Entidades religiosas tentam trazer afegãos para o Brasil

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Foto: Bulent Kilic

Um ex-ministro do governo Fernando Collor, entidades religiosas, igrejas e empresas estão na linha de frente da ação para trazer ao Brasil famílias afegãs, que se sentem ameaçadas após a chegada ao poder do grupo fundamentalista islâmico Talibã, em agosto.

Reunidos na recém-criada Coalizão Brasil-Afeganistão, eles têm feito uma intensa mobilização junto ao governo brasileiro para que facilite a concessão de vistos às famílias que buscam fugir do país e, se possível, ajude na logística do transporte para cá.

Um dos mais atuantes é o ex-ministro da Agricultura Antonio Cabrera, que ocupou a pasta durante praticamente todo o governo Collor (1990-92). Atualmente empresário do agronegócio em São José do Rio Preto (SP), ele é membro da Igreja Presbiteriana, uma das que têm se movimentado para ajudar na chegada dos afegãos.

Cabrera tem sido o principal interlocutor do grupo com o ministro das Relações Exteriores, Carlos França. “Pedi ao ministro que ajude nessa mobilização, e ele se mostrou muito sensível a isso”, afirma Cabrera. O contato foi confirmado pelo chanceler.

Cabrera afirma que visitou o Afeganistão há oito anos, como parte de uma missão de caráter humanitário. “Fiquei impressionado ao ver como os cristãos são uma minoria das mais ameaçadas, com as crianças sendo especialmente vulneráveis”, afirma.

Em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, no mês passado, o presidente Jair Bolsonaro citou a intenção de acolher afegãos, mas mencionou apenas os cristãos, no que foi visto como um aceno aos evangélicos.

A denúncia da perseguição aos cristãos pelo mundo, sobretudo em países islâmicos, é uma das principais bandeiras de grupos conservadores religiosos que apoiam o presidente.

Mas a mobilização, diz Cabrera, não se restringe apenas a esta minoria. “Não vamos discriminar. A gente está preocupando com os cristãos, mas ajudaremos se houver budista, ateu, o que for. A nossa missão é humanitária”, diz.

Ele afirma estar auxiliando na formação de uma rede de empresários que poderiam custear a viagem dos afegão ao Brasil, além de ajudar na adaptação das famílias por aqui.

“Temos uma questão enorme, que é a língua. Essas pessoas vão precisar de um tempo para aprender o português. Depois, vamos ver como inseri-las no mercado de trabalho”, declara.

Segundo ele, muitos afegãos podem trabalhar na agricultura, por já terem experiência nessa área em seu país de origem. “Nunca despreze a capacidade de aprender dos imigrantes. É incrível. Tenho que enxergar cada afegão não apenas como uma boca a ser alimentada, mas como um talento a ser aproveitado”, diz.

O coordenador da Coalizão é o pastor José Prado, de Maringá (PR). Membro da igreja batista, ele comanda a Abuna, uma ONG que lida com refugiados, minorias étnicas perseguidas e pequenas comunidades rurais em risco social.

“Começamos a receber os primeiros pedidos de socorro no dia 15 de agosto, logo após o Talibã chegar ao poder”, afirma Prado.

Segundo ele, a Coalizão tem hoje oito organizações em seu núcleo central, a maioria religiosas, e outras 20 dando a apoio à iniciativa. “É uma lista dinâmica, que tem inclusive coletivos, associações muçulmanas e núcleos da OAB”, afirma.

A primeira tarefa do grupo, diz o pastor, foi conscientizar o governo sobre a importância de acolher afegãos. “Ficamos envolvidos primeiro na questão de conversar com o governo brasileiro e despertar a necessidade de fazer alguma coisa para acolher famílias afegãs que estão sob risco”.

O que o grupo pede ao governo, afirma Prado, é a concessão de vistos o mais rápido possível. “O acolhimento de famílias e a assistência daremos aqui”.

Na semana passada, a Folha e outros veículos de imprensa relataram que o Brasil estava impondo exigências draconianas para afegãos que pleiteiam os vistos, como provar que serão mantidos durante ao menos seis meses por alguma organização que banque uma longa lista de despesas. Desde então, o Itamaraty prometeu simplificar a burocracia para a concessão dos vistos.

O pastor afirma que cerca de 800 pessoas já entraram em contato com o grupo interessadas em vir ao Brasil. Muitas delas já se encontram fora do Afeganistão, em países vizinhos, aguardando o visto brasileiro.

Ele calcula que a primeira leva de refugiados possa chegar ao Brasil nas próximas semanas. No total, acredita que até 1.500 pessoas podem vir ao país.

O planejamento previsto prevê a chegada dessas pessoas em São Paulo, onde cumprirão quarentena em razão da Covid, e depois serão transportadas para locais de acolhimento no interior do estado, além de Paraná, Goiás e Bahia, onde serão auxiliadas por entidades.

Há uma atenção especial, afirma Prado, com pessoas que eram ligadas ao governo derrubado pelo Talibã, e que portanto se encontram de situação de especial vulnerabilidade.

“Juízes, advogados, pessoas que trabalhavam com militares, todos são alvo especial da nossa atenção. Muitos são muçulmanos, alguns pertencem à minoria hazara, que é especialmente perseguida”, afirma.

Segundo o pastor, muitas dessas famílias estão se sentindo traídas agora, após anos ajudando o antigo regime e as forças de ocupação americanas. “O Brasil, por outro lado, pode exercer o caráter histórico de sua diplomacia, de dar acolhimento a pessoas que fogem de situações de risco em outras partes do mundo”, diz.

Folha de S. Paulo

 

 

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