Patriota aceita dar total do partido a Bolsonaro para ele se filiar
Em negociação para eventual filiação ao Patriota, o presidente Jair Bolsonaro pediu para filtrar as candidaturas do partido ao Congresso.
Sem citar nomes, o presidente tem dito nas conversas com a legenda que quer evitar traições após a eleição, como ocorreu no PSL.
Antes mesmo de romper com o PSL, Bolsonaro passou a ser criticado por ex-aliados, como o deputado Alexandre Frota (hoje no PSDB-SP) e a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), que chegou a ser líder do governo no Congresso.
O presidente do Patriota, Adilson Barroso, aceita ceder esse controle, inclusive sobre as filiações ao partido.
“Mas tem muito lobo em pele de cordeiro. Vai ser difícil um filtro 100% [eficaz]. Vamos fazer o melhor possível. A gente vai lutar por isso”, afirmou Adilson à Folha.
1 6
Quem são os principais líderes do Patriota
O presidente, contudo, já reconheceu que a investida não se concretizará para o pleito de 2022. Por isso, busca um partido para disputar a eleição.
Na semana passada, Adilson se reuniu com Bolsonaro, em Brasília, e oficializou o convite para que o presidente se filiasse ao Patriota.
Bolsonaro pediu um tempo para dar a resposta. Ele quer consultar aliados próximos antes de tomar essa decisão.
Um encontro entre o presidente e congressistas mais ligados a ele está previsto para a próxima semana. A data ainda será definida.
Três integrantes da ala bolsonarista do PSL relataram que a tendência do grupo é não apresentar rejeições a uma filiação ao Patriota, que é um partido nanico —recebeu uma cota de R$ 35 milhões do fundo eleitoral no ano passado, enquanto o PSL levou quase R$ 200 milhões.
Antes da negociação com o Patriota, foi apresentada a possibilidade de Bolsonaro retornar ao PSL, apesar do rompimento com a cúpula da sigla. Mas, segundo aliados do presidente, a probabilidade de isso acontecer atualmente é baixíssima.
Com isso, o Patriota tem se fortalecido na disputa pela filiação do presidente. O filho dele, senador Flávio Bolsonaro (RJ), trocou o Republicanos, sigla aliada do governo, pelo partido de Adilson.
Isso abriu caminho para que o presidente dispute a eleição no próximo ano pelo Patriota. Ele, porém, deve esperar o clima dentro da sigla, que está rachada, arrefecer.
Antes do pleito de 2018, Bolsonaro chegou a negociar sua ida ao Patriota, mas depois foi para o PSL.
Naquele ano, o PSL, que tinha apenas um representante na Câmara, conseguiu eleger 52 deputados federais —a segunda maior bancada na Casa logo após o resultado das urnas.
Ainda que preliminares, as projeções de Adilson e Bolsonaro, segundo o presidente do Patriota, são: 70 a 80 deputados federais e até 10 senadores eleitos em 2022. Hoje, a sigla tem 6 deputados federais e o senador Flávio.
Na negociação, Adilson também colocou suas cartas na mesa e requisitou apoio de Bolsonaro para se eleger deputado federal. “Vou fazer até o PT [na Câmara] votar em você”, disse o dirigente partidário a Bolsonaro ao pedir o voto de confiança.
Adilson já concorreu ao cargo de deputado federal, mas não conseguiu se eleger. Antes ele já foi vereador e vice-prefeito de Barrinha (SP), além de deputado estadual em São Paulo.
O presidente do Patriota, se alçado à Câmara, traçaria caminho semelhante ao de Luciano Bivar (PE), que comanda o PSL e foi eleito deputado federal no pleito de 2018, com apoio de Bolsonaro.
O presidente, porém, quer evitar atritos internos, que foram recorrentes no na sigla de Bivar.
“Ele [Bolsonaro] quer um controle de quem entra [no partido], porque não quer aquele povo que vem usar o nome dele, ganha a eleição e depois usa os palanques do Congresso para criticar o governo e os projetos dele”, disse Adilson.
Em outubro de 2019, Bolsonaro conversou com um apoiador e expôs a crise dentro do PSL. Ele disse que Bivar estava “queimado pra caramba”. Pouco mais de um mês depois, Bolsonaro deixou a legenda.
Outro desafeto dentro do PSL foi o ex-senador Major Olímpio (PSL-SP), que morreu por complicações da Covid-19.
No ano passado, Olímpio chamou Bolsonaro de traidor e afirmou que a briga com ele foi por causa da pressão para apoiar uma investigação no Senado contra o Judiciário, que, segundo o ex-congressista, seria “para proteger filho bandido” do presidente.
Contra esse histórico de rompimentos, a tendência é que críticos a Bolsonaro deixem o Patriota, se o presidente se filiar à sigla. É o caso do MBL (Movimento Brasil Livre), que abandonou Bolsonaro após a eleição.
Um dos representantes do grupo é o deputado estadual Arthur do Val (SP). O vereador paulistano e advogado do MBL Rubinho Nunes foi expulso da sigla. Segundo ele, o motivo foram as críticas à filiação de Flávio.
Em entrevista à Folha, no início do mês, Adilson já havia indicado que quem for contra o presidente da República deverá sair. “Se eles são contra o Bolsonaro, eles são a favor de quem, né?”, afirmou na época.
O Patriota vive uma briga interna após integrantes da Executiva do partido acusarem Adilson de golpe durante uma convenção convocada para mudar o estatuto da sigla e anunciar a filiação do filho de Bolsonaro.
Essa disputa ganhou um novo capítulo nesta quinta-feira (10). Um cartório de Brasília determinou que a legenda preste esclarecimentos sobre a convenção e sobre o quórum exigido para a reunião.
A ala adversária de Adilson já havia acionado o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para que a convenção fosse anulada, mas o ministro Edson Fachin rejeitou a ação dizendo que ela deve ser encaminhada à Justiça comum.
Folha de SP