Até na Venezuela governo e oposição conversam

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Foto: Reprodução

Com o apoio de vários países, o governo de Nicolás Maduro e a oposição na Venezuela iniciaram uma rodada de negociações visando a solução de problemas urgentes, como as crises econômica, democrática e humanitária, além da vacinação contra a Covid-19. Ativo nas cobranças à ditadura venezuelana nos últimos anos, o Brasil se absteve de participar dessa tentativa de reconciliação e observa em silêncio as movimentações diplomáticas no continente.

O Grupo de Lima, criado em 2017 para pressionar por abertura democrática na Venezuela e do qual o Brasil faz parte, não foi responsável por promover esse nova tentativa de entendimento. Esse papel coube a um país europeu, a Noruega, que convenceu representantes de Maduro e uma coalização da oposição que inclui o “presidente interino” Juan Guaidó a sentarem para negociar no México no último fim de semana.

A reunião rendeu um memorando de entendimento, discursos de esperança dos dois lados e a libertação de alguns prisioneiros políticos do regime, como o ex-deputado Freddy Guevara, aliado de Guaidó que foi acusado de traição e terrorismo.

Em uma coletiva de imprensa na última segunda-feira (16/8), na qual considerou exitoso o início do processo de negociação, Maduro tentou demonstrar boa vontade ao dizer que Guevara será bem-vindo como delegado nos próximos encontros, marcados para o início de setembro.

O sucesso nesse início de negociação foi celebrado em um comunicado conjunto das representações para as Relações Exteriores de Canadá, Estados Unidos e União Europeia.

“Esperamos que esse processo leve à restauração das instituições democráticas do país e permita que todos os venezuelanos se expressem politicamente por meio de eleições locais, parlamentares e presidenciais livres e justas”, diz o texto, assinado conjuntamente e que também tem tom de cobrança: “Continuamos a exigir a libertação incondicional de todos os detidos injustamente por motivos políticos, a independência dos partidos políticos, a liberdade de expressão e o fim dos abusos dos direitos humanos”.

A China foi outro país que celebrou o diálogo na Venezuela.

O Canadá, que resolveu se expressar junto aos EUA e à União Europeia, é um dos membros do agora enfraquecido Grupo de Lima, que recentemente perdeu até sua sede simbólica, pois o Peru, com a posse do presidente Pedro Castillo, deixou a entidade.

O Brasil até agora não se manifestou publicamente sobre as negociações na Venezuela em seus canais de comunicação oficial. Em resposta a consulta do Metrópoles, o Itamaraty enviou uma nota informando que, “em linha com o apoio brasileiro ao esforço de encontrar uma solução negociada entre os próprios venezuelanos para a crise multidimensional daquele país, o governo brasileiro sublinha a necessidade de que o processo de diálogo e negociação entre o regime ilegítimo de Nicolás Maduro e a oposição democrática da Venezuela seja útil para o pleno retorno daquele país à democracia, ao respeito aos direitos humanos e aos princípios do sistema interamericano”.

Quem ainda mantém postura agressiva contra a Venezuela é a Colômbia, do presidente Iván Duque, que recentemente pediu aos EUA a inclusão do vizinho na lista de países “promotores do terrorismo”. Mas a última tentativa do governo colombiano de levar o Brasil para a briga aberta não prosperou.

A vice-presidente e nova chanceler da Colômbia, Marta Lucía Ramírez, esteve em Brasília no fim da semana passada, em sua primeira visita após assumir o cargo, e gostaria de tratar da questão venezuelana com o presidente Jair Bolsonaro, mas só foi recebida pelo vice, Hamilton Mourão, que, em crise com o titular, não goza influência elevada na política externa.

Veja registro da chancelaria colombiana dizendo que a vice-presidente cobrou fortalecimento da posição de ambas as nações no rechaço à ditadura:

 

Essa falta de vontade do Brasil em voltar a se envolver na questão venezuelana é reflexo de mudanças políticas internas, na opinião do cientista político Guilherme Casarões, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pesquisador do avanço da extrema direita no mundo. “No governo Bolsonaro, a política externa serve a interesses circunstanciais. Quando o governo ainda tentava montar uma base conservadora, era interessante bater na Venezuela, trazer o discurso do Foro de São Paulo, que o ex-chanceler Ernesto Araújo fazia bem. Agora, tudo mudou”, afirma o pesquisador.

Para Casarões, os enfraquecidos adversários do globalismo no governo agora esbarram tanto nos militares, que defendem uma posição mais pragmática na política externa, quanto em uma ala moderada do governo (influenciada pelo Centrão), que se incomodou com o tratamento agressivo à Venezuela depois do auxílio que o país deu ao Amazonas, com doações de oxigênio, no pior momento da pandemia.

“Voltar para o assunto Venezuela e buscar protagonismo seria despender um esforço desproporcional ao que o Bolsonaro espera hoje da política externa. Ele não tem mais projetos de longo prazo. A sensação que tenho é de que qualquer coisa prática, fora do discurso, em relação à Venezuela, o governo acha que é melhor evitar”, completa o professor, que vê chances de sucesso na tentativa venezuelana de reconciliação.

“Depois de tantos anos, me parece que Maduro percebeu seu desgaste e resolveu abrir espaço a essa negociação. Ao mesmo tempo, a oposição percebeu que o presidente conseguiu manter as Forças Armadas, que a tática usada por eles não teve sucesso. Então, os dois lados estão cedendo. A crise da pandemia mostrou também a esses dois lados que é preciso avançar”, conclui Guilherme Casarões.

Metrópoles

 

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