos e privados.

Durante a gestão de Wilson Witzel (PSC), os decretos sobre o novo coronavírus determinavam a suspensão de “comício, passeata e afins”. A cláusula apareceu no primeiro decreto assinado por Castro, em setembro de 2020, mas foi abandonada posteriormente.

Foi com base nessa proibição que o MP-RJ chegou a processar deputados e militantes bolsonaristas que organizaram carreatas contra as medidas de isolamento social em 2020.

Aliado do presidente, Castro esteve no Parque Olímpico, na zona oeste da capital, para recebê-lo. Não participou do passeio de moto, entretanto.

Sem máscara durante todo o trajeto, Bolsonaro também violou as normas municipais contra a covid-19 —o decreto assinado pelo prefeito Eduardo Paes prevê multa de R$ 562,42 para quem desrespeitar essa obrigatoriedade.

O UOL procurou a Secretaria Municipal de Ordem Pública para saber se Bolsonaro, outras autoridades ou manifestantes foram punidos por descumprimento das normas sanitárias, mas ainda não obteve resposta.

Uol