Caetano vai liderar indígenas e artistas contra Bolsonaro
Foto: Rebeca Borges/Metrópoles
A redução das restrições impostas pela pandemia de coronavírus e o aumento da fervura política à medida que se aproximam as eleições formam uma mistura explosiva pra o presidente Jair Bolsonaro (PL), que será alvo de protestos com potencial de repercussão nas próximas semanas.
Milhares de indígenas e um grupo de artistas e ativistas liderados por Caetano Veloso virão a Brasília pressionar o Congresso, mas também apontam seus discursos contra o presidente da república. Ao mesmo tempo, servidores federais inconformados com a previsão de reajuste apenas para policiais ameaçam o governo com greves.
As manifestações que pretendem ocupar Brasília começam nesta quarta-feira (9/3). É para quando está marcado o Ato em Defesa da Terra, no qual Caetano Veloso, Alessandra Negrini, Daniela Mercury, Malu Mader e representantes de movimentos sociais, como o MST, vão pressionar os parlamentares pela derrubada de projetos de lei que afrouxam medidas de proteção ambiental e são prioridade do governo Bolsonaro.
Atenção, pessoal! O mundo está em guerra e diante de tão graves ameaças à vida e ao meio ambiente, está na hora da gente se manifestar! pic.twitter.com/kYZjPlXK4y
— Caetano Veloso (@caetanoveloso) March 4, 2022
“Acho que o Brasil tem de tornar os atos do poder público igualitários e criativos e parar com o deslumbre pelas forças privadas. Precisa curar-se do delírio neoliberal. O governo que temos agora não tem paralelo com a ditadura, tem saudade dela, paixão pela deformação do poder público. É o avesso do que devemos ser”, disse Caetano, em entrevista recente ao Metrópoles, mostrando o espírito de luta que pretende trazer à capital para combater o que os ativistas chamam de “pacote da destruição ambiental“.
Também nesta quarta, servidores do Tesouro Nacional e da Controladoria-Geral da União (CGU) marcaram uma paralização exigindo reajuste salarial. Na quinta (10/3), servidores do Banco Central prometem parar pelo mesmo motivo. E a ameaça é de uma greve geral por tempo indeterminado a partir do dia 23.
Bolsonaro irritou o funcionalismo federal ao separar verba para corrigir perdas salariais apenas de policiais federais, policiais rodoviários federais e agentes penitenciários da União. Ainda não confirmou os aumentos, mas também não os descartou. Essas e outras categorias planejam um calendário de atos e paralisações para as próximas semanas e ameaçam com um greve nos moldes da de 2012, contra o governo Dilma Rousseff (PT), na qual houve uma longa paralisação unindo diversos sindicatos.
Determinado na intenção de conceder o aumento a categorias que compõem sua base política quando fala em privado com seus representantes, Bolsonaro mantém um discurso ambíguo em público. No início de fevereiro, disse que a “grita geral” de servidores poderia obrigar o governo a recuar.
“Se houver entendimento por parte dos demais servidores, [sei] que alguns ameaçam greve e etecetera, a gente pretende conceder a recomposição aos policiais federais, rodoviários federais e agentes penitenciários”, disse Bolsonaro, em entrevista à TV Brasil, que é estatal. “Se não houver entendimento, a gente lamenta e deixa para o ano que vem”, completou ele.
No início de abril, entre os dias 4 e 8, o governo terá de lidar com uma mobilização estimada em oito mil indígenas de 160 etnias, que vêm para o 18º Acampamento Terra Livre.
Os indígenas também vão protestar contra retrocessos na legislação ambiental e pedir a volta da demarcação de suas terras originárias – pauta a que Bolsonaro se opõe sempre que pode. Os representantes indígenas pretendem lutar também contra a vontade do governo de acelerar a votação de projetos de lei que possibilitem a mineração em terras indígenas, assunto que ganhou força com a crise no abastecimento de fertilizantes que pode vir como reflexo da guerra entre Rússia e Ucrânia.
No acampamento do ano passado, os indígenas tinha como pauta principal pressionar no julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) do caso de repercussão geral sobre demarcação de terras tradicionais. Houve, no entanto, embates com o governo e críticas de lado a lado, como quando o presidente reagiu a um ato em frente ao Palácio do Planalto em que foram queimados caixões: