Pedidos de propina de diretor da Saúde eram “insistentes”

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Foto: Pedro França / Agencia Senado

A CPI da Covid ouve hoje, a partir das 9h, Cristiano Carvalho, representante no Brasil da empresa americana de produtos hospitalares Davati Medical Supply, que propôs a venda de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca ao governo federal. O depoimento acontece após relato de pedido de propina por então integrantes do Ministério da Saúde na negociação.

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux, deu a Cristiano o direito de ficar em silêncio. Ele havia pedido ao Supremo autorização para não comparecer à audiência, mas não foi atendido. Na decisão, Fux determinou que Cristiano pode se calar apenas diante de perguntas que possam incriminá-lo, mas tem o dever de responder aos demais questionamentos.

O cabo da Polícia Militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominghetti, que se apresenta como vendedor da Davai, afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo que, em jantar em 25 de fevereiro deste ano, em Brasília, recebeu pedido de propina pelo então diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias.

O valor da propina seria de US$ 1 por dose de imunizante comprado pelo governo federal, segundo Dominghetti —reafirmou a proposta em depoimento à CPI. Dias, por sua vez, ao falar aos senadores, negou qualquer pedido de propina, embora tenha admitido ter mantido conversas sobre vacinas com um policial militar e um reverendo.

O ex-diretor da Saúde acabou preso após o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), considerar que ele mentiu à comissão. Dias pagou fiança de R$ 1,1 mil e foi solto na mesma noite.

Oficialmente, a Davati negou ter conhecimento do pedido de propina e reforçou que Dominghetti não representa a empresa no Brasil. Somente Cristiano seria seu representante credenciado. Segundo Dominghetti, a solicitação da propina foi relatada a Cristiano e este teria sido o responsável por estimulá-lo a revelar o suposto esquema.

Mensagens mostram que Cristiano manteve conversas com Roberto Dias, o então secretário-executivo do Ministério da Saúde, coronel Élcio Franco, e Marcelo Blanco, coronel da reserva e ex-assessor de Dias na pasta, antes mesmo da formalização da proposta da Davati para o fornecimento de vacinas contra a covid-19.

Senadores querem saber o motivo da negociação informal e detalhes da tratativa. Cristiano teria, inclusive, procurado marcar um encontro com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para tratar da oferta diretamente com o mandatário. O negócio não foi para frente.

A CPI quer ainda que Cristiano explique a participação do reverendo Amilton Gomes de Paula nas tratativas para as 400 milhões de doses de Oxford/AstraZeneca.

Amilton preside a Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários), que, apesar do que o nome possa levar a entender, é uma instituição privada. Até 2020, a Senah se chamava Senar (Secretaria Nacional de Assuntos Religiosos).

Segundo informações reveladas pelo Jornal Nacional, da TV Globo, Amilton recebeu aval do diretor de Imunização do Ministério da Saúde, Lauricio Monteiro Cruz, para negociar a compra de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca em nome do governo brasileiro com a Davati.

O depoimento de Amilton à CPI estava previsto para ontem, mas ele apresentou atestado médico para não falar aos senadores. A expectativa agora é que ele vá à comissão somente em agosto, após o recesso parlamentar.

Outro ponto a ser levantado pelos senadores é a real intenção de Dominghetti, em seu depoimento, ter mostrado áudio que sugere que o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) tentou intermediar a compra de vacinas contra a covid-19. A mensagem, no entanto, não esclarece do que se tratava a negociação.

Luis Miranda afirma que o áudio é antigo e não se refere à negociação de vacinas, mas, sim, de luvas cirúrgicas. Miranda e o irmão, o servidor do departamento de importação do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, denunciaram suposta pressão atípica para a liberação da vacina indiana Covaxin ao Brasil.

Senadores de oposição chegaram a falar que Dominghetti poderia ser uma testemunha “plantada” para confundir os trabalhos da CPI. O policial militar disse que recebeu o áudio de Cristiano e, após ser questionado pelos parlamentares, disse que pode ter sido induzido ao erro.

Cristiano disse ao jornal O Globo que Luiz Paulo Dominghetti “quer aparecer” e afirmou acreditar que a mensagem se trata sobre os negócios de Luis Miranda nos Estados Unidos. Disse, também, que o áudio citado durante o depoimento de Dominghetti à CPI não tem nenhuma relação com a Davati.

Pedidos de mais informações
A CPI da Covid pretende votar hoje cerca de 40 requerimentos com pedidos de mais informações para o andamento das investigações da comissão, como dados sobre todo o processo de compra da Covaxin ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e indicação do responsável que teria suprimido o acesso de Luis Ricardo Miranda ao sistema da pasta, já recuperado.

Outros pontos de interesse da CPI são:

todos os relatórios e informações de inteligência, com as correspondentes cópias, a respeito de Antônio Élcio Franco, Marcelo Blanco da Costa, Alexandre Martinelli Cerqueira e Eduardo Pazuello por parte do Comando do Exército Brasileiro;

informações sobre as campanhas publicitárias desenvolvidas pelo governo federal sobre a covid-19, entre março de 2020 a junho de 2021;

informações sobre a atuação do Facebook, Instagram e Twitter perante a pandemia desde o ano passado;
compartilhamento das informações obtidas pela CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) das Fake News acerca de dados enviados pelo WhatsApp e Facebook, fora colaboração de equipe técnica, com acesso a autos e materiais sigilosos;

informações da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), Infraero, Receita Federal e Polícia Federal sobre o suposto voo fretado do sócio da Precisa Medicamentos, Francisco Maximiano, entre o Brasil e a Índia, em 5 e 6 de janeiro de 2021;

registros de voos realizados pelo deputado estadual Fausto Júnior (MDB-AM) –relator da CPI da Saúde na Assembleia Legislativa do Amazonas– entre Manaus e São Paulo nos últimos dois anos, entre outras pessoas.

Uol  

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