Chefão do Itaú diz que novo presidente pegará país “em frangalhos”

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Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

O vencedor das próximas eleições, seja lá quem for, “pegará o país em frangalhos”, assombrado por baixo crescimento, inflação elevada e crise hídrica, lamenta Alfredo Setubal. Para o presidente da Itaúsa — holding que investe principalmente no Itaú, mas tem participação em empresas como Alpargatas e Dexco —, o país precisa aprovar as reformas administrativa e tributária ainda este ano, e o Banco Central está certo em elevar juros.

Se o BC exagerou, foi quando colocou os juros a 2%, critica o empresário, que realiza hoje evento virtual para os quase 1 milhão de acionistas da Itaúsa. Defensor da terceira via, Setubal prefere João Doria e diz que Bolsonaro “contava com uma economia mais pujante em ano eleitoral e não terá”. Para ele, Lula “foi um bom presidente”, mas o fim do seu governo “foi muito ruim”.

— Lula e Bolsonaro já passaram pelos governos. O Brasil precisa renovar —diz.

Setubal também conversou com O GLOBO sobre a estratégia de negócios da Itaúsa. A holding, que também tem participações em negócios de energia e na Aegea — que ganhou lotes na concessão da Cedae —, quer entrar em novos setores, como saúde e e agronegócio.

A ausência de reformas e a lentidão da retomada decepcionam?

De uma certa forma, sim, de outra, não. Havia uma grande expectativa com a eleição e com a nomeação do Paulo Guedes. Mas entre querer e poder vai uma grande distância. O presidente iniciou o governo com discurso de menos Brasília, de um certo isolamento em relação ao Parlamento, e no meio do caminho ele teve que compor com o chamado Centrão e, com isso, começou a ter mais de governabilidade. Esperava-se mais? Sim. Mas tem coisas que andaram. A reforma da Previdência andou, a tributária e administrativa estão no Congresso. São reformas ideais? Não. Mas, no Brasil, ótimo é inimigo do bom. O Brasil nunca tem capacidade de fazer uma reforma plena. Tem muitos lobbies organizados. A pandemia atrapalha. Mas tenho a expectativa que a administrativa e a tributária passem ainda este ano.

O governo tem força para aprovar essas reformas?

Não digo que ele tenha força (risos). Mas acho possível, porque o quadro exige. A situação fiscal é muito ruim. O Brasil cresce pouco há décadas. As reformas não são ideais, mas são um avanço. Se não aprovar, vejo como um mau sinal. Se não conseguimos aprovar nem esse pequeno avanço, estaremos fadados a crescimento baixo por um período longo. Não dá para ficar brincando de fazer política. Em termos relativos, o Brasil andou para trás em tudo nos últimos 40 anos.

O debate eleitoral não inviabiliza essas aprovações?

Claro que as eleições atrapalham, o país está muito polarizado, mas temos que ter consciência de que não aprovar reformas manterá o Brasil com baixo crescimento e muita desigualdade.

Com evoluiu sua percepção sobre a crise hídrica?

Como empresa, não podemos ver as coisas acontecerem, temos que contratar gerador, fazer paliativos. Pelo que leio, o problema ainda existe, com uma probabilidade de 10% a 20% de algo mais grave acontecer. É alto. Se a temporada de chuvas ajudar e o consumo diminuir por causa do custo, a gente talvez passe raspando. Mas tem risco.

O governo foi lento?

Problema de energia não se resolve de um dia para o outro. Passados 20 anos do apagão, já produzimos 20% entre eólica e solar. Muita coisa foi feita. Talvez Bolsonaro tenha feito pouco, mas o problema não foi ele. Você não faz uma hidrelétrica em menos de dez anos. O governo poderia ter alertado mais, acelerado projetos de micro-hidrelétricas parados no Ibama etc. Mas não dá para querer que se resolva um problema desses em um ano.

Qual é a perspectiva do senhor para a retomada do PIB?

Sou cético no médio e longo prazo. Nos últimos 40 anos, o mundo cresceu muito mais que o Brasil. O Brasil andou para trás, em todos os sentidos. Esse ano vai crescer, 5%, 5,5%, mas a base do ano passado foi muito baixa. Sem reformas, com o setor privado mais cauteloso em ano eleitoral, já tem gente falando em 0,5% de crescimento em 2022. Isso é zero. Se não fizermos nada, vai continuar essa porcaria que vimos nos últimos 40 anos, com crescimento potencial de 1,5%, 2%. A gente vai crescer muito menos que o mundo e ficar para trás…

O Banco Central (BC) exagera na elevação de juros?

