Ministro da Fazenda de Lula será… Lula!

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Foto: Domingos Tadeu/PR/Reprodução

Semanas atrás, o jornal Folha de S. Paulo procurou a assessoria do ex-presidente Lula da Silva pedindo que indicasse alguém para escrever artigo sobre a plataforma econômica do candidato. Os petistas pensaram inicialmente em fazer que o texto fosse assinado por uma dupla ou uma miríade de assessores, de forma a não destacar nenhum em especial e dar a impressão de que o candidato já tenha um ministro escolhido. Até que o próprio Lula decidiu que o autor seria o seu ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. Ministro mais longevo da história democrática, Mantega assinou o texto publicado hoje por um motivo prosaico, de todos os economistas vinculados direta ou indiretamente a Lula, ele é dos poucos não está na lista dos eventuais ministros.

Mantega foi o rosto econômico do PT no seu auge (quando o País saiu da crise internacional de 2008 com poucos arranhões) e na decadência do PT (quando as maquiagens destroçaram a credibilidade fiscal e empurraram o País para a pior recessão da história). Compreensivelmente, no artigo da Folha ele fala mais da primeira experiência do que da segunda.

“O governo deve coordenar um ambicioso plano de investimentos públicos e privados, de modo a ampliar a infraestrutura e aumentar a produtividade, gerando muitos empregos. É necessário desenhar um programa de investimentos de longo prazo que dê sustentação ao crescimento e ao aumento da produtividade”, escreveu, como se estivesse nos tempos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC).

O artigo traz ainda uma novidade de nomenclatura. Sai a rejeitada Nova Matriz Econômica, defendida por Mantega a partir de 2012, e entra uma “política econômica social desenvolvimentismo”, supostamente um contraponto ao Neoliberalismo de Paulo Guedes/Bolsonro (que de liberal só tem o nome) e ao Novo Desenvolvimentismo de Ciro. É o rótulo adotado pelos jovens economistas da Unicamp para se opor ao industrialismo da velha guarda. Mas isso não garantiu o apoio da esquerda do partido, que atacou o texto das redes sociais por ter ignorado as questões ambientais e o desenvolvimento sustentável.

Líder folgado em todas as pesquisas e com mais de 20 milhões de votos de vantagem sobre qualquer adversário numa simulação de segundo turno, Lula tem zero motivos para antecipar o debate sobre que pretende fazer se for eleito. Primeiro porque se fizer isso agora tira o foco sobre a gestão de Bolsonaro, rejeitada por mais de 70% dos brasileiros segundo as pesquisas. Se a pandemia de Covid arrefecer ao longo do ano, a economia será o principal tema da campanha e só Bolsonaro tem a ganhar se o debate for sobre as ações a partir de 2023 e não as que precisam ser tomadas hoje, em 2022.

Segundo, e mais importante, o ex-presidente ainda não deu a atenção devida para a economia. A sua prioridade nos últimos meses é a de montar palanques nos Estados e hoje ele já tem candidatos vinculados a ele com chances reais de vitória em Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Sergipe e São Paulo. Também trouxe o ex-adversário Geraldo Alckmin para ser o seu vice e prepara uma aliança eleitoral de oito partidos. Só depois dessa amarração é que vem a economia.

Escolher Mantega como autor de um texto quase formal da sua campanha permite a Lula impedir a costumeira cizânia entre os ex-ministros Fernando Haddad, Aloizio Mercadante e Nelson Barbosa. Mas não por muito tempo. Depois do Carnaval, Lula vai apresentar um esboço de programa de governo já com as linhas mestras da economia.

Até março, vale tudo nas apostas sobre o programa eleitoral de Lula. Tem gente no mercado financeiro que, sem nenhuma base na realidade, espera um ministro da Fazenda nos moldes de Antonio Palocci, ortodoxo no fiscal e liberal no gasto social. Do outro lado, dirigentes como a presidente do PT, Gleise Hoffmann, tuitaram elogios à revogação da reforma trabalhista na Espanha e das privatizações na Argentina. “Já temos o caminho”, escreveu. Particularmente, acho que os dois lados vão se desapontar. Num gesto para a esquerda, um eventual governo Lula vai propor mudanças na reforma trabalhista, mas vai gastar seu capital político em ajudar a formalização dos milhões de trabalhadores informais. E quantas privatizações… bem, é preciso que Paulo Guedes privatize algume coisa para ela ser reestatizada depois.

Lula não terá um superministro seja da Fazenda seja de qualquer outra pasta porque, se vencer a eleição, a vitória será dele, não de nenhum assessor. Se for eleito, tomar posse e começar a governar (sequência de atos que sob Bolsonaro deixaram de ser óbvios), Lula vai ser ele mesmo o seu ministro da Fazenda.

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