O efeito da reunião Lula-FHC para 2022

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Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação/Reprodução

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A política é feita de símbolos. A foto do encontro dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso divulgada na sexta-feira (21/05) é pródigo em mostrar o que o antibolsonarismo é capaz. Lula e FHC tem décadas de mágoas mútuas, mas se sentaram por três horas na casa do ex- ministro de ambos, Nelson Jobim, para discutir como superar o bolsonarismo. É a frente ampla na prática.

A reação ultrajada do PSDB ao encontro é tão comezinha quanto os índices dos candidatos do partido a presidente. A divulgação do encontro não implica em aliança, até porque a influência de FHC no PSDB é nula, mas numa constatação. FHC, que sempre manteve uma relação cordial com Fernando Haddad, votou nulo no segundo turno de 2018. Achava que o mal que o tsunami Bolsonaro seria capaz de fazer na presidência seria equivalente à montanha de erros do PT. O encontro revela uma revisão de FHC e de Lula, que passou anos reclamando da herança maldita que havia recebido.

O encontro é um marco na campanha Lula. O ex-presidente não esperava recuperar os seus direitos políticos tão cedo e muito menos estar em favoritismo nas pesquisas. Há uma certa improvisação na ação de Lula como candidato nessas últimas semanas, agindo mais na intuição do que no planejamento. O pedido a Nelson Jobim para marcar com FHC foi mais fruto de oportunismo pelas entrevistas recentes do que resultado de uma estratégia.

Leia mais em: https://veja.abril.com.br/blog/thomas-traumann/o-que-o-encontro-lula-fhc-muda-para-2022/A tática de Lula é congelar o cenário político atual até o ano que vem, no qual ele e Bolsonaro dominam corações e mentes. Isso depende de (1) a inoperância dos mesmos tucanos que agora reclamam de FHC, (2) do fracasso da reinvenção de Ciro em um antipetista hidrófobo e (3) da continuidade do radicalismo de Bolsonaro. Lula joga no erro dos adversários.

Existe um limite até onde um candidato pode ir. Ele pode reclamar, atacar, mas não pode agir _ prerrogativa de quem está no poder. Por isso, o que Lula pode fazer ao longo de 2021 é conversar, a sua especialidade.

Em 2022, o PT irá priorizar a eleição de deputados e se acomodar nas chapas pró-Lula a governador. Isso significa apoiar o MDB no Pará, Paraná e Alagoas, o PSD de Alexandre Kalil em Minas Gerais e, possivelmente, o PSOL de Guilherme Boulos em São Paulo.

Operação interessante ocorre com o PSB, partido cujo apoio o ex-presidente disputa com Ciro Gomes. Lula está apadrinhando a saída de Marcelo Freixo do PSOL e de Flavio Dino do PCdoB para que ambos se encaminhem ao PSB. O PT espera atrair o PSB em troca do apoio a Freixo, no Estado do Rio, e Geraldo Júlio, em Pernambuco.

O PT vai insistir em acordo, mesmo que informal, com o PSD e o PL, partidos que hoje integram a base do governo. Faz parte do jogo. Os partidos do Centrão apoiam qualquer governo, mas só vão decidir suas alianças em 2022 com base na perspectiva de eleição. Se nos seus Estados for mais conveniente apoiar Lula, voltarão sem remorsos. Se for Bolsonaro, idem.

O segundo ponto da ação lulista é a ofensiva externa. Semanas atrás, Lula se encontrou com embaixadores. Agora, deu entrevistas para o francês Le Express e o britânico The Guardian.

Enquanto se move na política, Lula adia o quanto pode a sua entrada na economia. Aqui vem as cicatrizes de 2002, quando o mercado inventou o lulômetro, o indicador de variação do dólar a cada ponto percentual que Lula ganhava nas pesquisas. Por isso a missão do futuro coordenador do programa de governo, Fernando Haddad, será fixar que o leme hoje está com Bolsonaro e Paulo Guedes e não com o PT.

A indicação de chapa só deve avançar no ano que vem. “(pelas especulações) Eu já tenho uns dez ministros da Fazenda e uns onze vices”, escreveu Lula no Twitter. Lula fará desse casamento uma novela. Vai namorar com várias possibilidades não porque desconhece o perfil de quem gostaria de ter na chapa, mas para manter a plateia olhando para ele enquanto faz a única coisa que precisa para ganhar em 2022, ganhar tempo.

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