Itamaraty tenta desfazer estragos de Ernesto Araújo

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Foto: Evaristo Sá/AFP

Após as controversas passagens de Ernesto Araújo e Ricardo Salles no governo Bolsonaro, com danos evidentes à política externa brasileira, o país caminha lentamente na tentativa de reconstruir a imagem na comunidade internacional. Parlamentares e especialistas ouvidos pelo Correio consideram positiva a demissão dos ex-ministros, mas avaliam que o novo chanceler, Carlos França, tem muitos passos a avançar na diplomacia.

Primeiro-vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa da Câmara, o deputado Rubens Bueno (Cidadania-PR) afirma que, aos poucos, o Itamaraty reencontra a tradição e o profissionalismo, seguidamente prejudicados pelo viés ideológico de Araújo. “O atraso foi expurgado. O atual ministro França começa a reconstruir as pontes que haviam sido dinamitadas pelo seu antecessor. O Itamaraty volta a retomar sua tradição, apesar da indiferença do presidente da República”, ressalta o deputado.

Ele relata uma recente reunião com o embaixador da Índia no Brasil, Suresh Reddy, que está otimista com os rumos das relações bilaterais entre os dois países. “Com os Estados Unidos, a relação também parece sensata agora, assim como vejo positiva a reação da União Europeia e da China”, avalia Bueno.

Com relação ao clima, discute-se a adesão do Brasil ao Programa Internacional de Ação sobre o Clima (IPAC) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). “O embaixador José Sarquis, Secretário de Comércio Exterior e Assuntos Econômicos do MRE, garantiu que o Brasil quer se tornar membro pleno da OCDE. Esta, segundo ele, é uma prioridade para a nossa política externa. E já mudamos o discurso de ataque contra as outras nações sobre a área ambiental. Aos poucos estamos voltando para a civilidade”, destacou o primeiro-vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.

Mas ainda há reservas em relação aos novos ventos no Itamaraty. O professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Günther Richter Mros, observa que o atual chanceler tem uma trajetória discreta. “Bolsonaro, todavia, tem um perfil mais próximo ao do antigo chanceler. Então não acredito que o trabalho de Carlos França vá muito além do protocolar”, critica.

Günter Mros vê problemas no Mercosul, por exemplo. Ele lembra que o bloco tem como característica um processo decisório intergovernamental, com pesos iguais. Mas nenhum consenso tem se mostrado possível entre os atuais presidentes do Brasil e da Argentina, na avaliação do especialista. A relação com os EUA, continua Günther, depende de uma aproximação com o governo de Joe Biden, que tem como uma das principais bandeiras a mudança de matriz energética no mundo. Essa nova diretriz da Casa Branca vai de encontro à visão do governo Bolsonaro, apesar dos compromissos ambientais assumidos pelo presidente brasileiro na Cúpula do Clima.

“O comércio é diretamente atingido pelas políticas retrógradas na área de meio ambiente justamente porque as cadeias produtivas estão cada vez mais integradas e atreladas a políticas de sustentabilidade com a cobrança de consumidores mais conscientes. Além disso, os direitos humanos no Brasil são um problema recorrente que piorou no governo de Jair Bolsonaro. Tanto é que o nome dele já aparece em algumas denúncias junto ao Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade, em especial no que tange os povos indígenas”, acrescenta Günter Gros.

Ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Rubens Barbosa acrescenta que o novo ministro segue as políticas impostas internamente pelo presidente Bolsonaro, mas notou uma atenuação de discurso. “Para uma mudança significativa, seria necessário esperar a eleição de 2022. França faz o que é possível para reconstruir relações, mas não pode ir contra as políticas de governo. A curto prazo, houve uma atenuação. Ele claramente reduziu os excessos”, acredita Barbosa.

Ele ressalta que os EUA e a China exercem uma forte pressão sobre decisões do Brasil em temas como a tecnologia 5G. Mas defende que o Brasil não deveria tomar partido, e sim buscar o resultado mais favorável. “Creio que França está ajudando o país a se tornar equidistante dos dois grupos. Para o 5G ser efetivado, o Brasil precisa ter autonomia, não se encaixando em questões ideológicas ou geopolíticas”, observa.

Por fim, Barbosa destaca que na área ambiental, caso o governo não apresente evolução, vai enfrentar sérios problemas. “Os EUA já possuem legislação que possibilitam restrição de produtos brasileiros”, alerta.

O diplomata Paulo Roberto de Almeida vê mudanças importantes no Itamaraty. Segundo ele, na gestão de Ernesto Araújo, a política externa foi influenciada pelo bolsolavismo. “Foi um discurso de esquizofrenia diplomática. Com isso, o país ficou isolado. Com França, o país voltou às bases funcionais da diplomacia profissional na política externa e teve o restabelecimento da sensatez”, acredita. Almeida observa que é necessário estabelecer diálogo com Alemanha,França, Grã Bretanha, EUA e China, além dos países vizinhos.

O ex-chanceler Celso Amorim, que esteve à frente do Itamaraty de 2003 a 2010, afirma que Carlos França sofre limitações. “O novo ministro tem procurado aproximar um pouco da normalidade, mas ainda está longe. O Mercosul está sendo um desastre e vai ter consequências”. Amorim vê avanços tímidos. “França tirou um aspecto alucinatório da política externa, é um progresso. Não é culpa do ministro se ele está limitado pela situação política do Brasil. É difícil um país ter política externa positiva onde o líder usa palavras de baixo calão para falar da CPI, trata ministros do STF de maneira desrespeitosa. Isso destrói a nossa credibilidade”, conclui.

Correio Braziliense

 

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