Senadores se estapeiam por vaga no TCU

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Foto: Reprodução

De olho na formação de uma maioria governista no Tribunal de Contas da União (TCU) como forma de se blindar contra eventuais acusações de improbidade, o governo Jair Bolsonaro provocou uma disputa entre caciques do Senado. A rixa tem como pano de fundo a possível aposentadoria antecipada do ministro Raimundo Carreiro e colocou em campos opostos, nos bastidores, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

O imbróglio começou quando o Palácio do Planalto sinalizou que poderia indicar Carreiro para o posto de embaixador do Brasil em Portugal. A oferta não veio de graça. Seria uma forma de antecipar a aposentadoria dele em dois anos e, com isso, permitir que Bolsonaro tenha um ministro mais favorável a seu governo na Corte.

A articulação envolveria também Rodrigo Pacheco, já que a vaga de Carreiro está no grupo de cadeiras cuja escolha depende do Senado. Das nove vagas de ministros que existem no TCU, três são indicações exclusivas do Senado, três da Câmara dos Deputados e as outras três do Executivo.

Neste contexto, ganhou força o nome do senador Antonio Anastasia (PSD-MG), que é conterrâneo do presidente do Senado. Os emedebistas enxergam neste desfecho, no entanto, uma ofensiva de Pacheco para favorecer um antigo amigo: Alexandre Silveira, que trabalhou na campanha do presidente do Senado em 2018.

Ele é suplente de Anastasia e, no caso de sua indicação para o TCU, assumiria como senador por Minas Gerais. Recentemente, Silveira foi nomeado, inclusive, como diretor de Assuntos Jurídicos do Senado. Além disso, ele é presidente do PSD em Minas, partido que tem cortejado Pacheco até mesmo para uma possível candidatura a presidente da República.

Diante da movimentação, o MDB reagiu. Renan Calheiros e seus aliados iniciaram conversas para emplacar a senadora Kátia Abreu (PP-TO) na vaga, o que atrapalharia os planos de Pacheco. Com essa manobra, o MDB tem uma carta na manga: Kátia é presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado, colegiado que é responsável justamente por apreciar indicações para as embaixadas.

Como a senadora é muito próxima de Renan e também teria interesse em ser indicada ao TCU futuramente, avisou que, se Carreiro for indicado a uma embaixada, ela não coloca a indicação em pauta nem marca sabatina, travando todo o processo. Além disso, os emedebistas dizem ter acordo com Carreiro para que ele só deixe a vaga no TCU com aval do partido.

Agora, emedebistas e aliados de Pacheco conversam, nos bastidores, sobre como resolver o impasse. A situação gerou especulações até mesmo sobre uma possível intermediação do ex-presidente José Sarney, que foi ao Senado para receber uma homenagem, na semana passada, e se encontrou com Pacheco. Apesar disso, interlocutores do presidente do Senado negam que ele tenha conversado com o cacique emedebista sobre o assunto.

Nomes próximos a Pacheco rechaçam também que ele tenha se movimentado para beneficiar Alexandre Silveira. Pelo contrário. Seria apenas conversas em auxílio a Anastasia, que não teria mais interesse em continuar na política e considerava assumir uma vaga no TCU no final de seu mandato. Os aliados de Pacheco dizem que Anastasia tem perfil técnico e, por isso, seria um dos mais preparados para compor a Corte do tribunal.

Já Anastasia tem evitado falar do assunto. A única certeza, dizem pessoas próximas, é que o senador do PSD está longe de ser um governista e dificilmente atuaria com esse viés no TCU. Apesar da “ajuda” vinda do Palácio do Planalto, o senador do PSD é bastante contrário às práticas de Bolsonaro — motivo pelo qual inclusive rechaçou no ano passado ser o candidato à Presidência do Senado com apoio do antecessor, Davi Alcolumbre (DEM-AP) e do governo.

Esta não é a primeira vez que o governo Bolsonaro tenta colocar aliados no TCU. Recentemente o Executivo indicou o ex-ministro Jorge Oliveira para a Corte.

Valor Econômico