Terceira dose da vacina mostra egoísmo da espécie humana

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Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

No momento atual em que o pico de casos e mortes decorrentes da COVID-19 desacelerou fortemente nos países mais avançados na vacinação, alguns destes já começam a discutir a aplicação generalizada de uma terceira dose de reforço. Diante desse cenário, há uma importante questão ética a ser discutida: 64% da população do planeta ainda não recebeu sequer a primeira dose. Qual deve ser a prioridade na estratégia de distribuição de vacinas ao redor do mundo?

Primeiro, o cenário global em números: de acordo com o site Our World in Data da Universidade de Oxford (Inglaterra), apenas 46% da população mundial recebeu a primeira dose, enquanto 34% está totalmente imunizada. Quando isolamos os dados levando em consideração os países de baixa renda, apenas 2,3% das pessoas recebeu pelo menos uma dose.

Portanto, é fato inequívoco que naturalmente houve uma priorização da vacinação de países ricos ou de indivíduos ricos vivendo em países pobres. A pandemia escancarou a desigualdade pelo mundo. Nenhuma novidade até aí. Todavia, é nesse cenário que se polariza tal discussão. Lideranças de países como os EUA – que tem vultoso estoque de vacinas contra a COVID – defendem a aplicação imediata e generalizada de terceira dose aos estadunidenses, defendida pelo próprio Presidente Joe Biden.

Trazido o debate para o campo público, um grupo considerável de cientistas se opôs a tal iniciativa neste momento da pandemia do novo coronavírus. Em recente publicação na revista científica The Lancet, tais especialistas defenderam que, neste momento, a dose de reforço generalizada não é apropriada e que as atuais vacinas são eficazes na prevenção de mortes e casos graves, inclusive quanto às novas variantes.

Duas considerações são pertinentes neste debate.

A primeira delas é que esse tipo de decisão deve ser pautada pela ciência. Quem e quando receber a dose de reforço merece decisão fundamentada em pesquisa e dados, não pautada por conveniência política. Tanto deve ser assim que um painel de especialistas, pesquisadores e epidemiologistas da agência de saúde estadunidense Food and Drug Administration (FDA) recomendou a aplicação de uma terceira dose apenas a pessoas de alto risco ou alta exposição, como profissionais de saúde.

Há ainda outro ponto de inflexão. Existe uma cultura universalizada que acredita que o dinheiro compra tudo. Quem paga mais ‘meritocraticamente’ faz jus a qualquer tipo de prerrogativa. As fast tracks são um bom exemplo. Aparentemente inofensivas, elas existem para atalhar o tempo em filas, em pedágios e até em autoestradas. Basta pagar mais caro para que uma pista exclusivamente mais rápida lhe seja oferecida. Para quem não pode pagar, sobra o contentamento com a prestação de serviços convencional.

Para serviços privados, acredito na livre iniciativa e no livre comércio. Mas veja a que nível essa ideia aparentemente inofensiva chegou: nos EUA, por exemplo, existe o conceito de pagamento de facilitação. O que todo o restante do mundo vê como puro e simples suborno, eles veem como negócio e lucro. Funciona assim: em diversos serviços públicos, existe uma taxa extra que confere condições especiais e tempo recorde. Simples assim.

Não é difícil perceber que o pragmatismo das fast tracks e dos pagamentos de facilitação aponta uma dura questão ética: o dinheiro pode comprar direitos? Se entendemos que saúde é um direito universal e fundamental da pessoa humana, penso que não há lugar para comprar condições especiais na fila da vacinação. Somente seremos livres quando nos libertarmos todos juntos desse mal do coronavírus.

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