Dono do PL refuta escândalo do mensalão

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Foto: Pedro Ladeira/Sergio Lima/Folhapress

Desde que foi condenado e preso por corrupção, o ex-deputado Valdemar Costa Neto se impôs o silêncio. Ele não gosta de falar do passado, particularmente sobre os tempos em que seu então partido, o PR, dividiu grandes nacos do poder com o PT. Em 2002, quando Lula precisava sinalizar ao eleitorado de direita para viabilizar sua candidatura, coube ao PR indicar o vice-presidente da chapa, o empresário José Alencar. No governo, os republicanos foram contemplados, entre outros postos, com o comando do Ministério dos Transportes. O restante da história é bastante conhecido. Em 2005, explodiu o escândalo do mensalão, Valdemar foi condenado a sete anos de prisão, cumpriu a pena, foi libertado, em 2014, reassumiu o comando do partido, que agora se chama Partido Liberal (PL), e, hoje, de volta ao centro do palco político, aliou-se ao presidente Jair Bolsonaro. Recentemente, o ex-deputado, não se sabe exatamente por que, também passou a difundir uma nova e ampliada versão sobre um desses eventos. O mensalão, segundo ele, não existiu. Um dos principais escândalos de corrupção da era petista teria sido uma invenção maldosa do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), que levou à cadeia duas dezenas de inocentes, entre políticos e empresários. Uma tremenda injustiça.

No mundo real, Valdemar e Jefferson eram parceiros — na política e no crime. Em 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) condenou ambos por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Documentos, testemunhos e provas reunidas ao longo de seis anos de apuração mostraram que empresários e ministros de Lula operavam uma engrenagem que desviava dinheiro dos cofres públicos para um caixa que tinha como objetivo subornar parlamentares e dirigentes partidários que formavam a base de sustentação política do governo no Congresso. O caso começou a ser desvendado a partir de uma reportagem de VEJA sobre um funcionário dos Correios flagrado recebendo propina. Numa gravação em vídeo, o servidor confessava que ele era apenas peça de uma estrutura maior espalhada por várias empresas estatais e órgãos da administração federal. Na sequência, o deputado Roberto Jefferson, então aliado do PT, revelou a existência do esquema clandestino de pagamento de mesadas aos políticos — o que ele chamou de “mensalão”. Os envolvidos, alguns réus confessos, foram condenados e presos. Valdemar cumpriu um ano em regime fechado e, desde então, se nega a falar sobre o caso.

A campanha eleitoral certamente trará de volta o passado do ex-presidente, o que talvez explique a necessidade do ex-deputado de se antecipar a um eventual debate. Em tempos de narrativas, Valdemar está sugerindo que o STF cometeu o que pode ter sido o maior erro judiciário de sua história. Na versão atualizada, o mensalão nada mais foi que um acordo pré-eleitoral entre o PT e alguns partidos, incluindo o PR, para garantir a eleição de Lula em 2002 e de uma bancada de apoio ao governo. O PT teria se comprometido a repassar recursos para custear as despesas de campanha de vários parlamentares. O trato, porém, não foi cumprido, gerando dívidas que mais tarde seriam quitadas com recursos de doações feitas por colaboradores que apoiavam ou prestavam serviços ao governo. Nada de dinheiro público. Nada de corrupção. Nada de irregular (no mundo imaginário de Valdemar, claro). Roberto Jefferson, que foi condenado a sete anos de prisão, teria inventado a história para se vingar do governo. Teria conseguido enganar os membros de duas CPIs que investigaram o caso, a Polícia Federal, a Procuradoria-Geral da República e, por fim, os ministros do Supremo — todos chegaram à mesma conclusão.

Valdemar e Jefferson não são mais parceiros, embora continuem trilhando caminhos parecidos. Ambos foram denunciados por corrupção, renunciaram aos mandatos de deputado, foram condenados, cumpriram pena, reassumiram o comando de seus partidos, se afastaram do PT, se aliaram ao governo Bolsonaro e voltaram a ser protagonistas da cena política. Valdemar foi um dos artífices da filiação do presidente da República ao seu partido. Antes disso, foi investigado no escândalo da Lava-Jato. Um empreiteiro contou aos investigadores que, no governo Dilma, pagou “pedágio” ao ex-deputado para manter “abertas as portas” do Ministério dos Transportes. Procurado, o presidente do PL não quis se manifestar. Roberto Jefferson está preso preventivamente desde setembro do ano passado. Acusado de integrar uma milícia digital que realizava ataques às instituições democráticas, ele se afastou da presidência do PTB. Também se diz vítima de perseguição da Justiça. Hoje, eles não se falam — mas o jeito de fazer política é idêntico.

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