Lula só perde para si mesmo

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Foto: Sérgio Lima/ Internet

O ex-presidente Lula: para o articulista, só resta aos adversários jogar em cima de possíveis erros do petista

Ande por Brasília, converse com quem já encharcou o pé na lama das campanhas passadas, da direita à esquerda, e a conclusão uníssona é que, faltando 10 meses para as eleições, Lula da Silva só perde para si mesmo. Há muito de torcida de uns e desânimo de outros na afirmação, mas ela reflete um consenso no mundo político sobre o favoritismo do ex-presidente.

A partir de março, após as decisões do Supremo Tribunal Federal que anularam as suas condenações e colocaram sob suspeita a imparcialidade do ex-juiz Sergio Moro, Lula é o candidato que mais cresce nas pesquisas. Em abril, segundo o PoderData, Lula tinha 34% das intenções de voto em empate técnico com os 31% do presidente Jair Bolsonaro e quilômetros à frente de Ciro Gomes (6%), João Doria (4%) e Sergio Moro (3%). A última pesquisa PoderData, divulgada na 4ª feira (22.dez.2021), mostrou Lula ampliando a vantagem, com 40% das intenções, seguido por Bolsonaro com 30%, Moro com 7% e Ciro empatado com Doria com 4%. Nas simulações de 2º turno, Lula venceria todos os adversários com, no mínimo, 20 pontos percentuais de diferença.

Nos 7 meses entre o empate técnico de abril e a vitória clara de dezembro, Lula teve a seu a seu lado a incompetência dos adversários. A CPI da Covid revelou o descalabro da gestão Bolsonaro ao longo da pandemia, a inflação de 10% corroeu os ganhos do auxílio emergencial, a economia entrou em estagnação, Ciro Gomes não achou um nicho para sua candidatura contra-tudo-e-contra-todos e terminou revelando mais talento como entrevistador de programa no Youtube do que como candidato. Sem nenhuma proposta para os mais pobres, a centro-direita seguiu afogada no poço de vaidades dos seus postulantes.

Sem precisar se expor, Lula agiu pouco em público, e nos bastidores fez o que faz de melhor: política. Amarrou um acordo nacional com PSB, PCdoB, Psol, PV e Rede, trouxe o ex-governador Geraldo Alckmin para ser o seu possível vice e acertou o apoio informal em alguns Estados dos candidatos do MDB e do PSD. Mesmo sem a máquina do governo, Lula parte de uma base congressual tão grande quanto a do presidente.

É improvável que as pesquisas se movam nos próximas meses. Em janeiro há o recesso do Congresso, em fevereiro a volta às aulas e o Carnaval e em março os políticos estarão entretidos nos prazos de filiação, escolha de domicílio eleitoral e desincompatibilização de governadores e ministros.

Sendo presidente, Bolsonaro teria a oportunidade de melhorar os seus índices com a distribuição do novo Auxílio Brasil, mas a sua campanha volta à cena do crime contra as vítimas da covid. A insistência do presidente em boicotar a vacinação de crianças contra covid vai reacender a memória da sua trágica gestão da pandemia.

Os demais candidatos têm menos chance ainda de crescer. Sem máquina pública na mão, Moro e Ciro tem pouco a fazer além de dar entrevistas. João Doria também vai sumir quando deixar o Governo de São Paulo.

É lógico que o antipetismo ressuscitará com força, rememorando aos eleitores as políticas públicas de igualdade de gênero (repudiadas no segmento evangélico), os escândalos de corrupção na Petrobras e os erros que levaram à recessão de 2014-16. Mas isso não é novo. Quem hoje vota em Lula conhece os erros e acertos das gestões passadas e o julgamento da eleição de outubro é a gestão Bolsonaro, não as administrações do PT. Resta, portanto, aos adversários errarem menos e torcerem por erros de Lula.

Por enquanto, ele tem errado pouco. É lógico que a histórica dificuldade do PT em ceder espaço para os aliados pode romper a aliança construída nos últimos meses. Quando foram divulgadas as primeiras informações sobre as conversas entre Lula e Alckmin, vários líderes da esquerda repudiaram a possibilidade com o raciocínio de que o acordo é desnecessário. Por este argumento, Lula já teria os votos necessários para vencer e ter um conservador como Alckmin na chapa seria uma concessão desnecessária.

Por essa mesma lógica, em alguns Estados o PT está recuando na possibilidade de dar apoio a candidatos a governador de outros partidos, mesmo sem chances de vitória. Em Pernambuco, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro, as chances de eleição de um candidato petista são mínimas, mas as pedras no caminho que o partido está colocando no caminho para evitar acordos dariam para construir vários castelos.

Se Lula conseguir controlar esses ímpetos, a sua maior dificuldade será a formulação de um programa de governo factível para o pós-bolsonarismo. Quando questionados sobre programa, os petistas exibem o catatau de 200 páginas feito pela Fundação Perseu Abramo, o braço acadêmico do partido, mas o documento está desatualizado. Ele foi produzido em 2019, antes da pandemia, do descontrole da inflação, da volta da miséria e da desilusão de parte relevante da elite com a matemágica de Paulo Guedes.

Lula vai precisar de um coordenador de programa que seja capaz de costurar um programa de governo que atenda a sua base, mas que também não aposte no confronto com o mercado. Não porque a turma da Faria Lima vá votar em Lula, porque não irá, mas para evitar que um dólar a R$ 6,50 ou R$ 7 dê mais combustível à inflação e produza uma instabilidade econômica que torne mais difícil administrar o país a partir de 2023. Hoje 9 em 10 dirigentes do PT não acreditam na necessidade de um programa econômico com moderação fiscal.

O candidato favorito deve sempre temer a húbris, um conceito grego que combina arrogância, insolência e um desdém sobre o destino. O mito de Ícaro, o jovem que desafia os conselhos paternos e voa perto demais do sol, é caso clássico dessa prepotência. Na Bíblia, os construtores da Torre de Babel estão claramente acometidos da húbris ao tentar construir um edifício tão alto que nenhum dilúvio divino os alcançaria. Victor Frankenstein, o personagem de Mary Shelley que dá vida a destroços humanos, é a personificação da húbris moderna.

Na política, a húbris se revela na arrogância se acham acima dos demais. Em 2000, Aécio Neves, do PSDB, rompeu um acordo político sobre a eleição da Câmara e o partido perdeu o apoio do PFL na eleição presidente; em 2014, o PT dobrou a aposta na nova matriz econômica e, quando ganhou a eleição e tentou recuar, havia perdido a credibilidade; em 2018, Geraldo Alckmin achou que a eleição só começaria com a propaganda de TV.

Poder360

 

 

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