Disputa pelo governo de Alagoas opõe Lula e Collor
Foto: Alan Santos/Presidência da República/Ricardo Stuckert/Instituto Lula/Arte CNN
A disputa pelo Senado em Alagoas deve colocar frente a frente dois dos sobrenomes mais famosos da política local: Collor e Calheiros.
O filho do atual senador Renan Calheiros — o governador Renan Filho (MDB) — deve disputar a única vaga ao Senado pelo estado em outubro.
Já o senador Fernando Collor (Pros) deve lutar pela reeleição, após renovar o mandato em 2014, quando obteve 55,7% dos votos, quase o dobro da então segunda colocada, a ex-senadora Heloísa Helena (Rede).
O desempenho de Renan Filho
À frente do Palácio República dos Palmares desde 2015, o chefe do Executivo alagoano tem, além da boa avaliação entre eleitores, uma rede de apoio de prefeitos aliados ― herdada em boa parte pela relação do seu pai.
Prova da força de Renan Filho veio em 2014, quando ele venceu a reeleição com 77,3% dos votos válidos, ainda no primeiro turno.
Apesar da proximidade do fim do prazo legal para deixar o cargo, Renan não assume que vai deixar o governo para a disputa ao Senado.
“Estamos avaliando a decisão de colocar meu nome ou não nas eleições. O MDB está decidindo se serei candidato à eleição de senador”, disse na semana passada.
Deputados estaduais e cientistas políticos ouvidos pela CNN concordam com a forte possibilidade de Renan Filho concorrer para o senado. Procurado pela CNN, o governador não respondeu aos pedidos de entrevista.
Collor e todos os presidentes
Collor hoje é aliado de Bolsonaro. Desde que se tornou senador, colou em todos os presidentes: foi aliado de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, mas votou pelo impeachment da petista, “abraçando” Michel Temer (MDB). Sem fortes apoios locais, Collor se aproximou de Jair Bolsonaro.
No início de março, por exemplo, esteve com o ministro do Turismo Gilson Machado em Coqueiro Seco, na grande Maceió, inaugurando a reforma de uma igreja histórica.
Machado foi enfático ao defender Collor — assim como fez Bolsonaro quando visitou Alagoas. “Quero ser testemunha do trabalho que ele tem feito pelo turismo brasileiro na comissão do Senado. Ele é referência mundial no turismo”, disse.
Nas costuras, porém, não está decidido quem vai dividir o palanque com o senador.
“Collor tem uma trajetória de político solo, não é partidário nem orgânico. É a típica árvore que só faz sombra para ele mesmo. Por isso, ele tem dificuldades em criar grupos e é difícil fazer previsão de palanque antes dos arranjos de partidos e federações definidos”, diz o cientista político Ranulfo Paranhos, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
Segundo especialistas ouvidos pela CNN, há a possibilidade de apoio de outro nome de peso da política alagoana: o do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, que rivaliza com os Calheiros no comando de grupos locais.
“Arthur Lira aprendeu a esperar para tomar a decisão no momento certo. Hoje, essa decisão tem de olhar o Brasil inteiro. E, no caso de Alagoas, ele tem olhares muito pragmáticos para o governo”, diz Paranhos.
A CNN procurou Fernando Collor para comentar as costuras sobre a disputa eleitoral em Alagoas, mas não obteve retorno até a conclusão desta reportagem.
Já Renan Filho conta com a proximidade e o apoio declarado à candidatura do ex-presidente Lula. Ele e o pai defendem que o MDB apoie o petista já no primeiro turno.
Entretanto, sem saber se o MDB nacional vai ficar neutro ou lançar candidato, Ranulfo Paranhos vê a força local como um diferencial dos Calheiros.
“O Renan Filho é o oposto de Collor: pertence a um grupo muito forte, que herdou do pai e do MDB, que tem 38 prefeituras ― mas quando se soma com alianças, vai para umas 50. São 102 municípios em Alagoas”, afirma.
“Sobre Lula, vamos ver se haverá proibição legal de usar a imagem. Mas, se puder, para o Renan, seria uma vantagem”, pontua o cientista político.
As últimas eleições em Alagoas mostram que Collor é um político que não deve ser subestimado. Em 2006, por exemplo, após ostracismo de 14 anos depois do impeachment de 1992, ele assumiu a candidatura ao Senado a 28 dias da eleição e venceu Ronaldo Lessa, governador reeleito que havia renunciado para a disputa e era franco favorito à vaga.
Para a cientista política Luciana Santana, professora da Federal de Alagoas, o contexto político atual é diferente de 2006. “Hoje, ele tem muito menos apoiadores do que na última eleição, em 2014, por exemplo. É, atualmente, um fiel escudeiro do presidente Bolsonaro e tenta utilizar dessa cartada para angariar o eleitorado. O problema é que, quando a gente olha para as pesquisas de presidente em Alagoas, Lula tem mais de 60%”, afirma.
“Ele tem mantido sua candidatura, mas não significa que essa candidatura vai decolar. Acredito que ela não vai se manter até o início do registro das chapas. Dificilmente ele vai conseguir repetir 2006 e ser um fenômeno eleitoral”, pontua Luciana, ao levantar a possibilidade de uma candidatura de Collor para a Câmara dos Deputados.
Próximo governador poderá ser eleito indiretamente
Com a possível saída de Renan Filho, tem início outro xadrez político: a definição de quem assumirá o resto do mandato de governador.
Como Alagoas não tem um vice-governador, já que Luciano Barbosa (MDB) renunciou em 2020 e se elegeu prefeito de Arapiraca (segundo maior município do estado), quem assumirá o cargo até o final de 2022 será o vencedor de uma eleição indireta que a Assembleia Legislativa fará para o mandato-tampão até 31 de dezembro.
Nesse caso, um nome considerado forte para a eleição indireta é do deputado estadual Paulo Dantas (MDB). Ex-prefeito de Batalha, no sertão alagoano, Dantas é figura em eventos oficiais, nos quais o governador fala em tom de despedida.
Há negociações políticas para que Dantas seja eleito indiretamente na Assembleia Legislativa e concorra à reeleição. A certeza sobre o acordo é tanta que até nomes de futuros secretários ele já citou em entrevista.
Dantas não é uma escolha só do grupo dos Calheiros, mas do chamado “grupão” da assembleia, formado por mais de 20 dos 27 deputados estaduais, comandado pelo deputado Marcelo Victor, cotado para ser presidente do União Brasil em Alagoas.
Outro pré-candidato ao governo na eleição indireta é João Henrique Caldas, o JHC (PSB), prefeito de Maceió. Entretanto, ele sinaliza que não vai deixar o cargo que assumiu no ano passado.
A tendência é que ele apoie o senador Rodrigo Cunha (PSDB), que, além de ser aliado de JHC, tem a mãe do prefeito, Eudócia Caldas, como primeira suplente.