Ataques de Ciro a Lula prejudicam PDT do Ceará

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Foto: Sérgio Lima/Poder360

A aliança estadual que dura desde 2006 no Ceará entre o PT e o grupo político dos Ferreira Gomes, liderado pelos irmãos Ciro e Cid Gomes, do PDT, começa a apresentar sinais de rachadura, num dos mais intrincados cenários para a eleição de 2022. Com a beligerância da pré-campanha de Ciro ao Planalto, baseada em ataques contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidenciável e ex-ministro corre o risco de ver o PT cearense escapar de sua órbita, ameaçando a hegemonia do clã. Um dos planos de Lula, apurou o Valor, seria o de ter a deputada federal Luizianne Lins, ex-prefeita de Fortaleza, como candidata ao Palácio da Abolição. Quem no PT também já pôs o nome à disposição para a construção de um “palanque leal” a Lula é o deputado federal José Airton Cirilo.

É uma saída que tem o potencial de desagradar a ala majoritária da legenda, controlada pelo também deputado federal José Guimarães, presidente do diretório regional do PT, aliado dos Ferreira Gomes. “Não necessariamente teremos candidato a governador. O Lula não precisa de ninguém para fazer o palanque dele no Ceará. Ele está disparado no Estado. Não tem aliança mantida a ferro e fogo, e nem é lançar candidatura como alguns querem. Calma”, diz Guimarães.

O ex-senador Eunício Oliveira (MDB), inimigo ferrenho de Ciro, também é cotado para encabeçar o palanque de Lula e teve reuniões recentes com o ex-presidente. “O Lula não ficará sem palanque no Ceará”, assevera o ex-parlamentar. Caso se concretize, o desmanche do casamento estadual entre PT e PDT tem o condão de dificultar a eleição do pré-candidato dos Ferreira Gomes a governador, o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (PDT).

No meio da discórdia e peça central no xadrez está o governador Camilo Santana, dividido entre a fidelidade ao PT – ao qual está filiado há 22 anos – ou a Cid e Ciro, que o apadrinharam na eleição de 2014. Ao Valor, o governador dá sinal de que não se desgarrará dos irmãos, ao enfatizar a importância do projeto estadual. “Primeiro, nós temos uma aliança de décadas com o PDT aqui, começou lá em Sobral. É um projeto que tem trazido resultados importantes para o Estado”, diz.

Devido ao conflito de lealdade e à sua gestão bem avaliada, Camilo tem, ao mesmo tempo, a situação mais fácil e a mais complicada entre os principais personagens da disputa no Ceará em 2022, afirmam interlocutores. Sua popularidade é a mais alta entre políticos regionais ou nacionais, inclusive Lula, que tenta puxá-lo para seu lado.

Questionado sobre esse movimento do ex-presidente, Camilo pondera: “Eu sou do PT, o Lula já tem sua popularidade natural aqui no Ceará, no Nordeste, no Brasil, mas vamos avaliar com a responsabilidade de pensar no futuro do meu Estado. Claro, [também] no futuro do Brasil. Mas sou governador, e tenho responsabilidade de garantir que esse projeto que está em curso tenha continuidade. A lealdade não é às pessoas. O que acredito é num projeto político”.

Além da saia-justa da escolha de Camilo entre o PT e os Ferreira Gomes, seu plano de se candidatar ao Senado, que em circunstâncias normais o colocaria como pule de dez, também está em risco e depende do jogo de interesses de Ciro e Cid.

Se ficar no PT e com Lula, para concorrer ao Senado, o governador romperia com os Ferreira Gomes e deixaria de contar com o apoio da máquina política comandada pelos atuais aliados, sem a qual reduziria em muito a sua competitividade. Camilo precisa se desincompatibilizar do cargo até abril, seis meses antes da eleição. No lugar, assumiria a vice-governadora Izolda Cela (PDT), de confiança dos irmãos Gomes.

Apesar da popularidade conquistada em dois mandatos, Camilo teria contra ele a rede de vereadores, prefeitos e deputados ligados ao grupo político. “Camilo não tem ‘vaqueiro’, ou seja, ninguém para trabalhar e pedir voto para ele. Não tem um secretário no próprio governo dele. É quase tudo do Cid e do Ciro. Só tem uma secretaria, que não é dele. É PT, mas controlada pelo Zé Guimarães”, afirma um político do Estado.

