Quebra de sigilo expõe diretor da propina na Saúde

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Foto: ADRIANO MACHADO / REUTERS

Dados da quebra de sigilo telefônico do ex-diretor de logística do Ministério da Saúde Roberto Dias revelam uma série de contatos com uma empresa investigada pela CPI da Covid, além de ligações e mensagem de texto com políticos da base do governo Bolsonaro. Os registros, aos quais O GLOBO teve acesso, estão sendo analisados pela CPI da Covid e fazem parte de uma frente de investigação que apura suspeitas de irregularidades em contratos firmados pela pasta durante a pandemia.

Os dados abrangem o período de abril de 2020 a junho de 2021 e desconsideram as chamadas realizadas por aplicativos de mensagens eletrônicas como WhatsApp ou Telegram. Segundo os registros, a pessoa com quem Dias mais manteve contato foi Andreia Lima, CEO da VTC Operadora Logística. Ao todo, foram 135 ligações entre os dois. O ex-diretor da Saúde atendeu a 129 chamadas de uma linha de telefone celular utilizada pela executiva. Ele, por sua vez, realizou seis chamadas para ela. Somados os tempos de todas as ligações, os dois se falaram por quatro horas e dezoito minutos.

A VTC Log entrou na mira da CPI em meio a suspeitas envolvendo contratos obtidos com o Ministério da Saúde. Na semana passada, O GLOBO mostrou que os negócios da empresa com a pasta aumentaram 70% no período em que o ministério foi comandado pelo atual líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), entre 2016 e 2018. No total, os contratos somaram R$ 257 milhões, dos quais R$ 253 milhões sem licitação.

O Jornal Nacional, da TV Globo, também revelou que Dias deu aval para o pagamento de um aditivo de R$ 18 milhões à VTC Log, um valor 1.800% superior ao que a equipe técnica havia recomendado. Atualmente, a empresa é responsável pela distribuição e armazenamento de equipamentos e insumos como vacinas comprados pelo Ministério da Saúde.

O histórico de chamadas de Dias mostra que algumas ligações ocorreram em períodos próximos às datas em que a VTC e o ministério trocavam ofícios e debatiam os valores que a empresa alegava ter direito a receber, situação que só foi resolvida com o aditivo de R$ 18 milhões.

No dia 21 de outubro de 2020, a VTC Log enviou uma fatura de R$ 53 milhões ao ministério. Dois dias depois, Andreia Lima ligou para Dias. Em 5 de janeiro, a empresa enviou outra conta atualizando o valor para R$ 55 milhões e cobrando o pagamento. Seis dias depois, Andreia voltou a ligar.

Em 16 de fevereiro, a VTC enviou novo ofício atualizando o valor para R$ 57 milhões. Entre os dias 17 e 24 de fevereiro Andreia e Dias se falaram 12 vezes.

Em meio à controvérsia, no dia 4 de março, o então coordenador-geral de logística do ministério, tenente-coronel Alex Lial Marinho, que era subordinado a Dias, assinou uma nota técnica concordando com uma proposta de aditivo de R$ 18 milhões. O valor era inferior aos R$ 57 milhões solicitados pela VTC Log, mas 1.800% maior ao recomendado inicialmente pela área técnica da pasta. O documento foi assinado por Lial às 13h12 daquela quinta-feira. No mesmo dia, às 21h02, Lima ligou para Dias.

Em 20 de maio, o aditivo foi assinado por Dias e dois sócios da VTC. Dois dias depois, às 23h24, Andreia ligou para Dias.

Procurada, a VTC Logística afirmou por meio de nota que não teve acesso aos dados em posse da CPI. Em relação ao aumento no volume de contratos, a empresa disse desconhecer “qualquer vantagem ou aumentos expressivos em contratos firmados com o ministério entre 2016 e 2017”. Sobre o aditivo assinado por Dias, a VTC enviou um ofício à comissão negando irregularidade.

A quebra de sigilo telefônico mostra ainda contatos com políticos da base do governo. Entre eles o ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP). Em 6 de maio de 2020, o ex-diretor da Saúde recebeu uma ligação de Alcolumbre, que costuma falar por meio de outro canal, o WhatsApp. Procurado, o senador disse que esse não teria sido o único contato, e que participou de reuniões nas quais o ex-diretor estava presente para tratar de demandas dos estados durante a pandemia.

Alcolumbre é apontado como um dos responsáveis por interceder junto ao Palácio do Planalto para impedir que Dias fosse exonerado em outubro do ano passado. O senador também tentou revogar a prisão do ex-diretor durante o seu depoimento à CPI.

Os dados da quebra de sigilo também mostram que, em 16 de julho de 2020, Ricardo Barros enviou uma mensagem de texto para Dias. O conteúdo, porém, não está disponível no material analisado pela CPI. Barros entrou na mira da comissão depois que o deputado Luis Miranda (DEM-DF) afirmou que o nome do líder do governo foi mencionado pelo presidente Jair Bolsonaro como responsável por supostas irregularidades na aquisição da vacina indiana Covaxin. Barros nega. Procurado, o parlamentar disse que não tem o registro dessa mensagem.

Outro que manteve contato com o ex-diretor foi o ex-deputado Abelardo Lupion (DEM-PR), apontado como “padrinho” da indicação de Dias para o cargo. Entre abril de 2020 e maio de 2021, Lupion telefonou 24 vezes para Dias. Dessas chamadas, 15 foram realizadas após a exoneração de Lupion do cargo de diretor de programa do Ministério da Saúde, em 17 de abril de 2020.

Uma das ligações aconteceu em 25 de fevereiro, às 18h57, no mesmo dia e no horário aproximado do jantar em que Dias e o PM Luiz Paulo Dominghetti, que se apresenta como representante da empresa Davati, se encontraram e que, segundo o policial, Dias teria lhe pedido propina em uma negociação de vacinas. Procurado, Lupion disse que tem uma “boa relação de amizade” com Dias. “Nos falamos informalmente e sem qualquer assunto que não fosse ético”, disse ele.

A defesa de Dias informou que não teve acesso ao material enviado à CPI e que, por isso, não poderia se manifestar.

O Globo

 

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