Saúde usou convênio para propagar “cloroquinas”

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

Um vídeo gravado em julho do ano passado reforça as suspeitas de que o governo e operadoras de saúde investigadas pela CPI da Covid atuaram em parceria para propagar a aplicação de medicamentos que não tinham eficácia comprovada no combate ao coronavírus. A gravação mostra um evento virtual com a participação da secretária de Gestão e Trabalho do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como “Capitã Cloroquina”, e o superintendente nacional da Hapvida, o médico cirurgião Anderson Nascimento, defendendo o uso do chamado “kit Covid”. Também estavam presentes representantes da Unimed Fortaleza e de conselhos de Medicina.

Àquela altura, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia determinado a suspensão de dois estudos sobre a hidroxicloroquina, uma das drogas não recomendadas para tratamento da Covid, após constatar que a substância não reduzia índices de mortalidade e internações.

Com base no que chamou de “impressão clínica”, o executivo da Hapvida anunciou que estudos da operadora mostravam que pacientes submetidos a tais drogas tinham 60% menos chances de internação.

— Depois da tomada de decisão e do desenho do protocolo, decidimos de uma forma pioneira distribuir kit Covid. Chegamos a distribuir mais de 25 mil — disse Nascimento durante a apresentação.

Os dados vinham de experiências colhidas em hospitais de todo o país. Com quase quatro milhões de usuários em assistência médica, a Hapvida é o maior plano de saúde das regiões Norte e Nordeste, o que, segundo ele, levava a operadora a ter uma boa dimensão da evolução da doença.

— A batalha é muito grande, mas acredito que estamos mais perto do fim do que do começo — previu o executivo da operadora, em 2020.

Após ouvir a explanação de Nascimento, Mayra disse que o “exemplo” apresentado pela Hapvida a animava.

— Aqueles que se negam a disponibilizar às pessoas um medicamento distribuído pelo Ministério da Saúde serão em breve cobrados pelo não exercício de cidadania, por improbidade e omissão de socorro — afirmou a secretária, que, ao final, disse ter “orgulho” de fazer parte “desse time”.

Como O GLOBO revelou na segunda-feira, gravações mostram que a Hapvida pressionava seus médicos a prescreverem remédios ineficazes. A mesma prática era adotada pela operadora Prevent Senior, segundo denúncias de ex-funcionários. Participante do evento com a “Capitã Cloroquina”, Anderson Nascimento já havia trabalhado na Prevent Senior antes de ser contratado pela Hapvida.

Em depoimento à CPI da Covid na semana passada, a advogada Bruna Morato, representantes de um grupo de médicos que atuaram na Prevent Senior, afirmou que a empresa tinha o que chamou de “pacto” com o governo federal, cujo objetivo era dar à população esperança de que com tratamento precoce seria possível ignorar medidas de restrição de circulação para evitar a propagação do vírus e não prejudicar a economia. Segundo ela, executivos da operadora mantinham contato com integrantes do chamado gabinete paralelo, formado por profissionais de saúde que prestavam um aconselhamento informal ao Palácio do Planalto sobre temas relacionados à pandemia, muitas vezes contrariando o Ministério da Saúde.

Um dos principais nomes do gabinete paralelo, a médica Nise Yamaguchi já declarou publicamente ser próxima de Mayra Pinheiro. Para convencer médicos a prescreverem o “kit Covid” para pacientes, a Hapvida, inclusive, mostrava uma apresentação de 33 slides atribuída a Nise, em defesa do tratamento precoce.

A própria Hapvida reconheceu por meio de nota oficial que não prescreve mais os remédios contidos no “kit Covid”. Argumenta, porém, que em meados do ano passado havia outra percepção a respeito de tais medicamentos.

“Quando o evento foi realizado, havia um entendimento de que o uso da hidroxicloroquina poderia trazer benefícios aos pacientes. Há meses, porém, o Hapvida não sugere uso desse medicamento”, diz a empresa, que destacou: “É importante frisar que o Hapvida é apartidário: não tinha, e nunca teve, vinculação política ou ideológica com governos de qualquer instância”.

Nise recorrentemente nega que integre o gabinete paralelo. Mayra não respondeu.

O Globo

 

 

Assinatura
CARTA AO LEITOR

O Blog da Cidadania é um dos mais antigos blogs políticos do país. Fundado em março de 2005, este espaço acolheu grandes lutas contra os grupos de mídia e chegou a ser alvo dos golpistas de 2016, ou do braço armado deles, o juiz Sergio Moro e a Operação Lava jato.

No alvorecer de 2017, o blogueiro Eduardo Guimarães foi alvo de operação da Polícia Federal não por ter cometido qualquer tipo de crime, mas por ter feito jornalismo publicando neste Blog matéria sobre a 24a fase da Operação Lava Jato, que focava no ex-presidente Lula.

O Blog da Cidadania representou contra grandes grupos de mídia na Justiça e no Ministério Público por práticas abusivas contra o consumidor, representou contra autoridades do judiciário e do Legislativo, como o ministro Gilmar Mendes, o juiz Sergio Moro e o ex-deputado Eduardo Cunha.

O trabalho do Blog da Cidadania sempre foi feito às expensas do editor da página, Eduardo Guimarães. Porém, com a perseguição que o blogueiro sofreu não tem mais como custear o Blog, o qual, agora, dependerá de você para continuar existindo. Apoie financeiramente o Blog

FORMAS DE DOAÇÃO

1 – Para fazer um depósito via PIX, a chave é edu.guim@uol.com.br

2 – Abaixo, duas opções de contribuição via cartão de crédito. Na primeira, você contribui mensalmente com o valor que quiser; na segunda opção, você pode contribuir uma só vez também com o valor que quiser. Clique na frase escrita em vermelho (abaixo) Doação Mensal ou na frase em vermelho (abaixo) Doação Única

DOAÇÃO MENSAL – CLIQUE NO LINK ABAIXO
https://www.mercadopago.com.br/subscriptions/checkout?preapproval_plan_id=282c035437934f48bb0e0e40940950bf

DOAÇÃO ÚNICA – CLIQUE NO LINK ABAIXO
https://www.mercadopago.com.br/subscriptions/checkout?preapproval_plan_id=282c035437934f48bb0e0e40940950bf