Fanáticos religiosos comparam Bolsonaro a Jesus por obra de Lula
Foto: Alan Santos/PR
Em solenidade de entrega de obras da transposição do rio São Francisco no Rio Grande do Norte, o presidente Jair Bolsonaro foi comparado a Jesus por levar água ao Nordeste. Rodeado de ministros, prefeitos, deputados e vereadores e apoiadores em um palanque, ele fez um discurso a apoiadores vestindo verde e amarelo com fortes críticas ao PT e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu principal rival nas eleições presidenciais de outubro.
Os comícios eleitorais estão liberados somente a partir de 16 de agosto, segundo o calendário definido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas o evento desta terça, na cidade de Jardim de Piranhas, foi marcado por características similares às de um evento de campanha, com claque na plateia, vídeos emotivos e músicas similares a jingles para enaltecer o presidente.
Foi justamente em uma canção, tocada na sanfoma por José Amazan (PSD), músico e prefeito de Jardim do Seridó (RN), que Bolsonaro foi comparado a Jesus Cristo, ou “messias”, em um trocadilho com um de seus sobrenomes – o nome completo do presidente é Jair Messias Bolsonaro.
“Essa água é a libertação de uma gente cansada de sofrer. O senhor fez a vida renascer. Igualmente aconteceu em Israel: para brotar água, leite, pão e mel, precisava de um Messias para fazer”, dizia a letra da música entoada por Amazan momentos antes de o presidente discursar.
Bolsonaro pretende concluir a transposição do Rio São Francisco neste ano. A obra, idealizada durante o império em meados do século XIX, começou a sair do papel no o governo Lula, em 2007, e atravessou as presidências de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), até desembocar na atual gestão.
Com sua entrega, Bolsonaro espera cativar ao menos parte do povo do Nordeste, bastião petista onde o presidente enfrenta uma rejeição maior do que a média.
Segundo o mais recente levantamento do Datafolha, de dezembro, os moradores da região são os que mais reprovam governo Bolsonaro, com taxa de 58%, em comparação a uma média nacional de 53%. O Datafolha mostrou Lula com 58% das intenções de voto e Bolsonaro com 22%.
Outras pesquisas, divulgadas mais recentemente, também apontam para esse quadro.
“Essa transposição foi prometida para 2010, depois passou para 2012 e parou. Assumimos em 2019 e vamos concluir as obras”, disse Bolsonaro. “E essa obra é a principal, porque água é vida.”
Bolsonaro relembrou os escândalos de corrupção do governo petista, dizendo que, somados todos eles, seria possível fazer cem transposições do Rio São Francisco.
“Esse pessoal se une agora. Quer voltar ao poder para voltar a roubar. E as cifras são fantásticas. Já dividiram ministério, já lotearam estatais, já sortearam bancos estatais. O Brasil pode fazer muito, basta seus governantes não roubarem”, afirmou.
O discurso de Bolsonaro foi precedido também por falas dos ministros Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Fábio Faria (Comunicações). Ambos são pré-candidatos ao Senado pelo Rio Grande do Norte (leia texto nesta página). Em suas falas, eles prometeram se unir para reeleger Bolsonaro e evitar a reeleição da governadora petista.
Quem também discursou foi o ex-senador Magno Malta (PL-ES), pastor evangélico e baiano de nascimento, que pediu os votos dos nordestinos para o presidente.
“Precisamos reconduzir esse homem ao poder, à reeleição. Depois dele, outro conservador e depois outro conservador”, afirmou.
Na tentativa de cativar os nordestinos, Bolsonaro participou ainda de uma “jeguiata” (passeio de jegue) em Jardim de Piranhas. O presidente, entretanto, deixou-se fotografar em um cavalo branco.
Mais cedo, ele havia visitado as obras da Barragem de Oiticica no município de Jucurutu, considerada a porta de entrada das águas do Rio São Francisco no Rio Grande do Norte. Apesar de inaugurar a obra, a barragem ainda não pode ser utilizada porque há um impasse com famílias que moram na região e resistem em se mudar.
Bolsonaro culpou o governo estadual, comandado pela petista Fátima Bezerra, pelas dificuldades para entregar completamente o trecho da transposição no Rio Grande do Norte. Segundo ele, a governadora tem feito “gestão” para que algumas famílias não aceitem deixar suas casas em áreas que serão inundadas.
“Falta tirarmos 12 famílias que estão aí para cima do rio que vai ser inundado. E por que não saem de lá? Gestão do governo do Estado, que é contra isso”, afirmou. “Para essas famílias, já temos casa. Em função disso, são prejudicadas mais de 300 mil pessoas, que não têm acesso à água. Vamos vencer isso porque temos Ele (Deus) ao nosso lado.”
Em nota, segundo o jornal “Tribuna do Norte”, o governo do Rio Grande do Norte afirmou que “as informações divulgadas no vídeo são inverdades e mostram, tanto da parte do presidente da República quanto do seu assessor, o total desconhecimento sobre as questões relacionadas ao Complexo Oiticica, especialmente, sobre os contextos sociais existentes”
Em Jucurutu, Bolsonaro discursou em outra cerimônia com cara de comício eleitoral.
Em tom exaltado, o presidente voltou a atacar decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e criticar adversários políticos.
“Não tem do que me acusar. Não é democrata… Eu não prendi nenhum deputado, eu não desmonetizei página de ninguém, não ameaço ninguém”, afirmou, fazendo referência a medidas adotadas pelo ministro Alexandre de Moraes no âmbito de inquéritos que investigam propagação de fake news e ataques à democracia. “O povo é meu juiz, se eu estiver fazendo algo de errado, vocês vão me falar”.
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