Tucanos se dizem “arrependidos” de apoio a Bolsonaro em 2018
Foto: Governo do Estado de São Paulo, Lucas Seixas/Folhapress e Felipe Dalla Valle/Palacio Piratini
O primeiro debate das prévias presidenciais do PSDB foi marcado por críticas indiretas entre os governadores João Doria (PSDB-SP) e Eduardo Leite (PSDB-RS), que evitaram confrontos abertos —as provocações ficaram a cargo do terceiro concorrente, o ex-prefeito de Manaus e ex-senador Arthur Virgílio (PSDB).
No debate promovido pelos jornais O Globo e Valor Econômico, Tanto Leite como Doria afirmaram ter sido um erro ter apoiado a eleição de Jair Bolsonaro em 2018 e fizeram críticas ao atual presidente, sobretudo na condução da economia e na flexibilização do teto de gastos.
Doria criticou Bolsonaro pelas afrontas à democracia e pelo negacionismo, além de afirmar que o governo federal é um fracasso na área econômica.
Os postulantes do PSDB demonstraram certa discordância a respeito do papel da economia e da democracia para o país.
Leite afirmou defender a democracia, mas ressaltou que, no contexto de crise econômica, as pessoas passam fome, enquanto a democracia está protegida pelos sistemas de controle e divisão de Poderes que a Constituição prevê.
Arthur e Doria lembraram seus pais que tiveram o mandato cassado pela ditadura para afirmar que a democracia deve ser condição primeira e que, sem ela, não há prosperidade econômica.
Virgílio questionou Doria a respeito de picuinhas entre ele e Leite que aparecem nos jornais e afirmou que isso não ajuda para a unidade do partido.
“Eu não estou aqui para perder, estou aqui para derrotar vocês dois. Mas por que não cuidarmos só das questões públicas e acabarmos com esse trique-trique de jornal?”, perguntou.
Arthur completou ainda que os ataques devem respeitar o limite de não impedir que os postulantes façam campanha juntos em 2022. “Isso exclui as picuinhas, e eu tenho visto picuinhas.”
“Arthur, você quer unidade e eu tenho certeza de que Eduardo também e eu também. […] Prévias não dividem, não fracionam, prévias unem”, disse Doria, que exaltou ao final do debate seu caráter construtivo.
O ex-senador também questionou Leite por ter apoiado a eleição de Bolsonaro para alavançar a sua própria no Rio Grande do Sul.
“Você devia ter desprezado o apoio [de Bolsonaro]. Se você não ia vencer, você teria que ter perdido como um tucano de verdade”, afirmou Arthur a Leite sobre a eleição de 2018. O ex-senador afirmou ter votado em Fernando Haddad (PT) no segundo turno.
De forma indireta, Leite alfinetou Doria ao afirmar que não aderiu à campanha de Bolsonaro, não o buscou para tirar fotos e nem misturou seu nome ao dele —algo que Doria, então candidato, fez ao vestir a camisa “BolsoDoria”.
“Fiz a única declaração de voto, num vídeo, marcado muito bem quais eram minhas diferenças em relação a Bolsonaro. […] O outro caminho, do PT, tinha quebrado o país, não era só problema de corrupção. […] Não busco ganhar eleição perdendo a alma”, respondeu Leite.
“Mesmo assim a gente vê que foi um erro, porque Bolsonaro gera problemas econômicos gravíssimos”, completou.
Questionado sobre o bolsonarismo dentro do PSDB, Doria afirmou ser preciso respeitar as posições distintas, mas elogiou a decisão do presidente da sigla, Bruno Araújo, de assumir o partido como oposição e ressaltou que os deputados tucanos de São Paulo votaram contra o voto impresso —os do Rio Grande do Sul foram favoráveis.
Arthur afirmou ser “indecoroso” ter bolsonaristas na bancada tucana e defendeu uma limpeza do partido. “Temos que marcar a data e oferecer a porta de saída como serventia da casa”.
Ainda no tema do voto impresso, Doria foi questionado sobre defender a votação em papel nas prévias do PSDB —aliados do governador têm apontado desconfiança em relação ao aplicativo por meio do qual votarão os filiados.
Como mostrou a Folha, a equipe de Doria têm uma série de questionamentos às regras estabelecidas pelo PSDB, buscando aproveitar brechas em meio a uma disputa acirrada.
“As regras são regras, nós aceitamos como estão. Confio nas prévias do PSDB. Sou contrário ao voto impresso. Sou a favor do voto eletrônico. Não sei que aliado foi esse, aliado sem nome não é aliado”, respondeu Doria.