Não acho. Se exagerou, foi pra baixo. Houve erro de leitura ao colocar os juros a 2%. Agora, os juros reais ainda são negativos. Temos juros de 6% e inflação de 10%! Em tese, tinha que subir mais rápido.

Mas há economistas que dizem que essa inflação não será resolvida com juros…

Parece que não é, de fato, uma inflação de demanda. Mas é a única ferramenta que o BC tem, já que o Brasil já está com a corda no pescoço em termos fiscais. O BC vai ficar olhando? Ele tem que fazer alguma coisa. E tem que subir juros mesmos. O empobrecimento no Brasil nos últimos dez anos é dramático. Com a inflação, a queda de renda é ainda mais intensa. É preciso fazer algo.

Como o senhor vê as mudanças de posicionamento de Bolsonaro em temas como urna eletrônica?

O presidente é um ser político e vê que a maré está virando contra ele. Ele contava com uma economia mais pujante em ano eleitoral e não a terá. A economia não o reelegerá, pelo contrário, poderá colocar dificuldades. Então ele minimiza o discurso, está sendo menos negacionista e menos agressivo em algumas falas.

O arrefecimento das tensões pós-7 de setembro será duradouro?

Nunca acreditei em golpe. Em nenhum país você dá um golpe sem o apoio das Forças Armadas. O Jânio Quadros tentou e não conseguiu. O Exército deixou ele falando sozinho. Não vejo as Forças Armadas com o menor interesse em assumir o país novamente. Vamos ver um ano de falas muito agressivas, mas as instituições se fortaleceram. A imprensa, o Congresso, o Judiciário… A sociedade civil se organizou e impede qualquer coisa nesse sentido. Logo, não é uma hipótese plausível.

E o impeachment?

Também não. Impeachment é um desastre. Como um país sério pode ter três impeachments em 30 anos? Isso não é parlamentarismo. Faltando um ano, o impeachment, que é extremamente desgastante para a sociedade, não resolveria nossos problemas. Agora, o regime presidencialista puro só deu certo nos EUA. Os outros, principalmente na América Latina, foram um fiasco.

A saída seria mudar de modelo?

Não sei se a solução é o parlamentarismo. O que sei é que o presidencialismo não deu certo aqui.

O empresariado tem insistido na terceira via. Haverá alguém competitivo?

Eu acredito. Mas não vejo nada mudando até o início da campanha, as pesquisas continuarão como estão. E os candidatos de terceira via já estão colocados. São o Leite, o Dória, o Mandetta, o Ciro… Acho que algum deles pode crescer se encaixar um discurso que o coloque no segundo turno. E, na minha opinião, qualquer um que ganhar pegará o país em frangalhos. Não tem salvador da pátria. Espero que seja eleito, se possível, alguém mais de centro, que acabe com a polarização e tenha pelo menos um certo projeto de país. Mas não terá milagre.

O senhor citou primeiro Eduardo Leite. É sua preferência?

Não. Pessoalmente, prefiro o (João) Dória. Ele tem se mostrado um grande gestor público, tem feito um governo excepcional, embora as pesquisas não deem a ele esse mérito. São Paulo vai crescer 8% este ano. No ano passado, o PIB do estado ficou estável. Eu não tenho todas as condições de julgar o Leite. É jovem, parece que faz um bom governo no Rio Grande do Sul, conseguiu fazer coisas que a Constituição Gaúcha proibia, privatizações. Mas moro em São Paulo e vejo o que acontece aqui.

A esquerda diz que o empresariado é ingrato com Lula. Qual é sua avaliação?

O Lula foi um bom presidente. Seu primeiro mandato manteve a politica econômica bem apertada, a inflação baixa, o Brasil cresceu. Ele se beneficiou do boom das commodities, de condições favoráveis que se encerraram com a crise do Lehman Brothers. A partir dali, o fim do governo foi muito ruim. Ele gastou muito pra eleger a Dilma, o déficit fiscal foi enorme. As consequências foram muito ruins e culminaram na recessão a partir de 2014 e no impeachment da Dilma. Mas, mais que anti-Lula, os empresários querem alguma coisa pró-Brasil. Eu não acho que é um sentimento anti-Lula, eu acho que é um sentimento de mudança, esse modelo não está dando certo. Por isso que se fala da terceira via. Lula e Bolsonaro já passaram pelos governos. O Brasil precisa renovar.

O Globo

 

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