Amigos acusam bolsonaristas por situação de Sergio Reis

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Foto: Reprodução

Alvo de operação da Polícia Federal (PF) nesta sexta-feira (20/8) por incitação à prática de atos violentos e ameaçadores contra a democracia, o Estado de Direito e suas instituições, o cantor Sérgio Reis voltou esta semana ao noticiário político como novo representante do bolsonarismo.

Amigos do cantor e ex-deputado federal veem com preocupação sua situação, que se agravou após viralizarem um vídeo e uma gravação em que ele convoca uma greve de caminhoneiros para pressionar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) às vésperas do feriado de 7 de setembro. Reis acabou desautorizado por lideranças de caminhoneiros e por ruralistas.

Na gravação, Sérgio Reis fez ameaças à democracia e afirmou que a ideia do movimento é pedir uma ação dos militares junto ao presidente, para “salvar o país”.

“Se em 30 dias não tirarem os caras nós vamos invadir, quebrar tudo e tirar os caras na marra. Pronto. É assim que vai ser. E a coisa tá séria”, disse ele em referência aos ministros do STF. A gravação seria uma conversa com um amigo que acabou vazada.

O artista passou a ser alvo de críticas e de uma representação de membros do Ministério Público Federal (MPF) pedindo uma investigação sobre as declarações. Nesta sexta, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao cantor. Ele ainda não se manifestou oficialmente sobre a operação.

Uma pessoa próxima ao cantor afirmou ao Metrópoles que a percepção é de que ele foi jogado na fogueira e tem sido usado como bode expiatório pela militância bolsonarista.

“Simplesmente jogaram ele na fogueira. Ele está sendo usado como bode expiatório pela turma do Bolsonaro”, considerou a fonte, em condição de anonimato. “Bolsonaristas querem que Sérgio Reis seja preso para justamente causar uma comoção, porque ele é uma estrela muito alta, é talvez a maior figura do mundo sertanejo. O que o Roberto Carlos é para a MPB, o Sérgio Reis é para o sertanejo”, afirmou o amigo do cantor.

Em entrevista ao jornal O Globo na última quarta-feira (18/8), Sérgio Reis disse se arrepender de ter gravado o vídeo pedindo pressão sobre o STF, mas negou ter medo de ser preso: “Eu não tenho medo de ser preso. Não sou frouxo. Não sou mulher. Cadeia é para homem”.

Aos 81 anos, Sérgio Reis é diabético, usa marca-passo e teve um AVC hemorrágico em 2018, que exigiu uma cirurgia no cérebro. Sua esposa, Ângela Bavini, disse temer pela saúde do cantor. Em entrevista à colunista Monica Bergamo, da Folha de S.Paulo, ela disse que ele está deprimido e passando mal.

“O Sérgio foi induzido por pessoas que dizem estar em um movimento tranquilo. No fim, todo mundo vaza [desaparece], e sobra para ele, que é uma celebridade”, disse Ângela.

Familiares e amigos não só o desaconselharam a participar dos protestos de 7 de setembro como também o têm sugerido se afastar dos holofotes. Amigos atribuem a confusão em que se meteu à ingenuidade e falta de leitura política do cantor, que teve uma passagem breve pela política e se aproximou recentemente de discurso radicalista.

“Ele caiu nessa história por ingenuidade absoluta. Sérgio Reis não tem interesse político”, disse uma pessoa próxima ao cantor, lembrando que ele não se candidatou à reeleição em 2018. “Ele nunca foi radical, ele nunca xingou ninguém durante o tempo em que estava como deputado. Só que ele se cercou de pessoas radicais com interesses escusos.”

Reis foi deputado federal entre 2015 e 2019, filiado ao PRB, atual Republicanos, sigla ligada à Igreja Universal do Reino de Deus. Com problemas de saúde em 2018, ele não participou diretamente do pleito em 2018 e lançou sua esposa ao cargo de deputada federal, mas ela acabou não sendo eleita. O artista era visto como potencial puxador de voto, ou seja, candidato com votação expressiva que consegue eleger outros políticos em seu encalço.

Um dos maiores nomes do sertanejo brasileiro não tinha uma atuação extremista na Câmara dos Deputados, onde conheceu o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e teve uma passagem discreta.

No último dia 12, ele esteve em Brasília em um ato de índios da etnia Kaiapó, na Praça dos Três Poderes. O grupo, que foi recebido pelo presidente, defendeu o Projeto de Lei (PL) 191/2020, que permite atividade econômica, como a mineração, em terras indígenas.

Ao final do encontro, o presidente gravou um vídeo a pedido do cantor. “Nossos irmãos indígenas querem e têm o direito de serem tratados como nós e mais ainda, que suas terras sejam usadas para o bem deles e do Brasil, por exemplo para a agricultura, pecuária, exploração mineral, recursos hídricos”, disse Bolsonaro.

Uma das figuras próximas a Sérgio Reis é João Jesse, um ex-madeireiro responsável pela Cooperativa Kaiapó. Sediada em Tucumã, no Sul do Pará, a cooperativa é investigada pelo Ministério Público Federal (MPF) por exploração mineral ilegal na região.

Segundo o estatuto, a Cooperativa Kaiapó se destina à “extração, produção, comercialização agroindustrial, florestal, mineral, de recursos hídricos e de crédito de carbono”.

Metrópoles  

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