As críticas veladas de Leite a Doria passaram por frases em que pondera sobre diferentes formas de fazer política, uma vez que é tido como mais agregador que o rival, e exaltando a política, que Doria negou ao se eleger prefeito de São Paulo como gestor.
Doria, por outro lado, afirmou que seu governo é liberal na prática, exaltando reformas e privatizações.
Em outra estocada em Leite, disse que somente São Paulo havia feito uma reforma administrativa profunda, algo que o gaúcho respondeu, defendendo a abrangência de suas reformas administrativa e da previdência.
Leite foi questionado por jornalistas a respeito da possibilidade de abrir mão da candidatura, caso vença as prévias, para fazer uma composição de chapa com outros partidos de centro. O governador admitiu que pode, sim, apoiar outro nome que julgue ter mais condições de quebrar a polarização entre Lula (PT) e Bolsonaro, mas, nesse caso, não seria candidato a vice, apenas apoiador.
Em outra crítica a Doria, afirmou que “um projeto de país não pode ser calcado em projeto pessoal”.
O governador paulista foi perguntado a respeito de seus baixos índices de intenção de votos nas pesquisas e alto índice de rejeição apesar de ser considerado “o pai da vacina”. Doria afirmou que medidas de restrição na pandemia afetaram sua popularidade e que a população ainda não está pensando em eleição.
Uma questão dirigida a Leite tratou do apoio de Aécio Neves (PSDB-MG) a ele. O governador se esquivou, afirmando que todo o PSDB de Minas o apoia. “Aécio deve prestar explicações e deve, como qualquer cidadão, ter a presunção da inocência até que isso se julgue”, disse.
O gaúcho afirmou que, em sua trajetória, não traiu aliados e exaltou ter feito campanha para Geraldo Alckmin em 2018, em mais uma indireta para Doria, que é alvo de crítica no PSDB por ter abandonado seu padrinho político. “Ninguém tem dúvida de que eu votei em Alckmin no primeiro turno”, disse.
O debate não ocorreu sem tensões, mas foi mais ameno do que o clima da campanha na última semana, quando Leite comparou Doria a Bolsonaro e quando o governador paulista chegou a se recusar a participar do evento.
Os três tucanos defenderam a unidade do partido, num ambiente de cordialidade e até de risadas. Arthur chegou a se emocionar ao fazer uma defesa da democracia e da política.
Eles concordaram em relação à necessidade de reformas no país, defenderam ajuste fiscal e medidas para crescimento econômico com proteção social.
Quando o tema foi a experiência de cada um dos tucanos, Leite chegou a pedir direito de resposta em relação a uma fala de Arthur, mas foi negado. O ex-senador afirmou que o governador gaúcho disse, no debate, ser o mais experiente entre os três, algo que Leite afirmou não ter dito.
De maneira geral, Doria se concentrou em apresentar diversos programas implementados em São Paulo. Neste ano, o tucano anunciou um programa de investimentos de R$ 50 milhões.
Doria fez questão também de lembrar sua atuação para a obtenção da vacina contra a Covid-19, dando o pontapé na vacinação do país.
Em contrapartida, Leite afirmou ter colocado as contas do Rio Grande do Sul em dia e ponderou que, num estado endividado, não teria a mesma capacidade de investimentos que Doria.
Arthur Virgílio pregou a importância da preservação e exploração sustentável da biodiverdidade da Amazônia e ponderou sob um risco de intervenção estrangeira caso não haja políticas nesse sentido. Também defendeu a zona franca de Manaus como única alternativa de emprego à população do estado atualmente.
O ex-senador divergiu de Leite ao defender a reeleição, enquanto o governador gaúcho prometeu que, se eleito presidente da República, não irá concorrer ao cargo novamente.
O debate teve cerca de duas horas de duração, com dois blocos de perguntas feitas por colunistas aos candidatos e dois blocos de perguntas feitas entre eles.
Na sexta (15), Doria chegou a anunciar que não mais participaria do debate por não concordar com as regras.
Em nota, a campanha do governador paulista não apontou exatamente qual era a discordância, mas a reportagem apurou que a duração do debate e a possibilidade de perguntas duras preocupavam o tucano.
No PSDB, a recusa em participar foi lida como um desprestígio ou descrédito de Doria em relação às prévias e houve reações negativas. No fim de semana, Doria voltou atrás. Seus auxiliares afirmam que ele recebeu muitas mensagens de apoiadores pedindo para que participasse do debate.
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