Marido de Glenn Grennwald sai do PSOL atirando e adere a Ciro
Foto: Reprodução
O deputado federal David Miranda (RJ) compara os ataques que vêm sofrendo da esquerda desde que anunciou sua saída do PSOL rumo ao PDT, para apoiar o presidenciável Ciro Gomes, às táticas do bolsonarismo. Com a decisão, ele se distancia da pré-campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“É realmente muito triste ver militantes de esquerda adotando as mesmas táticas do bolsonarismo, inclusive disseminação de fake news, e comentários de viés racista e homofóbico muitas vezes. Nos faz pensar que talvez não seja apenas a direita que possua um gabinete do ódio”, afirma ele à coluna.
O parlamentar, que assumiu a cadeira com a renúncia de Jean Wyllys (então no PSOL, hoje no PT) no início de 2019, tornou pública a decisão de mudar de partido no último sábado (22). Uma das razões citadas por ele foi a tendência do PSOL de se aliar a Lula na corrida ao Planalto.
Miranda diz que desde então vem recebendo ataques virtuais, direcionados também a seu marido, o jornalista Glenn Greenwald. Uma das teses difundidas por detratores é a de que ele deveria estar alinhado ao antigo detentor do mandato, que trocou o PSOL pelo PT para apoiar o ex-presidente.
“Sou o titular do mandato conforme a legislação eleitoral determina, seguindo a ordem de classificação. Não ganhei meu mandato no Congresso por sorte ou loteria, mas porque tive o seguinte maior número de votos em um grande grupo de fortes candidatos do PSOL”, afirma Miranda.
Questionado se faria comentários sobre a migração do sucessor, Wyllys respondeu: “Nada além de desejar a ele boa sorte”. O agora petista estuda se candidatar a deputado federal por São Paulo, mas leva em conta na decisão as ameaças das “células fascistas e do bolsonarismo” que o fizeram se exilar.
Nas declarações à coluna, que ele preferiu fazer por escrito, Miranda atribui a série de críticas recebidas ao fato de ter escolhido ingressar não no PT ou em uma legenda aliada de Lula, mas em “um partido que tem candidato próprio que é crítico ao lulopetismo”, em referência ao PDT e a Ciro.
“Tenho críticas a todos os partidos —incluindo PSOL, PDT e PT—, mas não somos [eu e Glenn] inimigos de Lula e PT nem nunca fomos”, afirma.
Leia abaixo os principais trechos das declarações de David Miranda à coluna:
Respeito o Jean muito, mas não me comuniquei com ele sobre minha decisão de deixar o PSOL em março pois nem ele se encontra mais no PSOL (se filiou ao PT recentemente) nem há nenhuma obrigatoriedade legal que exija tal comunicação.
Desde que Jean decidiu se exilar —por causa de ameaças genuínas e horríveis à sua vida ao longo de muitos anos, que ninguém deveria ter que suportar—, eu sou o titular do mandato conforme a legislação eleitoral determina, seguindo a ordem de classificação.
Não ganhei meu mandato no Congresso por sorte ou loteria, mas porque tive o seguinte maior número de votos em um grande grupo de fortes candidatos do PSOL. É isso que algumas pessoas parecem não compreender, que não foi Jean não me escolheu para assumir seu mandato: eu era o mais votado depois dele e com uma diferença de votos nem tão significativa [Wyllys teve 24.295 votos, e David, 17.356].
Ninguém me presenteou com aquela cadeira no Congresso. Ganhei-a através do trabalho árduo da minha militância e eleitores. A realidade é que eu hoje sou titular do mandato de acordo com a legislação eleitoral em vigor. E tenho os mesmos direitos que todos os outros parlamentares —inclusive [Marcelo] Freixo, Túlio [Gadêlha], senador Fabiano Contarato— de trocar de partido de acordo com a lei.
Debate, discordâncias, disputas ideológicas e críticas não são apenas naturais, como são bem-vindas, necessárias e saudáveis ao jogo democrático. Ciro, por exemplo, é o único candidato que vive chamando os demais para o debate, para o enfrentamento de ideias.
Nós [eu e Glenn] sempre ouvimos e refletimos sobre as críticas respeitosas e construtivas, especialmente neste momento, e agradecemos às pessoas que as têm expressado, mesmo sem conseguir responder a todas elas.
Agora, existe uma diferença enorme entre discordar e atacar, criticar e ofender, debater e caluniar. E me parece que as pessoas se esqueceram dessas diferenças, especialmente nas interações no ambiente digital.
Esse comportamento sempre foi sintomático da direita, do autoritarismo, do bolsonarismo. O que preocupa é que agora pessoas politizadas, esclarecidas e de esquerda estejam adotando exatamente o mesmo comportamento: em vez de discutir projetos, propostas e ideias, atacam indivíduos, suas famílias, sua honra.
Eu e Glenn já estamos de certa forma “acostumados” aos ataques depois de tudo que enfrentamos com o caso Snowden e mais recentemente com a Vaza Jato. Cheguei perto de ser processado criminalmente sob uma lei corrupta de “antiterrorismo” do governo do Reino Unido em 2013 por meu trabalho na reportagem de Snowden.
Os insultos online não são nada comparados a isso. Mas, mesmo assim, é realmente muito triste ver militantes de esquerda adotando as mesmas táticas do bolsonarismo, inclusive disseminação de fake news, e comentários de viés racista e homofóbico muitas vezes. Nos faz pensar que talvez não seja apenas a direita que possua um gabinete do ódio.
