Temer tenta virar “coringa” na política

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Foto: Editoria de Arte/UOL

Não foi gratuitamente que o ex-presidente Michel Temer conseguiu acalmar os ânimos após as declarações golpistas e ataques de Jair Bolsonaro (sem partido) ao STF (Supremo Tribunal Federal). Político experiente, já selou a união formal do PT com o MDB, contornou escândalos políticos e escapou da cassação do mandato e da prisão.

Agora, prestes a completar 81 anos, Temer parece se cacifar como pacificador de futuros conflitos institucionais que possam se repetir e como conselheiro nas eleições de 2022 — do próprio Bolsonaro e de adversários do presidente, como o Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou um candidato da terceira via.

Para o analista político Toninho Queiroz, diretor do Diap e de Paulo Kramer, professor aposentado da UnB (Universidade de Brasília), o certo é que Temer estará do “próximo do lado vencedor” no ano que vem.

Temer defende a harmonia dos Poderes, e vai estar do lado das forças vencedoras”
Toninho Queiroz, diretor do Diap

Há pouco menos de um mês, Temer foi acionado por militares e pelo chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, para demover Bolsonaro de entregar pessoalmente ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, um dos principais alvos do presidente e o único nomeado por Temer para o Supremo.

Segundo o UOL apurou, o emedebista não chegou a falar diretamente com Bolsonaro, mas fez chegar a ele a opinião de que seria danoso para todos os envolvidos se o presidente, caso caminhasse do Planalto ao Senado para protocolar o documento, como parte dos aliados chegou a cogitar. Bolsonaro recuou.

O socorro a Bolsonaro nesta semana não foi a primeira atuação de Temer no governo de seu sucessor. Em agosto do ano passado, ele liderou a comitiva brasileira que foi ao Líbano após a explosão que matou quase 200 pessoas e feriu mais de 4.000 em Beirute.

Por volta dessa época, o ex-presidente começou a aumentar sua presença nas redes sociais, especialmente no Facebook e no Instagram. Além de relembrar números de seu governo, o ex-presidente tem usado as contas para publicar poemas e interagir com os seguidores. O filho caçula Michelzinho, hoje com 12 anos, tem ajudado na inserção digital do pai.

No Instagram, o emedebista tem se esforçado para relembrar marcas de sua gestão. Na última quinta, dia em que o IBGE (Instituto Brasileira de Geografia e Estatística) informou que a inflação de agosto foi a mais alta para o mês nos últimos 20 anos, Temer publicou uma imagem em que ele e o ex-ministro Henrique Meirelles aparecem como “inimigos da inflação”.

Em outras postagens, destaca conquistas antigas, como a criação primeira delegacia da mulher no Brasil, ainda nos anos 1980.

“Ele tem usado as redes sociais para defender e valorizar todo o seu legado”, afirma o marqueteiro Elsinho Mouco, que revisou a carta de recuo que Bolsonaro divulgou na última quinta — escrita com a ajuda de Temer — e que acompanha o ex-presidente de longa data.

Para o analista político Toninho Queiroz, Temer vai atuar como conselheiro também nas eleições de 2022, mas não como candidato. “Ele vai, através do partido dele, ajudar a escolher alguém que mantenha estabilidade econômica e evitar os extremos”, afirma o diretor do Diap.

Kramer, por sua vez, não descarta Temer ao lado de Bolsonaro em 2022 caso ele tenha aliados “domesticados”. “É mais fácil Temer se jogar desse lado que ficar à espera de uma terceira via”. Mas o professor aposentado da UnB não duvida de uma posição com Lula, com quem Temer já fez alianças no passado, embora tenha rompido em 2016: “Nada impede”.

O ex-deputado Lúcio Vieira Lima (MDB-BA), interlocutor do ex-presidente, diz ser cedo para se preocupar com eleições, num momento de fragilidade no controle da pandemia de coronavírus e de pouca retomada da economia. Além disso, afirma, o MDB possui entusiastas de Lula, Bolsonaro e de uma terceira via.

Na posição em que Michel se encontra, ex-presidente da República, ele não vai se envolver diretamente nessa articulação. Ele funciona mais à disposição da nação como conselheiro”
Lúcio Vieira Lima, ex-deputado

Pacificar conflitos e encontrar soluções faz parte da vida de Temer. Em 2007, por exemplo, ajudou a articular a eleição de Arlindo Chinaglia (PT-SP) para presidir a Câmara dos Deputados, vitória que recolocou os petistas no comando da Casa após a derrota anterior, para Severino Cavalcanti (PP-PE).

Temer costurou para que as duas siglas se alternassem na presidência da Casa. Ele próprio assumiu o cargo em 2009. No ano seguinte, elegeu-se vice-presidente da República com o PT. Em 2016, seria o inquilino do Palácio do Planalto após um rompimento.

Professor de direito formado na USP (Universidade de São Paulo), Temer foi procurador-geral do estado de São Paulo em 1983, no governo de Franco Montoro (PMDB). No ano seguinte, foi secretário de Segurança Pública de São Paulo, cargo que ocupou também nos anos 90, na gestão de Luiz Antônio Fleury.

Tornou-se deputado federal nos anos 90. Ascendeu com o vácuo deixado com a CPI dos Anões do Orçamento, que retirou do páreo dois importantes líderes do PMDB, o ex-presidente da Câmara Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) e Genebaldo Correia (PMDB-BA). Em 1995, virou líder do partido.

Dois anos depois, assumiu a presidência da Câmara pela primeira vez. À época, aliou-se ao senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), presidente do Senado. Com apoio do governo de Fernando Henrique Cardoso, ACM e Temer mudaram a interpretação de um artigo da Constituição para permitir a reeleição para os chefes da Câmara e do Senado.

Em 2000, Temer mudou uma regra de distribuição de passagens aéreas na Câmara, que valia desde 1971. Cada deputado recebia uma cota de bilhetes de avião entre suas cidades e Brasília e uma para o Rio de Janeiro. O emedebista permitiu que houvesse uma cota em dinheiro para usar para qualquer local do Brasil.

Nove anos depois, descobriu-se que os parlamentares usavam as sobras de cotas de passagens para viajar para o exterior, para todos os cantos do Brasil, nem sempre a trabalho. Esposas, amigos e terceiros voavam também, em lua mel e passeios na praia. Agências de viagens comercializavam sobras de cotas num mercado paralelo ilegal. Foi a “farra das passagens”.

Para abafar o escândalo de 2009, Temer articulou o perdão das irregularidades do passado — inclusive as suas férias na praia. Anunciou regras restritivas. Prestou solidariedade aos colegas e encomendou um parecer jurídico justificando as práticas. Contou com a ajuda do então presidente Lula, que tentou minimizar os gastos milionários de dinheiro público em atividades fora do trabalho.

Foi com o apoio de Lula que Temer chegou, em 2010, a vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff (PT). Foi reeleito com ela em 2014, mas demonstrou insatisfação logo no início do segundo mandato.

Em 2016, com o impeachment da petista, assumiu o governo. Passou a mudar a economia, que andava mal. A inflação era de 9,32% em 2016, segundo ele e seu ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, destacaram em redes sociais. Saiu em 2018 com 3,8%, relembra. Hoje, na gestão Bolsonaro, são 9,68%, de acordo com o IBGE.

Uol  

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