Bolsonaro e Barra Torres começaram aliados e terminaram adversários

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Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo/10-03-2021

Após dois dias de silêncio, o presidente Jair Bolsonaro se pronunciou ontem sobre a cobrança de retratação feita pelo presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), almirante Antonio Barra Torres, depois de o titular do Palácio do Planalto ter levantado suspeitas contra o órgão regulador. Ao mesmo tempo em que não fez um ataque direto, evitando esticar a corda do cabo de guerra que trava com o militar, o chefe do Executivo voltou a sugerir que há irregularidades em curso na agência — justamente o motivo da resposta contundente de Barra Torres.

Em entrevista à “Jovem Pan”, Bolsonaro classificou como “agressiva” a nota pública em que o chefe da Anvisa pediu ao presidente que voltasse atrás no que dissera. O mandatário da República argumentou jamais ter insinuado que havia corrupção na agência, como disse o almirante.

— Eu me surpreendi com a carta dele (Barra Torres). Carta agressiva, não tinha motivo pra aquilo. Eu falei: “O que está por trás do que a Anvisa vem fazendo?”. Ninguém acusou ninguém de corrupto, tá? E, por enquanto, eu não tenho o que fazer no tocante a isso aí — disse.

Em outra resposta, no entanto, ao tratar da possível influência política em agências, de maneira geral, Bolsonaro disse ser comum ver órgãos do gênero “criando dificuldades para vender facilidades”.

— Não quero acusar a Anvisa de absolutamente nada. Agora, que tem alguma coisa acontecendo, não tem a menor dúvida que tem. Pelo que estou sabendo agora, ela vai deliberar sobre a Coronavac para crianças a partir de 3 anos de idade. Não sei o que acontecerá no final, mas a Anvisa vai tomar sua posição e de uma forma ou de outra vai sofrer críticas também.

Barra Torres tem mandato até dezembro de 2024 e, por isso, o presidente da República não tem poder para destituí-lo. Como publicou o colunista do GLOBO Lauro Jardim, ele pode no máximo contingenciar recursos da agência. Ainda segunda Lauro Jardim, desde que a guerra entre eles se tornou pública, aliados de Bolsonaro deflagraram uma caça para identificar o padrinho da nomeação do chefe da Anvisa — e concluíram que o fortalecimento do nome de Torres no início do governo está na conta do chefe de gabinete do presidente, Célio Faria Júnior.

A contenda entre Bolsonaro e Barra Torres, aliados até pouco tempo atrás, se deu depois que a Anvisa autorizou a vacinação contra a Covid-19 de crianças entre 5 a 11 anos. Na ocasião, o presidente criticou a decisão, afirmou que sua filha não se vacinaria e questionou qual seria o interesse da agência ao liberar a imunização infantil.

O contragolpe do almirante, direcionado diretamente a Bolsonaro, veio dois dias depois. Nele, o comandante da Anvisa exigiu que o presidente apresentasse provas do que insinuou e, caso não as tivesse, se retratasse.

“Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa (…) “Agora, se o senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate”.

Bolsonaro nomeou Barra Torres para a diretoria da Anvisa em dezembro de 2020, sob a suspeita de que tentava militarizar a agência. Nos primeiros movimentos, os dois demonstraram entrosamento. Barra Torres chegou a participar de um ato em frente ao Palácio do Planalto no qual protocolos sanitários foram solenemente descumpridos pelo presidente. Na ocasião, servidores da Anvisa divulgaram uma nota de repúdio contra o chefe. Com a chegada das vacinas ao Brasil, contudo, a maré mudou.

Diferentes decisões tomadas pela agência em favor da liberação dos imunizantes passaram a incomodar Bolsonaro, crítico contumaz da vacinação. Barra Torres começou a se afastar e, mais recentemente, a tomar posições mais enfáticas em defesa das descobertas da ciência e do próprio trabalho do órgão que comanda. Seu depoimento à CPI da Covid, quando deixou claras as divergências com o presidente, foi considerado um desastre para o governo. Em outro momento que irritou Bolsonaro, um fiscal da agência reguladora interrompeu o jogo entre Brasil e Argentina porque jogadores argentinos não cumpriram quarentena. Na semana passada, a carta de Barra Torres levou a crise ao estopim, transformando antigos aliados em adversários públicos.

O Globo

 

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