Se sair do PT para apoiar Ciro e o candidato do grupo à sucessão, Camilo ficaria com a pecha de traidor de Lula. “Para ele, é a velha história: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, define o mesmo interlocutor.

Camilo afirma que “está tranquilo” e é “privilegiado por ter dois grandes homens e brasileiros [Lula e Ciro] ao seu lado”. Nos bastidores, porém, o governador atua para apaziguar os ânimos e reduzir a agressividade de Ciro, que irrita tanto o PT quanto o próprio PDT. Foi de Camilo a iniciativa do encontro em que Lula e Ciro se reuniram em São Paulo, em setembro do ano passado, para selar a paz. Desde então, no entanto, o ex-ministro não apenas voltou à carga, como aumentou a virulência dos ataques.

Camilo Santana sugere que em 2022 sua saída poderá ser a mesma adotada em 2018, quando ofereceu palanque duplo para Ciro e para o candidato do PT ao Planalto, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad – um acordo de cavalheiros que hoje é visto por alguns como impraticável, dado o nível de hostilidades. “Fizemos isso em 2018. A eleição nacional dificilmente se resolverá no primeiro turno. Não podemos fechar portas, temos que deixá-las abertas. Se o Lula e o Ciro forem candidatos, caso um ou outro vá para o segundo turno, é deixar o outro apoiar – numa situação em que os dois forem candidatos”, ressalva novamente. Indagado se Ciro e PDT podem retirar a candidatura para apoiar o PT, Camilo afirma: “Há muitos caminhos ainda, muita coisa pode mudar, eu acredito. Vou lutar até o último dia, mesmo que seja uma coisa difícil”.

Na sexta-feira, pesquisa do Ipec, instituto formado por pesquisadores egressos do Ibope, apontou que Lula, com 49% das preferências, ganharia no primeiro turno se a eleição fosse hoje, contra 23% de Bolsonaro e 7% de Ciro.

Para o deputado José Airton Cirilo, o palanque duplo de 2018 não é mais possível e a parceria entre PT e PDT precisa ser desfeita, a não ser que os Ferreira Gomes concordem em abrir mão da cabeça de chapa a governador para indicar o vice. “Vamos trabalhar para a construção de um palanque leal a Lula e termos uma candidatura própria, porque nossa aliança com o PDT se deu em outra conjuntura. Não tem mais condição, com o Ciro não dá. Como conciliar aqui se ele vem atacando, sistematicamente, de forma virulenta, covarde, cruel, o presidente Lula e todos nós do PT? Não vejo como. Há uma insatisfação muito grande na militância”, afirma Cirilo.

O petista argumenta que há um forte sentimento anti-Ferreira Gomes no Estado, refletido no desempenho do deputado federal Capitão Wagner na eleição a prefeito do ano passado, quando o parlamentar perdeu para José Sarto (PDT) mas conquistou 48,3% dos votos. De saída do Pros para o PSL, Wagner é pré-candidato a governador.

Cirilo argumenta ainda que é natural que o PT indique o sucessor de Camilo Santana, como nos Estados onde o partido tem o governador, como Bahia, Piauí e Rio Grande do Norte. O deputado foi candidato majoritário pelo PT em 1998 e 2002, quando – embalado pelo slogan “É Lula lá e Zé Airton cá” – obteve 49,96% dos votos válidos e perdeu para o tucano Lúcio Alcântara por apenas 3.047 votos.

Fonte próxima do ex-presidente diz que “a chapa dos sonhos” de Lula seria contar com Camilo ao Senado e Eunício para governador – o que não é o mais provável: “O Camilo vai apoiar Ciro Gomes e, aí, a candidata do PT ao governo será a Luizianne, não tenho dúvida”. Guimarães afirma que Lula nunca lhe disse isso. “Não estou nem sabendo se ela colocou o nome. É preciso que não se embrenhe por essa TPE, a tensão pré-eleitoral”. Procurada, a deputada não respondeu ao Valor.

Valor Econômico

 

 

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