Extrema-direita pode abandonar Bolsonaro

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Foto: André Borges/Especial para o Metrópoles

A base de apoio mais fiel ao presidente Jair Bolsonaro (PL) está sofrendo uma erosão às vésperas do início da campanha eleitoral. A fuga de agora é diferente de quando então aliados, como os deputados federais Joice Hasselmann (PSL-SP) e Alexandre Frota (PSDB-SP) ou o ex-ministro Sergio Moro (Podemos), pularam do barco da extrema direita e se posicionaram mais ao centro do espectro político. Os insatisfeitos de 2022 acusam o presidente da República de não ser radical o suficiente, e já até buscam viabilizar nomes mais extremistas para a cabeça de chapa no pleito de outubro deste ano.

Perfis mais radicalizados nas redes sociais já xingam Bolsonaro abertamente e lhe dão apelidos como “Frouxonaro“, por supostamente se dobrar às pressões de um Congresso fisiológico e de um Judiciário que abusaria de seu poder. Os atores políticos mais famosos desse campo, porém, mantêm publicamente a postura de poupar o presidente em si, mas de criticar seguidamente o governo e suas escolhas. É o caso de ex-ministros, como Abraham Weintraub e Ernesto Araújo, que têm ambições eleitorais que não cabem nas articulações do antigo chefe, agora mais próximo dos caciques do Centrão do que daqueles que formaram o “bolsonarismo raiz”.

Os radicais descontentes com Bolsonaro mostram mais mais afinidade com o discurso do escritor Olavo de Carvalho do que com a prática do governo. O próprio guru da extrema direita tem subido o tom de suas críticas ao governo Bolsonaro, apesar de dizer que votará nele em outubro, ainda que “por falta de opção”.

A treta entre os extremistas tem se desenrolado publicamente nas últimas semanas. Às vésperas do Natal do ano passado, Carvalho abriu fogo contra o governo, questionou a capacidade política de Bolsonaro e disse que “a briga já está perdida” no Brasil.

Nas jogadas seguintes dessa disputa política, o militante foragido Allan dos Santos trocou xingamentos com o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo (que tentava defender Bolsonaro); e a deputada estadual por São Paulo Janaína Paschoal (PSL) foi atacada pelos irmãos Weintraub ao tentar propor que o ex-ministro da Educação abrisse mão da intenção de se candidatar a governador.

O presidente e sua família tentaram ignorar essas tretas até esta semana, quando o vereador carioca Carlos Bolsonaro resolveu responder ao fogo com fogo e acusou abertamente ex-aliados de estarem tentando formar uma espécie de “quarta via conservadora” às custas de seu pai, mas traindo-o.

“É cristalino que há uma tentativa de se criar um grupo usando a imagem de um e se fazendo de idiota para tirar crédito e obter êxito”, escreveu Carlos em suas redes na última segunda (3/1), numa crítica enviesada ao deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ), mas mirando a todos que não apoiam incondicionalmente Bolsonaro e preferem fazer críticas “construtivas”.

“Uma espécie de quarta via que se coloca para ludibriar inocentes”, escreveu ainda o filho 02 do presidente. “Agir como oportunistas se mostrando sonsos para ganhar o que pleiteiam não é ético!”, continuou ele, que voltou à carga na quarta-feira (5/1): “Está mais cristalino que água! Não há apenas uma turma querendo utilizar do nome Bolsonaro e ao mesmo tempo descolar dele de maneira esperta. No final os objetivos são dois: obviamente conseguir êxito em seus pleitos eleitorais formando um novo grupo malandro e o outro é separar o presidente dos poucos que ele confia”.

Militantes que seguem alinhados com Bolsonaro já estão tentando jogar água nessa fervura e minimizar perdas de apoio. Em vídeo postado nesta quarta (5/1), o youtuber Lilo, que tem mais de 300 mil inscritos em seu canal de vídeos, postou uma análise intitulada “A lapidação final” e defendeu as concessões políticas feitas por Bolsonaro em seu abraço com políticos do Centrão.

“O presidente tem uma postura realista, ele faz e tenta o possível, o que a realidade permite. [Mas] existe uma ala conservadora, quase revolucionária, com soluções mágicas que não se adaptam à realidade, e por isso não funcionam. Por isso há esse grande atrito”, analisou ele.

Se não Bolsonaro, quem?
Os nomes mais midiáticos da extrema direita insatisfeita (ainda) não se atrevem a colocar-se como alternativa a Bolsonaro, mas perfis extremistas que estão mais na franja do movimento já começam a testar nomes. O militante que se identifica como Let’s Dex e que já foi ferrenho defensor de Bolsonaro está encabeçando campanha aberta pelo médico olavista Italo Marsili, que o grupo mais ideológico, quando ainda apoiava o governo incondicionalmente, tentou emplacar como ministro da Saúde, em meados de 2020.

O médico não refutou a possibilidade e expôs um apelo de Let’s Dex esta semana em sua conta no Instagram, onde é seguido por 1,6 milhão de pessoas. Veja:

A campanha pró-Marsili já conquista outros perfis conservadores nas redes, e circulam pela web comparações entre o médico e Bolsonaro, que se baseiam na ideia de que o presidente se vendeu ao sistema, mas a alternativa seria mais fiel ao “verdadeiro” conservadorismo. Tudo é tratado em tom de brincadeira e piada pela maioria dos perfis e pelo próprio Marsili, mas é importante lembrar que a comoção virtual em torno de Bolsonaro também teve o humor como componente essencial no começo. A mobilização, aliás, já causa protestos raivosos de perfis que seguem fiéis ao presidente e que não gostaram da “brincadeira”.

Entre as “vantagens” de Marsili apontadas por esses supostos conservadores estão ser católico praticante (e não flertar com outras religiões, como Bolsonaro) e o fato de o médico só ter filhos homens, nenhuma “fraquejada”.

Para o cientista político Sérgio Praça, professor e pesquisador na Fundação Getúlio Vargas (FGV), a degradação de sua base de apoio é resultado mais da falta de habilidade política de Bolsonaro do que de suas escolhas políticas. Para o especialista, seria possível ao presidente manter o apoio desses extremistas, até porque não há muitas alternativas para eles.

Apesar da verborragia nas redes, afinal, eles não têm conseguido sequer partidos dispostos a abrigar seu radicalismo. A tentativa de fazer do PTB o ninho de políticos como o militante Oswaldo Eustáquio, por exemplo, naufragou após a prisão do ex-presidente da legenda, Roberto Jefferson (justamente por ter exagerado na postura radical e, armado, ter ameaçado em vídeo ministros do Supremo).

“Bolsonaro é um péssimo articulador político, não sabe liderar negociações, não consegue fazer uma das coisas mais básicas da política, que é mediar conflitos entre aliados”, critica Sérgio Praça. “Esses aliados mais radicais poderiam se conformar se se sentissem de alguma maneira apoiados por Bolsonaro, mas eles acabaram apartados das articulações. Esse é o motivo de tantas confusões públicas: eles, que são todos muito individualistas e não têm vivência partidária, estão precisando se viabilizar por si mesmos. Aí complica”, completa o pesquisador, que aponta também a ambição por cargos majoritários como “pecado” dos radicais (ex) bolsonaristas.

“Outros agentes políticos identificados com essa ala ideológica e radical, como [as deputadas federais] Carla Zambelli e Bia Kicis, não estão se desgarrando nem se sentindo excluídas, pois atuam no Poder Legislativo, onde a disputa é bem menos ferrenha do que, por exemplo, o governo de São Paulo, estado mais rico do país”, conclui Sérgio Praça.

Metrópoles

 

 

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