Centrão passa a governar junto com Bolsonaro

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Foto: Ailton de Freitas/Valor

A escolha do senador Ciro Nogueira (PI), presidente do Progressistas (PP) e líder do Centrão, para a assumir a Casa Civil no lugar do general da reserva Luiz Eduardo Ramos evidencia que a crise política é grave e preocupa o presidente Jair Bolsonaro ao ponto de ele finalmente dispensar intermediários na interlocução com o bloco de aliados que lhe dá sustentação no Congresso. Ciro Nogueira no ministério mais importante do Palácio do Planalto significa, na prática, o Centrão no comando do governo.

É a primeira vez, desde o surgimento do Centrão, durante os trabalhos da Assembleia Constituinte, que um líder do bloco assume a cadeira mais relevante do governo. Tradicionalmente, a Casa Civil é comandada por um aliado da confiança absoluta do presidente. Em geral, dos quadros do partido. Sem partido, Bolsonaro tinha até então generais da reserva ao seu lado. Ramos substituiu Walter Braga Netto, remanejado para a Defesa.

Houve exceções no curso da história, mas a expectativa em torno de Nogueira é que, no desempenho da função, ele restabeleça a força do ministério, e evoque antecessores poderosos, como foram Eliseu Padilha com Michel Temer, Antonio Palocci com Dilma Rousseff, José Dirceu com Luiz Inácio Lula da Silva e Pedro Parente com Fernando Henrique.

A longevidade na cadeira, entretanto, é sempre uma incógnita. Palocci teve uma passagem relâmpago; Dirceu saiu muito antes do desejado. Mas enquanto tiveram a caneta nas mãos, foram donos do poder. Nogueira ainda responde a investigações no Supremo Tribunal Federal, decorrentes da Lava-Jato. E pode se desincompatibilizar em abril, caso decida concorrer ao governo do Piauí.

Acrescente-se que o Centrão contará com dois assentos no quarto andar do Planalto: Nogueira vai atuar em sintonia com a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda (PL), que já vem articulando em dobradinha informal com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Em outras palavras, o governo Bolsonaro terá os próceres do Centrão, Ciro Nogueira e Valdemar Costa Neto, presidente do PL – protagonistas de escândalos como o Mensalão e a Lava-Jato – na linha de frente do Planalto.

Mas Nogueira chega ao Planalto com o aval pleno de quem manda no governo: o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ). Nos últimos meses, Nogueira aproximou-se ainda mais de Flávio, e de outro ministro influente junto ao presidente, o titular das Comunicações, Fábio Faria. Esse, aliás, já sinalizou que trocará as fileiras do PSD pelo PP.

Vale lembrar que Nogueira integrou as duas comitivas lideradas por Fábio Faria ao exterior para tratar da implementação do Brasil na tecnologia 5G. Em fevereiro, o grupo visitou cinco países da Europa e Ásia. Em junho, foram aos Estados Unidos. Enquanto participavam de reuniões sobre 5G, o trio afinava a estratégia para contornar a crise política. A solução veio a público agora com a mudança na Casa Civil.

Nogueira está em viagem ao exterior e já pediu a assessores para anteciparem seu retorno para o fim de semana. Ele assumirá a cadeira com algumas missões principais: assegurar a aprovação no Senado da indicação do ministro da Advocacia-Geral da União, André Mendonça, ao Supremo Tribunal Federal, e a recondução de Augusto Aras à Procuradoria-Geral da República.

No curto prazo, administrará a crise em torno do veto ao fundão eleitoral de R$ 5,7 bilhões. No médio prazo, tentará conter o avanço da CPI da Covid sobre os contratos suspeitos do Ministério da Saúde, e aliados de Bolsonaro. Nogueira vai lidar com o aguardado depoimento do líder do governo na Câmara, e seu correligionário, Ricardo Barros (PR), previsto para agosto. Se Barros tiver um desempenho a desejar, deverá ser afastado do cargo. Com o presidente da legenda na Casa Civil, Bolsonaro vai se sentir mais confortável para substituir o aliado. Também seria muito poder concentrado no Progressistas, que já tem Arthur Lira (AL) no comando da Câmara.

Desde que a deu sinais de que teria fôlego para desgastar o governo, o senador Flávio Bolsonaro alertava o Planalto de que era preciso ajustar a interlocução com os senadores, que não se sentiam contemplados com a interface com a ministra Flávia Arruda. A relação do Senado com o Planalto está azeda.

O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), antigo aliado de primeira hora do Planalto, acenou que não tem pressa para agendar a sabatina de André Mendonça. Em outro capítulo da crise, há algumas semanas, os senadores aprovaram a indicação de Paulo Roberto Rebello Filho para o cargo de diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), à revelia do Planalto. Bolsonaro havia retirado a indicação horas antes, porque Rebello é ligado a Ricardo Barros, o que adicionaria mais ingredientes ao escândalo da compra da vacina indiana Covaxin, alvo da CPI.

Nogueira é reconhecido pela personalidade afável, de trato fácil, e avesso a confrontos. Entretanto, é firme na hora de cobrar o respeito aos acordos. Tem tudo para melhorar a relação do Planalto com o Senado. Mas ele dificilmente reverterá a minoria governista na CPI, bem como a aprovação do duro relatório do senador Renan Calheiros (MDB-AL), que está em gestação.

Valor Econômico 

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