Moro contesta STF e nega atuação suspeita
Foto: Guito Moreto/Agência O Globo
O ex-ministro da Justiça e ex-juiz Sergio Moro prestou depoimento nesta segunda-feira à Justiça Federal do Distrito Federal, no âmbito da Operação Spoofing, que investiga a interceptação de mensagens entre autoridades e membros da Lava-Jato. O ex-juiz foi uma das vítimas das invasões dos hackers.
Na audiência, realizada pela 10ª Vara de Brasília, Moro falou na condição de testemunha ao juiz federal Ricardo Augusto Soares Leite sobre a invasão de celulares e explicou que não influenciou a atuação da Polícia Federal na investigação sobre as invasões às contas de Telegram de autoridades.
— Nunca foi feita gestão alguma da minha parte para influenciar neste caso ou na Polícia Federal”, disse o ex-ministro da Justiça por videoconferência, que complementou: — O delegado teve total autonomia para conduzir o caso da forma que ele entendia apropriada.
O ex-ministro da Justiça ainda declarou que “os ataques e as supostas mensagens roubadas foram utilizadas com sensacionalismo para frear o combate à corrupção e anular condenações de corruptores e corruptos”.
— Nós tínhamos o presidente da câmara, o presidente do STJ, o próprio presidente da República. Então o delegado responsável informou à diretoria da Polícia Federal, que me informou, e eu informei a essas autoridades que elas haviam sido, segundo o que a Polícia Federal havia informado, vítimas desses ataques. Havia uma necessidade de comunicar a elas porque ali poderiam estar envolvidas até questões relativas à segurança nacional — afirmou Moro sobre sua atuação.
O ex-ministro da Justiça ainda declarou que a invasão aos celulares dos procuradores da República prejudicou o sigilo de operações e que algumas dessas mensagens foram usadas “de maneira sensacionalista” para buscar “interromper investigações contra crimes de corrupção e anular condenações contra crimes de corrupção”.
— As consequências maiores não são tão pessoais para mim, já passei por coisa pior, mas para o país onde se tem uma tradição de impunidade e aí vem essas pessoas para minar esses esforços anticorrupção. Eu não vejo nenhum mérito na atuação desses hackers — disse ainda.
Além de Moro, também foi ouvida a ex-deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB), citada pelo hacker Walter Delgatti Neto, o “Vermelho”, como elo entre ele o jornalista Glenn Greenwald, do site “The Intercept Brasil”, que, depois, publicou série de reportagens que ficou conhecida como “Vaza Jato”.
Deflagrada em julho de 2019, a Operação Spoofing prendeu quatro pessoas suspeitas da invasão de celulares de autoridades. Ainda em 2019, Moro informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que não orientou a Polícia Federal a destruir as mensagens obtidas pelos hackers, em uma suposta “inutilização de provas”. A suspeita de que o então ministro da Justiça teria determinado a destruição das mensagens chegou a ser alvo de uma ação ajuizada pelo PDT para que as provas fossem preservadas. O ministro Luiz Fux barrou a destruição das mensagens.
Em seu depoimento, Manuela D’Ávila afirmou que, ao ser procurada pelo hacker, jamais recebeu pedido de pagamentos ou compensações financeiras – mas informou que, nas conversas, Walter Delgatti Neto dizia querer “fazer justiça”. Por isso, disse que o orientou a procurar Greenwald. “Todas as pessoas que denunciam são pessoas que, em tese, contribuem para fortalecer as instituições do país”, disse, ao ser questionada sobre o cometimento de crimes por parte dos hackers.