Tenho críticas a todos os partidos —incluindo PSOL, PDT e PT—, mas não somos inimigos de Lula e PT nem nunca fomos. Glenn e eu trabalhamos duro contra o impeachment de Dilma. Fundamos The Intercept Brasil em 2016 para criar espaço para publicar a oposição ao impeachment, que —até hoje— considero um ataque à democracia.
Nossas vidas foram viradas de cabeça para baixo —inclusive [atingindo] nossos filhos— por causa do trabalho de Glenn para provar o comportamento corrupto de [Sergio] Moro na acusação de Lula. Por isso Lula é livre e petistas podem votar em Lula.
Não tenho nenhum problema com petistas ou qualquer outra pessoa criticando minha decisão de me filiar ao PDT por minhas convicções políticas, mas há uma diferença entre discordância e demonização.
Eu acredito que há uma confluência de diversos fatores que geram esse fenômeno: o desespero pela superação da política genocida de Bolsonaro; a construção da figura de Lula como figura messiânica/salvadora, portanto “incontestável” —reforçada por sua prisão ilegal, da mesma forma que a facada reforçou essa imagem para Bolsonaro; e até mesmo a lógica do identitarismo que perpassa não apenas os marcadores de raça, sexo, gênero e orientação sexual, mas agora também de afiliação política.
Parece-me que a afiliação a este ou àquele partido, o apoio a este ou àquele candidato, e não mais a defesa dos projetos, ideias e valores em si, passaram a integrar a ideia de identidade das pessoas. E isso é muito problemático.
Partidos e líderes falham, mudam. A história já mostrou isso. Devemos nos manter fiéis às nossas convicções. No PSOL eu estive alinhado ao MES (Movimento Esquerda Socialista), corrente interna do partido que sempre foi a mais crítica ao PT e a Lula. Portanto, minha decisão de sair do PSOL em março e ir para o PDT é, na verdade, coerente com o posicionamento que sempre assumi.
Quem está mudando de posicionamento nesse sentido é o PSOL, e não eu. Respeito a decisão dos atuais companheiros, mas discordo dela, e portanto me retirarei, não porque eu mudei, mas porque o partido está mudando em uma direção que não concordo em seguir.
Obviamente, eu também amadureci em diversos posicionamentos por conta do acúmulo de experiências e aprendizados, mas meus valores e convicções fundamentais permanecem os mesmos.
As críticas e ataques que temos recebido não são tanto pelo fato de eu estar saindo do PSOL, mas, sim, pelo fato de não estar indo compor os quadros do PT ou de partidos da base aliada do PT, e, sim, indo para um partido que tem candidato próprio que é crítico ao lulopetismo.
Afinal, eu não fui o único parlamentar a anunciar troca de partido recentemente. O próprio Freixo, que também compunha o PSOL, migrou para o PSB ainda em 2021, portanto fora da janela partidária, e não recebeu as mesmas críticas e ataques que eu tenho recebido —já que o PSB será aliado do PT. A janela partidária existe justamente para permitir esse tipo de movimentação.
Entendo as críticas, mas as regras eleitorais são válidas para todos, independentemente da concordância ou discordância ideológica de algumas pessoas.
Assinatura
CARTA AO LEITOR
O Blog da Cidadania é um dos mais antigos blogs políticos do país. Fundado em março de 2005, este espaço acolheu grandes lutas contra os grupos de mídia e chegou a ser alvo dos golpistas de 2016, ou do braço armado deles, o juiz Sergio Moro e a Operação Lava jato.
No alvorecer de 2017, o blogueiro Eduardo Guimarães foi alvo de operação da Polícia Federal não por ter cometido qualquer tipo de crime, mas por ter feito jornalismo publicando neste Blog matéria sobre a 24a fase da Operação Lava Jato, que focava no ex-presidente Lula.
O Blog da Cidadania representou contra grandes grupos de mídia na Justiça e no Ministério Público por práticas abusivas contra o consumidor, representou contra autoridades do judiciário e do Legislativo, como o ministro Gilmar Mendes, o juiz Sergio Moro e o ex-deputado Eduardo Cunha.
O trabalho do Blog da Cidadania sempre foi feito às expensas do editor da página, Eduardo Guimarães. Porém, com a perseguição que o blogueiro sofreu não tem mais como custear o Blog, o qual, agora, dependerá de você para continuar existindo. Apoie financeiramente o Blog
FORMAS DE DOAÇÃO
1 – Para fazer um depósito via PIX, a chave é edu.guim@uol.com.br
2 – Abaixo, duas opções de contribuição via cartão de crédito. Na primeira, você contribui mensalmente com o valor que quiser; na segunda opção, você pode contribuir uma só vez também com o valor que quiser. Clique na frase escrita em vermelho (abaixo) Doação Mensal ou na frase em vermelho (abaixo) Doação Única
DOAÇÃO MENSAL – CLIQUE NO LINK ABAIXO
https://www.mercadopago.com.br/subscriptions/checkout?preapproval_plan_id=282c035437934f48bb0e0e40940950bf
DOAÇÃO ÚNICA – CLIQUE NO LINK ABAIXO
https://www.mercadopago.com.br/subscriptions/checkout?preapproval_plan_id=282c035437934f48bb0e0e40940950bf