Acusado da morte de Marielle acusa miliciano bolsonarista morto

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Foto: Alexandre Brum/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

Na contramão das conclusões da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio de Janeiro, o policial militar reformado Ronnie Lessa, réu pelos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, alega inocência – como era previsível – e acusa o ex-capitão da PM Adriano Magalhães da Nóbrega de ser o intermediário do crime. Morto pela polícia da Bahia em fevereiro de 2020 em circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas, Adriano teria, na versão de Lessa, posto o seu grupo, conhecido como o Escritório do Crime, para realizar o duplo homicídio. “Tenho praticamente certeza de que ele atuou como intermediário. O Adriano já estava num patamar que não entrava mais num carro para dar tiro em ninguém. É um cara que tinha dinheiro e ganhava de tudo quanto é jeito”, afirma em entrevista exclusiva a VEJA, feita por videoconferência e autorizada pelo Supremo Tribunal Federal.

O interno 33 do Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, para onde foi transferido em dezembro de 2020, vai mais além: “O Adriano tinha um time, que é o time do tal do Escritório do Crime, violentíssimo, que matava pessoas à luz do dia, dentro de hotel, em qualquer lugar.” Durante a entrevista, Lessa declarou que essa informação foi fortemente ventilada nos bastidores da Polícia Civil logo após o crime, que completa quatro anos sem um desfecho no próximo dia 14 de março. “No dia seguinte se comentava que era o Escritório do Crime, isso é fato. O Rio de Janeiro todo dizia isso: ‘Pô, dessa vez eles vão rodar’. Eles eram matadores profissionais, isso aí era a vida deles. Foi uma missão mesmo”, argumenta. Contudo, tanto a polícia quanto o MP fluminense descartam a participação do grupo de milicianos e matadores de aluguel no atentado contra a vereadora e seu motorista.

Em sua autodefesa, Lessa ainda enfatiza que jamais pertenceu ao Escritório do Crime. No entanto, em um depoimento prestado em agosto de 2018 ao Ministério Público Federal, o miliciano Orlando da Curicica, primeiro nome que surgiu como suspeito do duplo homicídio, afirmou que a “turma do Lessa” fazia parte do consórcio criminoso. O PM reformado, preso desde março de 2019, conta que desde 2016 não mantinha qualquer contato ou tipo de relação com o ex-capitão Adriano. “Eu tive que vender uma academia (na comunidade de Rio das Pedras, Zona Oeste do Rio) que valia pelo menos 2 milhões de reais por 500 000 reais porque tentaram me empurrar uma sociedade. Ele (Adriano) foi quem me mandou o recado”, afirma. Na sequência, dá mais detalhes: “O Adriano queria ser meu sócio. Por quê? Para lavar dinheiro. Eu não queria ser sócio de ninguém, aí começou o segundo problema com Adriano.” Enquanto discorria sobre o ex-capitão, Lessa contou que Adriano matou em 2011 seu amigo, o bicheiro José Luiz de Barros Lopes, o Zé Personal, casado com Shanna Garcia – filha do bicheiro Waldomiro Garcia, o Maninho. Ali teriam começado as desavenças entre os dois, segundo ele.

Segundo Lessa, diante da investida do ex-capitão em sua academia, que ficava numa área controlada pelos milicianos do Escritório do Crime, teve que deixar o local às pressas. Embora fosse famoso por ser um policial destemido e exímio atirador, ele narrou durante a entrevista, a primeira que concedeu à imprensa, seu receio de ser morto naquela época por Adriano. “Saí dali correndo, não ia pagar para ver. Divulguei para todo mundo ouvir, inclusive, que tinha me separado da minha mulher porque precisava parecer que estava longe. Fui morar em Saquarema e em Cabo Frio”, revela.

Apesar dos seus argumentos para incriminar Adriano, o MP do Rio segue convicto da culpa do sargento reformado. De acordo com o promotor Bruno Gangoni, que chefia o Grupo de Atuação Especial de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), com base nos elementos probatórios levantados, há a convicção de que o interno 33 será condenado. Lessa vai a júri popular no Tribunal do Rio, ainda sem data marcada para acontecer.

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