Moro e os moralistas imorais

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Foto: Mathilde Missioneiro/Folhapress

Moralistas que cometem atos imorais não são uma novidade na humanidade. Na história, os que crucificaram Jesus, incendiaram as bruxas, escravizaram, torturaram, estupraram mulheres e abusaram de crianças, cometeram seus crimes confortavelmente sob o verniz de um discurso moralista, sempre com Deus acima de tudo e a família (deles) em primeiro lugar.

Não surpreende o fato desse tipo de comportamento contraditório existir até os dias de hoje. Estranho é que depois de tantos exemplos trágicos, populações inteiras ainda caiam no conto dos que enchem a boca para falar de moral e bons costumes ao mesmo tempo em que cometem as maiores atrocidades.

O ex-juiz Sergio Moro é um exemplo clássico de moralismo no discurso e imoralidade na prática. O que pode ser mais imoral do que um magistrado usar o cargo para interferir na eleição presidencial, atuar de forma parcial, fazer conluio com uma das partes, prender o primeiro colocado nas pesquisas, favorecer um candidato com inclinações fascistas e no final de tudo aceitar ser ministro do governo autoritário que ajudou a eleger?

É com essa aberração no currículo que Moro tenta a sorte como terceira via na eleição presidencial de 2022, com adesão ainda baixa do eleitorado, mas com apoio e simpatia de boa parte da mídia tradicional, a mesma que apoiou o golpe de 1964 e trinta anos depois pediu desculpas por isso, que apoiou Fernando Collor em 1989 e se arrependeu, que vibrou no impeachment de Dilma em 2016 e depois normalizou o anormal na campanha recheada de mentiras de Bolsonaro em 2018, ajudando a eleger presidente o mais imoral de todos os moralistas. Alguém que em nome de Deus boicota a vacinação, o uso de máscaras, o distanciamento social e em nome da família enche as ruas de armas de fogo provocando morte e sofrimento certamente bom sujeito não é.

Todo moralista precisa de um inimigo para existir. Se nos anos 1960 o medo do comunismo foi usado para eleger uma bancada extremamente conservadora representada pela UDN e por Carlos Lacerda, hoje a violência e a corrupção são os fantasmas da vez. Policiais, jornalistas, militares, pastores e outros profetas do caos se aproveitam do medo da sociedade e se elegem aos montes prometendo ainda mais violência para resolver os problemas, se oferecendo para apagar o incêndio com gasolina.

A sessão que votou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016 entrou para a história pela quantidade de deputados que pouco tempo depois viriam a protagonizar grandes escândalos de corrupção, mas que naquele momento, enrolados na bandeira verde amarela, gritavam no microfone o nome de Deus e da família dizendo “sim” ao golpe e “não” ao comunismo imaginário. Entre os moralistas de plantão havia deputados que eram réus em processos de falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, peculato, trabalho escravo, crimes eleitorais, entre muitas outras contravenções.

Como nunca foi sobre corrupção, moral ou bons costumes, esses mesmos parlamentares recentemente aprovaram a PEC dos Precatórios, que legaliza as mesmas pedaladas que derrubaram Dilma Rousseff, só que dessa vez para estourar legalmente o teto de gastos favorecendo suas campanhas no ano que vem. Pode até ser constitucional, mas é moral?

O Brasil, desde o período colonial, foi construído em cima dessa contradição e hoje circulamos por estradas, aeroportos e viadutos que levam o nome de grandes moralistas imorais. A história nos mostra o quão nocivas essas pessoas podem ser, mas parece que nunca aprendemos com os erros do passado.

Folha  

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