Debilidade eleitoral de Doria deve afundar o PSDB

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Depois de governar o país por oito anos e colecionar avanços nas áreas econômica e social nos já distantes tempos de Fernando Henrique Cardoso, o PSDB vem insistindo em um roteiro cujo final trágico já é conhecido: derrota nas urnas e o encolhimento do tamanho da bancada no Congresso. Tal enredo corre o risco de se repetir neste ano, com requintes de crueldade. Já se sabia que seria necessário um tempo para reconstruir o ninho tucano após o tumultuado processo de escolha do candidato ao Palácio do Planalto. As prévias eleitorais inéditas da sigla custaram perto de 10 milhões de reais (pagas com dinheiro público, é bom lembrar) e foram concebidas como um passo importante para devolver ao PSDB um papel de protagonismo da política nacional. Passados menos de três meses da escolha do vencedor, o governador paulista João Doria, as fissuras internas estão longe de serem resolvidas.

Em um misto de suicídio político temperado à base de interesses paroquiais e rivalidades antigas, alas minoritárias da sigla, porém barulhentas, iniciaram campanha para desistir de uma candidatura presidencial própria, enquanto a própria campanha de Doria ainda mal começou. Inimigos externos interessados em inviabilizar qualquer chance de decolagem de um nome da terceira via engrossam esse movimento. No Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, há uma tentativa de apaziguar os ânimos e de reagir aos ataques abaixo da linha da cintura, tudo isso em meio ao desafio de convencimento dentro do PSDB e de aliados de que a empreitada Doria, hoje ainda em posição para lá de modesta nas pesquisas, pode se mostrar viável até o meio do ano. O difícil vai ser ultrapassar o momento atual, de forte turbulência.

A equipe ao redor do governador paulista já esperava que alguns dos velhos nomes da legenda pudessem criar confusão no horizonte no lugar de trabalhar pelo partido, mas o barulho está sendo acima do tom. Um dos expoentes da atual crise é justamente aquele que garantiu respeitar o processo das prévias, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, candidato derrotado por Doria na disputa de novembro do ano passado. No embate, o político gaúcho de 36 anos já havia chamado atenção pela imaturidade, propondo o adiamento do processo em meio a problemas técnicos com o aplicativo de votação e ameaçando judicializar o resultado. Em uma tentativa de armistício sugerido pela ala vitoriosa, foi convidado para fazer parte da campanha presidencial de Doria, mas recusou de bate-pronto.

No início deste mês, participou do que Doria classificou de “jantar dos derrotados” — um encontro de tucanos que se opõem à candidatura própria e defendem que o partido busque outros nomes à Presidência. Nos últimos dias, vem dando sinais contraditórios a respeito do seu futuro político. Primeiro, em um evento realizado em seu estado e que contou com a presença do presidente do PSDB, Bruno Araújo, teria garantido mais uma vez que não estava de malas prontas para sair do ninho tucano. Mais do que isso: na versão do encontro difundida internamente por Araújo, Leite estaria disposto até a voltar atrás na sua decisão de não concorrer à reeleição no Rio Grande do Sul. Isso resolveria o problema da falta de um sucessor competitivo no estado e, de quebra, garantiria a Doria um palanque forte em terras gaúchas. Dias depois, no entanto, Leite encontrou-se com Gilberto Kassab, e recebeu dele a proposta para abandonar os tucanos e concorrer à Presidência pelo PSD. Leite nega o que teria dito a Bruno Araújo e parece agora fortemente inclinado a aceitar o convite de Kassab, que age de forma ostensiva para tumultuar o espaço da terceira via na disputa presidencial, de olho em um acordo com Lula e o PT (veja a reportagem na pág. 34). Há ainda no PSDB quem duvide da possibilidade de uma traição de Leite, com a agravante de que o movimento desastrado pode fulminar precocemente uma carreira promissora. Só que algumas alas mais realistas do partido dão como iminente a saída do gaúcho.

Dentro do PSDB, Leite é justamente bem próximo do grupo de políticos que têm um dom de fomentar marolas internas absolutamente desproporcionais à capacidade de angariar votos. Espécie de capitão informal do núcleo, o ex-senador Aécio Neves, que chegou muito perto de conquistar a Presidência na disputa contra a petista Dilma Rousseff em 2014, teve de se contentar nas últimas eleições em concorrer a uma vaga por Minas Gerais na Câmara dos Deputados, num reconhecimento implícito de que suas aspirações maiores na política ficaram irremediavelmente comprometidas depois da gravação na qual aparece pedindo 2 milhões de reais a Joesley Batista, da JBS. Aécio repete agora com Doria a mesma traição que fez com todos os candidatos tucanos à Presidência desde 2002 (com exceção de 2014, claro). A diferença é que antes ele controlava uma parte do eleitorado mineiro. Agora usa sua habilidade política apenas nos bastidores.

Outro nome do grupo dos “derrotados” é o do senador cearense Tasso Jereissati, tucano que, durante a maior parte de sua carreira, atuou como apêndice do grupo político encabeçado por Ciro Gomes. Nas prévias, Tasso apoiou Leite, em um movimento que no fim serviu apenas para mostrar seu isolamento regional no partido: suas bancadas na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa do Ceará apoiaram Doria. Por fim, há ainda José Anibal, um auxiliar histórico dos tucanos paulistas que, apesar da falta de votos, defendia os interesses da legenda. Seu fígado, porém, tem obnubilado suas decisões neste pleito. Anibal é adversário de Doria desde que o governador concorreu às prévias para a prefeitura de São Paulo, em 2016, quando apoiou a candidatura de Andrea Matarazzo para o cargo.

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