Recém-filiado ao Podemos, Dallagnol acusa Gilmar de ser político

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Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil

Recém-filiado ao Podemos, o ex-procurador da Operação Lava Jato Deltan Dallagnol afirma que o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), deveria “ser coerente” e “trocar a toga pelo voto”.

Em entrevista ao UOL, por email, o hoje pré-candidato a deputado federal e recorrente alvo de críticas de Mendes defende a extinta força-tarefa de Curitiba, da qual foi o principal porta-voz, e diz que o magistrado tem “numerosos comportamentos inadequados”.

Deltan Dallagnol, 41, que dizia não ter planos de se candidatar, agora afirma que “quer combater na arena política, e não mais no Judiciário”.

Desligamento da Procuradoria
No início de novembro, Dallagnol pediu exoneração do MPF (Ministério Público Federal), depois de 18 anos no órgão, e se filiou ao Podemos, novo partido do ex-juiz federal e ex-ministro da Justiça Sergio Moro. Pré-candidato à Presidência em 2022, Moro afirmava que “nunca” entraria na política.

Segundo o ex-procurador, “uma sucessão de fatores se acumulou” para que mudasse de opinião e e decidisse se filiar a um partido político, mas ele destaca as decisões do STF contra a Lava Jato, em especial a que considerou Moro parcial nos julgamentos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e a anulação das condenações do petista.

No auge da Lava Jato, em 2016, Dellagnol ficou marcado pela apresentação de um PowerPoint contra Lula, no qual listava fatores que indicavam que o petista havia chefiado o esquema de corrupção na Petrobras.

“Recentemente, a cada semana, mais e mais casos de corrupção têm sido anulados pelo Supremo. São casos que seguiram as regras do jogo, mas o STF mudou as regras e aplicou para o passado. É como se um juiz mudasse as regras antes de apitar o final da partida para anular gols e mudar o resultado do jogo”, diz o ex-procurador.

Ficou cada vez mais evidente que, hoje, a arena para o combate à corrupção é a arena política, dentro do Congresso Nacional, e não mais na Justiça”
Deltan Dallagnol, ex-procurador da Lava Jato

Críticas a Gilmar Mendes
Desgastado pela divulgação de conversas que manteve no aplicativo Telegram e que foram obtidas pelo site The Intercept Brasil, Deltan Dallagnol deixou a Lava Jato no ano passado, mas continua na defesa enfática da operação e de Moro.

As mensagens obtidas pelo Intercept e divulgadas pelo site e por outros veículos de imprensa, como o UOL, expuseram a proximidade entre o então juiz e os procuradores da Lava Jato, criada em 2014, e colocaram em dúvida a imparcialidade de Moro no julgamento dos processos da operação — o que Dallagnol rechaça.

“O STF se ateve a decisões como a condução coercitiva, a divulgação de áudios e a liberação de um termo de colaboração do Palocci. E nisso a decisão por maioria do STF errou feio, porque tais decisões simplesmente seguiram a lei e o padrão adotado pela Lava Jato em todos os outros casos”, disse o ex-procurador.

Deltan também respondeu a declarações de Mendes, principal crítico da Lava Jato no STF, que acusou ambos de “militância política”, em novembro.

Em entrevista ao UOL ontem o ministro do Supremo repetiu as críticas à força-tarefa e afirmou que a filiação de ambos ao Podemos é “confissão de que já jogavam juntos”.

“É curioso que o ministro [Gilmar Mendes] faça esse tipo de comentário, afinal, ele fala e dá entrevistas sobre temas em julgamento no STF, o que viola a lei da magistratura”, rebateu Deltan.

“Poderia seguir recordando os numerosos comportamentos inadequados que são conhecidos dos brasileiros e, estes sim, sugerem uma atuação política do ministro”, disse o ex-procurador.

Se, como ele diz, o lugar para isso é a política, o ministro deve ser coerente e fazer o que defende: se filiar a um partido e trocar a toga pelo voto, para fazer política no campo certo, se candidatando a um cargo eletivo em 2022″
Deltan Dallagnol, ex-procurador da Lava Jato

Procurado pela reportagem, o ministro Gilmar Mendes não se manifestou sobre as declarações de Deltan Dallagnol.

Na filiação ao Podemos em 10 de dezembro, Dallagnol se lançou como pré-candidato a deputado federal pelo Paraná com o combate à corrupção como principal bandeira. Sobre uma eventual convivência com ex-julgados pela Lava Jato na Câmara, caso seja eleito, ele desconversa.

“Vamos aguardar para ver como será o novo Congresso”, diz o ex-procurador, que diz esperar, no entanto, uma renovação entre os atores políticos.

“É preciso construir um grande movimento da sociedade civil para colocar democraticamente no Congresso 200 deputados e também senadores de diferentes partidos que assinem um triplo compromisso escrito com a democracia, o combate à corrupção e uma preparação política consistente e contínua”, disse.

No ano que vem, ele deverá rodar o Brasil com Moro, com exceção de estados do Nordeste, governados sobretudo por políticos de esquerda, conforme o UOL apurou. Segundo o último Datafolha, o ex-juiz aparece em terceiro lugar na corrida pelo Planalto, com 9% das intenções de voto, bem atrás de Lula (48%), que venceria no primeiro turno, e que o presidente Jair Bolsonaro (PL), que tem 22%.

Tanto Deltan Dallagnol como Moro apostam ainda no apoio popular à Lava Jato para angariar votos. Segundo pesquisa do Datafolha de março deste ano, no entanto, a aprovação à atuação do ex-juiz à frente da operação caiu para 45% (era 65% em 2016) e a rejeição ao seu nome está em 30% — o ex-chefe Bolsonaro tem 60%, e Lula, 34%.

Tenho orgulho do trabalho que fiz na Lava Jato em conjunto com uma grande equipe e com a sociedade brasileira. Temos uma causa em comum”
Deltan Dallagnol, ex-procurador da Lava Jato

Uol

 

 

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No alvorecer de 2017, o blogueiro Eduardo Guimarães foi alvo de operação da Polícia Federal não por ter cometido qualquer tipo de crime, mas por ter feito jornalismo publicando neste Blog matéria sobre a 24a fase da Operação Lava Jato, que focava no ex-presidente Lula.

O Blog da Cidadania representou contra grandes grupos de mídia na Justiça e no Ministério Público por práticas abusivas contra o consumidor, representou contra autoridades do judiciário e do Legislativo, como o ministro Gilmar Mendes, o juiz Sergio Moro e o ex-deputado Eduardo Cunha.

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