Governistas tentam transformar “cloroquinas” em questão de opinião

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Foto: Pedro Ladeira/Folhapress/Reprodução

Senadores governistas ficaram furiosos com o cancelamento de um par de depoimentos na CPI da Covid. Eles queriam receber dois médicos que defendem o uso da cloroquina contra a doença. Na mesma sessão, seriam ouvidos profissionais que apontam a ineficácia comprovada do medicamento. O show de falso equilíbrio foi desmarcado.

A CPI dá palanque para médicos, agentes públicos e parlamentares que tentam passar um verniz científico na negligência de Jair Bolsonaro. O presidente transformou em política oficial um remédio que não funciona, mas a tropa de choque do governo insiste em tratar esse delírio como uma questão de opinião.

Bolsonaristas fizeram uma aliança com médicos favoráveis à cloroquina com o objetivo de apontar alguma fundamentação técnica na escolha feita pelo presidente. O esforço é grande, mas não se sustenta.

Na terça (1º), a convite da tropa do governo, a médica Nise Yamaguchi defendeu o remédio e levou à CPI uma pilha de pesquisas que comprovariam sua eficácia. Quando o senador Alessandro Vieira (Cidadania) perguntou se alguma revista prestigiada havia publicado os estudos, ela não conseguiu citar nenhuma.

O debate enganoso faz com que aliados de Bolsonaro passem vergonha na comissão. Luis Carlos Heinze (PP) se notabilizou por despejar dados fora de contexto e sem critério para defender a cloroquina. Já Marcos do Val (Podemos) fabricou uma equivalência artificial ao dizer que é preciso “respeitar os que receitam e respeitar os que não receitam”.

O absurdo dessa tática ficou evidente no depoimento da médica Luana Araújo. Desconvidada para um cargo no Ministério da Saúde por rejeitar o medicamento, ela precisou lembrar que “ciência não é opinião”. “Eu posso juntar a opinião de um milhão de pessoas. Elas vão ser, ainda assim, opiniões”, declarou.

Assim como o jornalismo não deve ser palco para propagadores de mentiras, teorias infundadas e informações distorcidas, a CPI precisa mostrar que nem tudo tem dois lados.

Folha