Casamento gay e aborto dificultam relação da esquerda com evangélicos

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Foto: Reprodução / Agência O Globo

Crescente nos últimos dez anos, o eleitor evangélico costuma ser crucial para um bom desempenho nas urnas. Cerca de 80% votaram no presidente Jair Bolsonaro em 2018. Neste 2021 a adesão já não é tão sólida, apesar de majoritária, segundo a pesquisa Ipec divulgada na quinta-feira.

O levantamento, que apontou que o petista Luiz Inácio Lula da Silva seria eleito no primeiro turno se a eleição fosse hoje, também mostrou uma queda na aprovação positiva de Bolsonaro entre os evangélicos. O percentual caiu de 38%, há quatro meses, para 29%, de acordo com as 2.002 pessoas ouvidas pelo Idec em 141 municípios entre os dias 17 e 21 de junho.

O movimento guarda relação com dois movimentos feitos por Lula e Ciro Gomes, do PDT, esta semana. Os dois nas redes sociais. Ciro postou um vídeo em que segura a Bíblia em uma mão e a Constituição em outra, em que reforça que “os dois livros não são incompatíveis” e que o Brasil “se formou no berço do cristianismo”. Lula, no Twitter, após o Supremo Tribunal Federal julgar de vez que o ex-ministro Sergio Moro foi parcial nos julgamentos do petista na Lava-Jato, publicou mensagens em que diz que “muita coisa” em sua vida “tem o dedo de Deus”, que o período em que esteve na prisão foi uma “provação da fé”, e que teve criação religiosa.

A redução da avaliação positiva do governo Bolsonaro entre os evangélicos não é admitida por muitos líderes destas denominações. Alguns argumentam que houve críticas nas redes sociais protestantes com o encontro recente de Lula com o presidente da convenção da Assembleia de Deus, Manuel Ferreira. Um dos mais atuantes, Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, mantém o apoio ao presidente.

Mas é preciso lembrar que na própria origem do protestantismo está a vontade de não se submeter a um líder religioso específico: o papa. E vale voltar os olhos para outra pesquisa, feita pelo Instituto Perseu Abramo, do PT, em 2017. Foi feita a partir de conversas com moradores da periferia de São Paulo. Nelas, ficou evidenciado como os frequentadores de igrejas pentecostais não tinham problemas em mudar de denominação se aquela em que estivessem não as agradasse. Nem sempre quem está no púlpito vê tudo o que acontece na sua congregação.

Uma questão, no entanto, costuma causar desconforto entre os evangélicos, e pode ser um obstáculo para candidatos de esquerda avançarem neste campo: a defesa das políticas identitárias Para conquistar os eleitores evangélicos, será preciso não mencionar bandeiras como o casamento gay, por exemplo. Como virar o voto do fiel evangélico sem decepcionar o fiel eleitor da esquerda?

Mas há variáveis de maior relevância: se a economia e a pandemia seguirem erodindo a popularidade do presidente, com a alta de preços e o avanço de mortes e de novos casos de Covid-19, uma via se abre. Os líderes costumam, na reta final, apostar nos candidatos com chance real de vitória.

O Globo 

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