Dallagnol tenta ajudar Moro a atrair evangélicos

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Foto: Dida Sampaio/ Estadão

Igrejas protestantes tradicionais, pentecostais, mórmons, pastores influenciadores e escolas confessionais. A campanha do ex-juiz da Operação Lava Jato Sérgio Moro, presidenciável do Podemos, traçou esses grupos como prioritários na estratégia para tentar o voto conservador evangélico. A ofensiva vai ser lançada a partir da virada do ano. Moro também mira em alguns nichos neopentecostais, hoje aliados do presidente Jair Bolsonaro. Interlocutores do ex-ministro fizeram contato para marcar reuniões com representantes políticos da Igreja Internacional da Graça de Deus, liderada pelo missionário RR Soares, e da Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo.

As principais estratégias foram traçadas pelo advogado da campanha Uziel Santana, convidado por Moro para assumir o núcleo evangélico e conservador da pré-campanha. Ele presidiu até poucos meses atrás a Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure), entidade fundada em 2012. Ligada a organismos internacionais de juristas cristãos, a associação é dirigida por membros das chamadas igrejas protestantes históricas, com destaque para a Presbiteriana, a Batista e a Metodista, entre outras.

A campanha calibrou o discurso para atrair os neopentecostais, cujas lideranças mais midiáticas hoje orbitam o Palácio do Planalto e flertam com o bolsonarismo. Cientes dos compromissos das denominações com Bolsonaro, o comitê de Moro quer mostrá-lo como alternativa ao presidente com bandeiras conservadoras. Dirigentes de distintas alas da maior denominação pentecostal do País, a Assembleia de Deus, manifestam reserva com a aproximação, porque as igrejas têm apoio declarado ao governo Bolsonaro. Um deles disse ao Estadão que o ex-juiz terá “dificuldades”.

“O segmento evangélico não pode depender apenas de uma via. Nesse sentido, Moro também é uma possibilidade aos neopentecostais. Ele é um conservador, mas é moderado e não um desequilibrado que quer impor uma sharia (lei islâmica) evangélica à sociedade. Isso ele não vai querer, e nenhum segmento evangélico sério vai querer”, afirma Uziel Santana. “O que não queremos é a volta do PT ao poder.”

A Igreja Internacional da Graça tem uma série de pendências junto ao Fisco, enquanto a Universal não conseguiu ver alguns interesses solucionados pelo governo. Entre eles, estão duas iniciativas no campo diplomático: a disputa pelo controle da Universal em Angola, onde os brasileiros ligados à cúpula foram expulsos, e o governo não conseguiu aval para que o bispo Marcelo Crivella, ex-prefeito do Rio, assumisse como embaixador na África do Sul.

Com acesso ao Planalto, Uziel Santana e a Anajure ampliaram a influência durante o governo Bolsonaro. Eles foram ouvidos, por exemplo, na indicação do procurador-geral da República, Augusto Aras, apoiaram a escolha do ministro André Mendonça, o “terrivelmente evangélico”, ao Supremo Tribunal Federal, da advogada Maria Claudia Bucchianeri Pinheiro como juíza-substituta do Tribunal Superior Eleitoral, e do defensor Daniel Pereira como chefe da Defensoria Pública da União.

O afastamento começou com a demissão de Moro, em abril do ano passado, e as denúncias de interferência em órgãos de Estado, principalmente os de controle e investigação. Segundo Santana, as igrejas históricas têm dado grande receptividade a Moro.

“Os neopentecostais são numerosos, mas não representam a teologia dominante. Todo mundo se decepcionou. Bolsonaro não representa os anseios dos evangélicos, não tem equilíbrio emocional. Ele mentiu, traiu a pauta anticorrupção, de mudança no sistema político, de acabar com o patrimonialismo e o fisiologismo. Ele se apropriou e se abraçou ao Centrão, isso para igreja evangélica é uma traição”, diz Uziel Santana, que é membro da Igreja Batista Betel. “Até a forma como Bolsonaro lidou com a pandemia, daquele jeito maluco dele, nenhuma igreja séria concorda com aqueles discursos.”

Moro é católico, mas sempre teve diálogo com lideranças evangélicas e frequentou núcleos jurídicos ligados ao segmento religioso. Um de seus principais aliados, o ex-procurador da República Deltan Dallagnol, potencial candidato pelo Podemos, frequenta a Igreja Batista do Bacacheri, em Curitiba (PR), o que ajudará a expandir a presença do pré-candidato ao Palácio do Planalto.

O entorno de Moro trabalha para atrair o apoio público de pastores influenciadores nas redes sociais. Dois nomes são vistos como simpáticos a Moro. O ex-juiz já conversou em privado, por exemplo, com o reverendo Augustus Nicodemus, um formulador e influente no YouTube, integrante da Primeira Igreja Presbiteriana de Recife e vice-presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil. Outro rosto popular é o pastor batista Carlito Paes, líder da Igreja da Cidade, fundada em São José dos Campos (SP). Ele é simpático à Lava Jato e crítico de Bolsonaro, a quem apoiou nos primeiros meses do governo.

Por duas vezes, Moro se reuniu em Brasília com o ex-deputado Ronaldo Fonseca, ex-deputado e ex-ministro da Secretaria Geral da Presidência, no governo Michel Temer. Atualmente sem partido, ele preside a Assembleia de Deus de Taguatinga (ADET), no Distrito Federal. Como foi do Podemos, o ex-ministro afirma que a direção da legenda pediu os encontros com Moro.

“Represento um segmento importante dentro dos evangélicos e qualquer decisão de cunho político será uma decisão conjunta. Moro tem um projeto interessante para o Brasil, mas me reservei em ouvi-lo”, disse o ex-ministro e pastor ao Estadão.

Moro já esteve com um comitê de membros da Aliança Evangélica, com pastores batistas, presbiterianos e metodistas, com dirigentes de agências missionárias e vai também organizar encontros com representantes das escolas confessionais.

O pré-candidato do Podemos tenta ainda expandir o espectro religioso. A campanha já estabeleceu canais discretos com os mórmons, da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que costuma apresentar “neutralidade política”, segundo um de seus dirigentes que confirmou o contato. Eles devem organizar um encontro institucional com Moro em janeiro.

Também buscam aproximação com a renovação carismática católica (RCC), outro bastião do conservadorismo, e um dos nichos católicos que têm proximidade com o Palácio do Planalto. O elo para este tipo de diálogo costuma ser o deputado Eros Biondini (PROS-MG), parlamentar hoje mais ligado à cúpula da Canção Nova.

Os aliados de Moro entendem que a tarefa de crescer entre os evangélicos não é simples e têm manifestado discordância de pesquisas de intenção de voto que mostram uma predileção ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), semelhante ou até superior à de Bolsonaro (PL).

A mais recente pesquisa do Ipec mostrou Lula com 34% das intenções de voto entre evangélicos, enquanto Bolsonaro tem 33%. Moro aparece com 7%. Na última rodada do Datafolha, 43% dos evangélicos entrevistados apontaram Lula como o melhor presidente da história do Brasil. Essa posição seria de Bolsonaro para 19% deles.

Estadão 

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